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A “Super Terça-feira” e a perspectiva da reedição do duelo Joe Biden-Trump

Faustino Henrique

Jornalista

“Ainda é cedo, mas uma desforra entre Joe Biden e Donald Trump parece cada vez mais inevitável”, escreveu, há dias, o ABC News

05/03/2024  Última atualização 08H24
Para a nomeação, Joe Biden precisa de 1.439 delegados, do total de 3.979, e Donald Trump precisa de 1.215 de 2.429 © Fotografia por: DR
O calendário eleitoral norte-americano denomina o dia de hoje como "a Super Terça-feira”, data em que 15 estados realizam primárias e caucus (ver caixa sobre "diferença entre primárias e caucus”) para proceder à nomeação o candidato dos dois  maiores partidos políticos, nomeadamente o Democrata e o Republicano. Tratam-se dos estados do Alabama, Alasca, Arkansas, Califórnia, Colorado, Maine, Massachusetts, Minnesota, Carolina do Norte, Oklahoma, Tennessee, Texas, Utah, Vermont e Virgínia, além de um território não continental.

A nomeação de Joe Biden, ao que tudo indica, está já garantida, na medida em que, mesmo nos estados em que já ocorreram disputas para a nomeação, como a Carolina do Sul, o actual inquilino da Casa Branca foi bem sucedido em cimentar a sua posição, apesar do debate que se promove, relativamente à idade. As atenções concentram-se em Donald Trump, cujo confronto antiga embaixadora na ONU e ex-governadora do estado da Carolina do Sul, Nikki Haley, mesmo depois de derrotada "em casa”, decidiu seguir até à "Super Terça-feira”, procurando beliscar a consagração de Donald Trump que, para a nomeação, precisa de reunir 1.215 delegados de um universo de 2429, para ganhar a indicação republicana.

Para os democratas, 1.439 delegados de um total de 3.979 do partido estarão em jogo hoje, quando nada indica que Joe Biden venha a enfrentar adversários para a nomeação democrata.

De acordo com o site do dicionário Britânica, a frase "Superterça” surgiu, pela primeira vez, em 1980, quando três estados do Sul – Alabama, Flórida e Geórgia – realizaram as suas primárias no mesmo dia. Cresceu para nove em 1984. Deve-se notar que o domínio claro nas primárias da Superterça nem sempre resultou em vitórias nas eleições presidenciais.

 
Diferença entre primárias e caucus

OSegundo o site da Embaixada dos Estados Unidos na Tailândia, "o processo eleitoral começa com as eleições primárias e caucus. Esses são os dois métodos que os estados usam para seleccionar um potencial candidato presidencial. As eleições primárias e os caucus diferem na forma como são organizadas e em quem participa. E as taxas de participação variam amplamente de estado para estado”.

Os governos estaduais e locais determinam as datas em que as eleições primárias ou caucus são realizadas. Estas datas, assim como o período de tempo entre as eleições primárias e as eleições gerais, influenciam significativamente a forma como os primeiros candidatos começam a campanha e as escolhas que fazem sobre como e quando os fundos da campanha são gastos. No período que antecede as eleições presidenciais, as vitórias nas primárias, realizadas muito no início do ano eleitoral, como a de New Hampshire, podem influenciar o resultado das primárias estaduais posteriores.

Mas vale começar por distinguir uma da outra.

 
Primárias

As primárias são administradas por governos estaduais e locais. A votação acontece por voto secreto. Alguns estados realizam primárias em  sessões "fechadas”, nas quais apenas os membros declarados do partido podem participar. Nas primárias abertas, todos os eleitores podem tomar parte, independentemente da filiação partidária ou da falta de filiação, sendo igualmente um processo mais célere, contrariamente aos caucuses, em que as pessoas participam activamente, envolvendo um acto mais demorado.

 
Caucus

Caucus são reuniões privadas dirigidas por partidos políticos. Realizam-se a nível do condado ou distrito. Na maioria, os participantes dividem-se em grupos, de acordo com o candidato que apoiam. Ao final, o número de eleitores em cada grupo determina quantos delegados cada candidato conquistou.

Encerrada a fase das primárias e caucus, seguem-se as tão aguardadas convenções nacionais, ocasiões em que as duas principais forças políticas nos Estados Unidos reúnem delegados para, formalmente, designarem ou confirmarem os candidatos a Presidente e Vice-Presidente.

