Reportagem

Águas Quentes do Alto Hama em total estado de abandono

Estácio Camassete | Huambo

Jornalista

O município do Londuimbali tem grandes e ricas zonas naturais, que estão relegadas ao abandono.

03/02/2024  Última atualização 13H15
© Fotografia por: JOAQUIM ARMANDO| EDIÇÕES NOVEMBRO | HUAMBO

O primeiro ponto visitado pelo Jornal de Angola é o das Águas Quentes do Alto Hama, na aldeia do Lombandje, a 13 quilómetros da comuna do Alto Hama, município do Londuimbali.

As Águas Termais encontram-se num total estado de abandono. Não foi possível apurar quem é o verdadeiro proprietário, que não faz e nem deixa fazer nenhum investimento naquela maravilha natural.

Segundo informações colhidas no local, bem ao lado havia uma fábrica de água mineral denominada "Águas do Hama”, muito concorrida na época colonial. A estrutura que acolhia as máquinas ainda permanece no local, aparentemente, em bom estado.

O espaço subaproveitado é constituído por várias piscinas feitas de pedras, onde os aldeões tomam banho e lavam a roupa, aproveitando a temperatura alta das águas que brotam da montanha e libertam um vapor permanente.

Segundo o guia turístico, Moisés Festo Jamba, as Águas Termais do Alto Hama são uma zona de lazer, que despertam a atenção dos turistas, que muitas vezes param no local e aproveitam pousar os pés, beber água ou ainda tomar um banho.

Moisés Festo Jamba disse que vive deste trabalho, visto que cada turista que ali chega recebe as informações sobre o historial do local e no final deixa algum valor monetário.

Por dia, o local é visitado em média por 15 turistas, mas nos fins-de-semana este número pode chegar até 40, o que permite a Moisés Festo Jamba arrecadar mais de 6 mil Kwanzas. Com esse dinheiro faz a limpeza do espaço e o restante serve para os seus gastos.

 Origem da água quente

 A fonte explicou que a água quente brota da montanha, tendo sido construído um reservatório de água quente, no interior de uma casota feita de betão, onde sai um tubo que tira a água aquecida para alimentar as piscinas de banho.

Bem ao lado da nascente de água quente existe, igualmente, outra fonte de água fria, que faz um contraste perfeito, que propõe a escolha dos banhistas que tipo de água utilizar.

A questão que mais intriga os turistas é a origem da água quente da montanha. O líquido é muito procurado, por, segundo algumas pessoas, ser medicinal. Há muitas pessoas com problemas de reumatismo e AVC, que são aconselhadas pelos médicos a colocarem os pés nas Águas quentes e encontram a solução da sua saúde, disse Moisés Festo Jamba.

Segundo o guia turístico, nas aldeias das imediações não existem queixas de reumatismo, porque as águas termais têm ajudado na cura.

Moisés Festo Jamba disse estar a cuidar apenas do local, mas desconhece o verdadeiro dono. Ainda assim, considera o espaço "património da aldeia”.

Nas imediações das Águas Quentes, existe um espaço de lavagem de viaturas. Os jovens que ali trabalham revelaram que a água com que lavam os carros, é também, morna. A água para o consumo dos populares é tirada, igualmente, quente.

 Local bom para visitar

 O turista Aram Saratiel, proveniente da província de Malanje, disse ser a quarta vez a visitar as Águas Quentes do Alto Hama, por ser um local bom para estar.

Sempre que passa naquele troço, sente a obrigação de parar por pelo menos duas horas, para colocar os pés na água, beber um pouco e levar alguns litros para consumir ao longo da viagem.

Considerou o local lindo, mas lamentou o estado de abandono. "Devia haver serviços de hotelaria e turismo aqui, para arrecadar receitas para os cofres do Estado”, sugeriu.

 Turismo em larga escala

 O administrador do município do Londuimbali, Marcos Blasco Cachassile, reconheceu que as Águas Termais, além de serem medicinais, podem promover o turismo em larga escala e criar emprego para a comunidade local. "As Águas Quentes não podem continuar nas condições em que se encontram. É necessário que o suposto dono, faça algo para que se crie um bom ambiente de turismo”, apelou.

O administrador acrescentou que esta é uma das áreas naturais que carece de investimento para a transformação em zona de atracção turística. "Se estivessem a funcionar em pleno, deviam contribuir para o crescimento da economia local e proporcionar emprego aos jovens”, sublinhou.

 Morro Moco

 O administrador do Londuimbali revelou que uma das preocupações da Administração está relacionada com a estrada que liga ao Morro Moco, o ponto mais alto de Angola, com 2.620 metros. O local dista a 17 quilómetros da vila comunal do Ussoque. A via em causa vai ser reabilitada, no quadro do Programa de Combate à Pobreza. As obras de reabilitação, com o pagamento inicial já feito, vão arrancar assim que as chuvas reduzirem, concretamente no mês de Abril.

Para além da reabilitação da estrada que dá acesso ao Morro Moco, que passa pela aldeia de Candjonde, a zona, segundo Marcos Blasco cachassile, tem um amplo projecto de arborização, que prevê a plantação, ao longo do percurso, de frutas como citrinos.

A empreitada vai contemplar a construção de balneários públicos e pontos de água potável ao longo do trajecto, bem como jangos com cadeiras para o descanso da caminhada, para que os turistas com destino ao ponto mais alto de Angola encontrem condições mínimas no local.

O responsável justificou que Londuimbali regista muita afluência de turistas nacionais e estrangeiros que visitam o morros e do Monte Luvili, bem como as Águas Quentes.

 O administrador apelou para os empresários a serem mais proactivos, investindo no turismo a nível do município, por possuir condições para o efeito.

 Águas frias

O Centro Turístico das Águas Frias também está localizado no Alto Hama. Este é propriedade de António Pereira, que promove o turismo rural desde 2007.

Segundo António Pereira, o espaço é uma antiga propriedade de família, onde o pai tinha investido numa moagem a moinho movido por água. Depois o local foi transformado em zona turística.

 O movimento de turistas no local é considerado baixo, em relação com os anos anteriores.

"Já tive dias melhores, com a chegada de muitos turistas. Actualmente, sirvo, por dia, não mais de 15 refeições, o que revela que as coisas não estão boas e com este fraco movimento, não garante condições de pagar os trabalhadores e manter os serviços funcionais”, desabafou.

O empreendimento, que também contempla uma zona de hospedagem com 11 quartos, antes tinha criado dez postos de trabalho, que agora ficaram reduzidos a quatro.

Para garantir a inovação no empreendimento, disse que tencionava recorrer a um crédito bancário, mas o banco solicitado exigia uma casa na cidade do Huambo como garantia, pelo que preferiu desistir, porque não tinha a casa para hipotecar.

 Monte Luvili

Localizado a 13 quilómetros da vila comunal do Alto Hama, município do Londuimbali, a 75 quilómetros da cidade do Huambo, o monte Luvili é uma referência no troço Huambo-Luanda.

O monte Luvili é conhecido pelos angolanos, porque está representado na nota de mil kwanzas da moeda nacional e é o segundo ponto mais alto da província, com uma altura de dois mil metros, pois, no seu topo, dá para observar vários pontos do Huambo.

No  passado, o monte  serviu como ponto de referência para muitos viajantes com destino para os reinos do "Mbalundu”, no Bailundo, "Wambu”, no Huambo, Sambo, na Chicala Cholohanga, Tchingolo, na  Caála e Tchiyaka, chinjenje.

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