Na cerimónia, presidida pelo ministro do Interior, Eugénio Laborinho, nas instalações do Laboratório Central de Criminalística do SIC, a família, incluindo a viúva e filhos, recebeu a urna, a certidão de óbito e o relatório de genética forense com a descrição de todo o procedimento realizado.

Os familiares receberam, ainda, além de um contínuo apoio da Comissão até ao funeral do malogrado, os cumprimentos de condolências dos membros da CIVICOP, do chefe do Serviço de Inteligência e Segurança do Estado, general Fernando Garcia Miala, e do director-geral do Serviço de Investigação Criminal (SIC), António Paulo Bendje, presentes no acto.

Eugénio Laborinho, que endereçou palavras de solidariedade e conforto à família, em nome do coordenador da CIVICOP, apelou à paciência e compreensão das famílias que aguardam pela conclusão dos seus processos, reafirmando o compromisso de se continuar a trabalhar com afinco para o tratamento dos casos ainda por dar resposta e um funeral digno.

"Os nossos agradecimentos à família enlutada, pela estimada colaboração que culminou com a descoberta do local onde foi sepultado e encontradas as ossadas do malogrado pelos grupos de trabalho da CIVICOP", disse, explicando que, apesar do passamento físico não ter resultado propriamente do conflito militar, a CIVICOP, por razões humanitárias, acolheu o pedido da família, a fim de realizar um funeral condigno ao general "Begin”, que acontece já no próximo dia 17 de Maio, na província do Bié, sua terra natal.

Ao dirigir-se aos presentes, o ministro do Interior disse que, para a fiabilidade do processo, foram recolhidas amostras biológicas de familiares directos e comparados com os restos mortais do malogrado, no Laboratório Central de Criminalística do SIC, através de um trabalho forense rigoroso.

"Este acto é o resultado de uma solicitação formulada pela família enlutada, no sentido de a CIVICOP localizar as ossadas do general Begin, que faleceu por doença num momento indexo ao conflito militar que ocorreu no país, razão pela qual não foi possível um sepultamento em condições aceitáveis como mandam as nossas tradições e rituais fúnebres", justificou, acrescentando que o trabalho decorre da missão incumbida aos membros da CIVICOP pelo Presidente da República, João Lourenço, relativamente à necessidade de se dar dignidade e respeito às vítimas dos conflitos políticos em Angola.

Família e amigos

Em representação da família, o filho mais velho, Dinis Mandavela, expressou profunda gratidão à CIVICOP pela missão, pelo acto humanitário e pela forma respeitosa e digna como conduziu cada etapa do processo, desde os primeiros contactos pedagógicos com os familiares.

"Do fundo do coração, muito obrigado pelo que foi feito e desejamos que os esforços e o trabalho que o Estado faz para dar sepultura digna a esses angolanos continuem, que é também uma forma honrosa para facilitar a paz de espírito das famílias e reconciliação entre as pessoas”, sublinhou.

Por sua vez, João Dinis Epalanga, sobrinho do general Begin, disse que "agora o tio vai poder, finalmente, ter um funeral condigno”, apelando também para a continuidade deste trabalho para que outras famílias possam também dar um funeral digno aos seus ente-queridos que perderam a vida durante o conflito armado, de triste memória.

Presente no acto, o brigadeiro Eliote Ekolelo, da UNITA, que participou na altura do sepultamento, disse que Begin era um amigo, colega, um general de excelência, exemplar e carismático, que merece a homenagem feita.

Eliote Ekolelo disse que o falecido fazia parte da segurança pessoal de Jonas Savimbi e era uma figura que dirigia outros generais. Em poucas palavras, o brigadeiro disse esperar que este gesto do Estado se repita, para outros angolanos que também perderam a vida durante o conflito armado possam ter um funeral condigno.

"Ele faleceu por doença, de facto, e o discurso do ministro foi completamente honesto e muito agradecemos pelo gesto. Aquela área é de difícil acesso e só podemos agradecer por termos hoje este processo, bem dirigido, concluído, porque não fazia parte do processo da CIVICOP como tal. Mas precisávamos dessa logística e isto é um gesto grande de reconciliação", realçou o brigadeiro Ekolelo.

  Laboratório Central  de Criminalística

A chefe do Departamento de Biologia Forense e ADN do Laboratório Central de Criminalística do SIC, Sandra Morais, adiantou que os trabalhos vão prosseguir para a identificação de mais vítimas dos conflitos.

No âmbito do processo em curso, Sandra Morais informou que o seu departamento recebeu, de 2021 até agora, diversas peças ósseas de diferentes pontos do país.

Durante o mesmo período, segundo a especialista em genética forense, foram colhidas amostras biológicas de aproximadamente 404 famílias que perderam os seus ente-queridos durante os conflitos.