Convenções Nacionais

Cada partido realiza uma convenção nacional para selecionar um candidato presidencial final. Os delegados estaduais das primárias e caucus seleccionados para representar o povo irão, agora, "endossar” os candidatos favoritos, com o candidato presidencial final de cada partido a ser anunciado oficialmente no final das convenções. O candidato presidencial também escolhe um companheiro de chapa (candidato a Vice-Presidente). Os candidatos presidenciais fazem campanha em todo o país para ganhar o apoio da população em geral.

O Comité Nacional Democrata anunciou, em Abril do ano passado, que a cidade de Chicago vai sedear a Convenção Nacional Democrata de 2024, de 19 a 22 de Agosto, enquanto os republicanos irão a Milwaukee, estádio do Wisconsin, de 15 a 18 de Julho de 2024, para seleccionar, formalmente, o próximo candidato a Presidente  e Vice-Presidente.

 

Particularidade do caso Trump

Há dias, o jornal The New York Times escreveu que "à medida que o julgamento criminal de Trump se aproxima, ele pode ser o seu pior inimigo”, numa alusão ao caso judicial que envolve o ex-Presidente, que está agora na corrida e prestes a assegurar a nomeação republicana para disputar as eleições de Novembro de 2024.

Consta que, no ano passado, Trump foi indiciado quatro vezes e enfrentou três julgamentos civis. E, à medida que se aproxima o primeiro julgamento criminal do antigo Presidente, marcado para  25 de Março, o diário nova-iorquino diz que "se tornou claro que a única pessoa que representa o maior perigo para Donald Trump só pode ser Donald Trump. Em dois dos recentes julgamentos civis, o antigo Presidente ordenou aos seus advogados que se opusessem em momentos inoportunos, criticou os juízes e até saiu furioso da sala do tribunal. Ele perdeu os dois julgamentos e foi condenado a pagar mais de meio bilhão de dólares”.

Mas essas particularidades relacionadas com o potencial candidato republicano, paradoxalmente, estão a ter um efeito contrário na aceitação por parte do eleitorado, nas vitórias consecutivas em várias primárias de alguns estados, com clara vantagem sobre os adversários directos.

Para se ter uma ideia da complexidade da personalidade de Donald Trump, uma articulista  escreveu, nas páginas do The New York Times: "não é segredo que Trump não é um cliente fácil. Ao longo de cinco décadas, ele, muitas vezes, deixou de pagar advogados – ocasionalmente gerando acções judiciais – e passou a acreditar que sabe mais do que todos eles. Uma variável decisiva no julgamento criminal será se essa autoconfiança o levará a testemunhar.

No primeiro dos dois julgamentos civis que Trump perdeu para Jean Carroll, ele não testemunhou nem sequer compareceu, e um júri concluiu que ele tinha abusado sexualmente da senhora, na década de 1990, e, décadas mais tarde, a difamou quando ela o denunciou. Trump foi condenado a pagar 5 milhões de dólares”.


Biden e Trump reeditam 2020

"Ainda é cedo, mas uma desforra entre Joe Biden e Donald Trump parece cada vez mais inevitável”, escreveu, há dias,  o ABC News.

O The New York Times diz que " no dia 5 de Novembro, os americanos elegerão o seu próximo Presidente. Os principais candidatos serão, quase certamente, os mesmos de 2020. Joe Biden, o actual Presidente, não enfrenta nenhuma competição pela nomeação democrata. O seu antecessor no cargo, Donald Trump, praticamente venceu a republicana. Esta seria a primeira revanche em quase 70 anos. Depois de ter perdido as eleições anteriores, os apoiantes de Trump tentaram anular o resultado. Ele enfrenta acusações federais pela sua suposta participação nesse esquema, bem como três outros processos criminais”

Quanto à caracterização do consulado de Joe Biden, em comparação com Trump, o diário nova-iorquino diz que "a presidência de Biden foi definida por uma inflação elevada, grandes projectos de lei de política industrial e turbulências no exterior, no Afeganistão, na Ucrânia e no Médio Oriente. Ambos os homens são impopulares. A eleição será menos uma disputa de popularidade do que um referendo sobre qual homem os americanos consideram o mal menor”.

Por conseguinte, a "Super Terça-feira”  encerra o longo e complexo processo das primárias e caucus, formaliza os nomes das figuras, nas duas formações políticas predominantes na América, que vão às convenções para o formalismo da indicação como candidatos. Depois, seguem-se os debates televisivos e, finalmente, as presidenciais, no dia 5 de Novembro de 2024.

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