Sociedade

“Cada doce vendido é uma afirmação da força e da resiliência feminina”

Yara Simão

Jornalista

Solândia Silva sempre se considerou uma mulher muito curiosa que gosta de aprender coisas novas todos os dias. “Minha mãe foi chefe de cozinha de um restaurante e aprendi muito com ela (risos). Por isso, acredito que o bicho da confeitaria é hereditário”.

30/03/2024  Última atualização 11H52
Solândia Silva sonha ser uma grande empreendedora © Fotografia por: DR
Os seus primeiros empregos foram na área de restauração e cozinha, trabalhou como empregada de mesa em restaurantes. Mas, o seu local favorito sempre foi a cozinha, nunca perdia uma oportunidade de aprender e ver como era confeccionado cada bolo ou cada sobremesa, começando a ter uma paixão pela pastelaria e a confeccionar bolos, sobremesas, salgados para o pessoal de casa e agradece a Deus por sempre obter nota dez.

Ao ficar grávida do seu primeiro filho, num relacionamento que não deu certo, viu-se obrigada a abandonar a universidade e arranjar um emprego. Cada emprego que arranjava o salário servia apenas para o táxi. Daí pensa em montar o seu negócio a partir de casa.

O tão esperado primeiro bolo com recheio de mousse de limão não estava bonito, mas era de um sabor inigualável, segundo a jovem confeiteira, garantindo que para os seus familiares, estava uma delícia, apesar da aparência e da falta de experiência.

Contudo, o bom sabor não era suficiente para Solândia que, inconformada com a decoração que não a agradava, se aprofundou em pesquisas na Internet, em busca da solução e do aperfeiçoamento. Decide correr atrás de seu sonho, a aprendiz de confeiteira garante que mesmo diante dos desafios da vida, encontrou o que a faz feliz.

"Quando comecei com a confeitaria, vi uma nova porta se abrindo para mim. No começo, foi bem difícil, pois eu não tinha experiência alguma, mas com os erros fui aprendendo e isso despertou ainda mais o interesse. Hoje, sonho em ter a minha própria confeitaria e doceria, e sei que esse dia irá chegar”, finalizou a jovem, que estava apenas a começar a fazer os doces e salgados para as festas das amigas e familiares, a fama começou a surgir e não mais parou.

Nem tudo é um mar de rosas

Mas como entre as rosas há espinhos, a jovem confeiteira não fica de fora das dificuldades para adquirir os produtos que a cada dia sobem, quer nos supermercados, quer nos mercados informais.

"Para mulheres como eu, que estão a começar nesta área, temos tido muitas dificuldades, porque, muitas vezes, vamos aos supermercados e até mesmo aos mercados informais com os nossos parcos dinheiros, e quase nada conseguimos comprar. Muitas desistem e o negócio vai mesmo à falência por falta de recursos que correspondam aos valores dos produtos nas prateleiras ou bancadas”.

Solândia conta que mesmo com essas dificuldades todas nunca pensou em desistir do seu sonho. Acrescenta que há dias que apareciam clientes que encomendavam muitos produtos e outras vezes poucos, mas que isso não foi motivo suficiente para parar, porém deu ainda mais força de continuar a dar o seu melhor, porque todos os dias o telefone toca.

A jovem empreendedora, que não pretende parar, revelou que o número de encomendas começou a crescer, e viu-se obrigada a fazer um curso profissional para aumentar os seus conhecimentos e melhorar o trabalho oferecido aos seus clientes.

Numa fase em que a vida lhe está a sorrir, Solândia começa um novo relacionamento e junto do parceiro decidem criar a empresa o "Sabor da Perfeição”, uma pastelaria que até ao momento funciona online, por estar em fase de construção. "Meu parceiro e eu decidimos abrir uma empresa, com toda a documentação e legalização. Apesar de ainda não termos um espaço físico, temos funcionado de forma online. Tenho feito as encomendas em casa mesmo e faço entregas naqueles casos em que o cliente não quer se deslocar”.

Apesar de ainda não conquistar e realizar todos os seus sonhos, a empreendedora é feliz com o que tem. "Em uma parte da minha vida, eu já me sinto realizada, por trabalhar com o que sempre sonhei. Poder fazer parte dos sonhos de outras pessoas, através de bolos e doces, é a minha maior felicidade. Adoçar o sonho de um casamento, um aniversário, bodas e diversas celebrações importantes não tem preço.” Enfatizou.

Do sonho à realidade

A jornada percorrida pela Solândia é mais do que o empreendedorismo. É sobre desafiar estereótipos de género e abrir espaço para outras mulheres. "O meu sonho sempre foi o de montar uma empresa com 100 por cento de mulheres, sobretudo, mães solteiras que desempenham dois papéis na sociedade. Quero sempre priorizar a contratação delas. A ideia é dar chance a elas sempre, dar oportunidade de trabalho”.

Essa priorização, frisou, reflecte não apenas a consciência das dificuldades enfrentadas pelas mulheres no mercado de trabalho, mas, também, o compromisso de promover a igualdade de oportunidades.

"Acredito muito no trabalho e na força feminina, pois sabemos que são as mulheres que fazem a diferença na sociedade, trazendo evolução para o mercado, competitividade. É um privilégio poder crescer e ajudar mais mulheres que queiram empreender”, ressalta a empreendedora.

Para Solândia Silva, cada doce vendido é uma afirmação da força e da resiliência feminina, uma prova de que, com determinação e apoio mútuos, é possível transformar sonhos em realidade, num chocolate de cada vez.

A jovem empreendedora aconselha as raparigas da sua faixa etária a não desistirem dos seus sonhos. "Eu acredito que a coisa no nosso país tem-se complicado cada vez mais, quer política, económica e socialmente. Mas, vamos sempre procurar alguma coisa para fazer a fim de podermos alimentar os nossos filhos. Não podemos cruzar os braços”.

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