Desporto

Conquistas alcançadas em clima de estabilidade

A assinatura do Memorando de Entendimento do Luena, que colocou uma pedra sobre um passado de triste memória, que deixou o país dilacerado, as famílias desavindas e o desenvolvimento adiado, aconteceu há 22 anos.

04/04/2024  Última atualização 11H15
Presidente José Eduardo dos Santos presente nos grandes momentos do desporto nacional © Fotografia por: DR

Nessa data fechava-se uma página e abria-se outra da nossa História mais recente. Era o recomeço da vida, com perspectivas mais renovadas e animadoras.

É legítimo que ao cruzarmos esta data, duas décadas e dois anos depois, façamos uma introspecção do que foi feito. Ou, se preferirem, procuraremos avaliar os ganhos em diferentes sectores produtivos do país. Aliás, no clima de paz é para reconstruir o que a guerra pode ter devastado, ou se não, edificar o que antes não foi possível.

O balanço a que nos propomos, estará, seguramente, a ser feito em outros sectores. Temos mais crianças no sistema de ensino? A vida das famílias melhorou? A indústria tornou-se mais produtiva? Os campos minados tornaram-se, agricolamente, aráveis? São inquietações que povoam o nosso senso analítico. Desportivamente falando, não pode haver dúvidas de que se registou um grande progresso. É evidente que o desporto é a área que, mesmo em pleno clima de guerra, deu sempre mostras de alguma ousadia, como se não fosse directamente afectado. Houve sempre competição em distintas modalidades, assim como  organização de eventos internacionais.

Aliás, foi através do movimento desportivo que Angola foi fazendo a sua diplomacia, mostrando ao mundo uma realidade oposta àquela que os seus detractores alardeavam. Quando, no período de 20 a 30 de Agosto de 1981, assumiu a segunda edição dos Jogos da África Central, no Cunene e no Cuando Cubango não havia lugar para turismo ou outras acções lúdicas.

Estes, e não é que nas outras partes reinasse paz, eram os pontos mais fustigados, onde muitos  filhos desta terra perderam a vida, sendo a esmagadora maioria em plena flor da idade. O desporto sempre desafiou todas as vicissitudes, bastando olhar para o Girabola, a sua mais alta expressão, que tendo conhecido arranque a 8 de Dezembro de 1979, em ocasião alguma conheceu interrupção.

Porém, é certo que falar de desporto em tempo de guerra e em tempo de paz não é e jamais será a mesma coisa. Numa realidade, existem limitações de índole variada e, noutra, mais iniciativas e maior liberdade de acções palpáveis. Vai daí que, de 2002 para os nossos dias, se fez mais em relação ao período anterior. Não caberá, certamente, aqui neste escrito, a resenha das conquistas alcançadas nos últimos 22 anos. O sector das infra-estruturas pode ser o mais visível. Se olharmos, com olhos de ver, para os estádios de futebol construídos nas províncias de Luanda, Huíla, Cabinda e Benguela, por altura da realização do CAN’2010, não teremos como não reconhecer a grandeza do passo encetado. O antigo presidente da República, José Eduardo dos Santos, teve um papel preponderante.

O mesmo sentimento teremos ao olhar para o conjunto de pavilhões que hoje o país ostenta, erguidos na sequência da organização de grandes eventos, sendo o de maior imponência o multiuso do Kilamba, que recebeu, em 2013, o Campeonato do Mundo de hóquei em patins, naquela que foi a primeira organização da prova em solo africano.

Fora isso, aconteceram outras coisas dignas de maior registo, só proporcionadas pela condição do país, que deixou de despender avultadas somas em dinheiro na aquisição de equipamento bélico para uma distribuição do Orçamento Geral do Estado mais equilibrada. Isto acabou por insuflar uma lufada de ar no sector, potenciando as nossas selecções, a ponto de disputarem as competições com maior ambição.

Assim é que, em 2005, três anos depois, os Palancas Negras conseguiram subir ao pedestal da fama. A equipa disputou as eliminatórias combinadas para o CAN e Mundial de 2006, num grupo em que pontificavam ainda Nigéria, Zimbabwe e Rwanda, terminando em primeiro lugar. No Campeonato do Mundo, disputado na Alemanha, Angola fazia-se presente, pela primeira vez, na maior montra de futebol à escala mundial.

A presença foi, a todos os títulos, assinalável. Claro está, a um estreante não se lhe podia exigir muito. Ainda assim, os Palancas Negras foram exuberantes. Venderam, a preço alto, a derrota (1-0) diante de Portugal e empataram outros dois jogos da fase de grupos, nomeadamente (1-1) com o Irão e (0-0) com o México. Teríamos chegado ao Mundial em regime de conflito? Talvez sim, talvez não.

Um passo que se recomenda, na esteira desta abordagem, indubitavelmente, oincentivo ao desporto de fomento. Talvez traçar políticas concretas e realísticas para o relançamento do desporto escolar, para que os nossos jogadores combinem o domínio prático com a base científica, algo que se recomenda nos dias actuais.  

Portanto, o estabelecimento do clima de paz trouxe vários benefícios para o campo desportivo, embora haja evidências de uma outra "guerra”, económica, capaz de ter gravíssimas consequências, que podem pôr um travão no curso em que as coisas vão. Mas é "guerra” administrativa que pode ser travada e vencida pelos entendidos em números e cifrões, caso haja vontade política para tal.

José de Mátis

Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Desporto