Sociedade

Crianças contam drama vivido em centro de acolhimento

Carla Bumba

Jornalista

Silas Carruagem, de 9 anos, foi parar ao centro de acolhimento Casa Débora, no município de Talatona, pelas mãos da própria mãe, que é zungueira. Por falta de condições, preferiu levá-lo ao centro, juntamente com outros dois irmãos.

22/02/2024  Última atualização 11H02
Intervenção da Administração foi possível graças a uma denúncia feita pela comissão de moradores do Bairro Militar © Fotografia por: DR
O menino e os irmãos viveram na Casa Débora durante um ano. No princípio, disse, o irmão mais novo, na altura com 5 anos, chorava muito, depois foi se acostumando com a nova vivência.

"Na Casa Débora, nem todos os dias comíamos e, na hora de dormir, uns dormiam no chão e outros no dormitório”, lembra, acrescentando que, quando chovia, eram obrigados a levantar por causa da humidade no chão.

Uma outra mãe deixou os quatro filhos no referido centro, entre os quais dois irmãos gémeos, Adão e Adilson Pedro, de 10 anos de idade, e os mais novos, com 6 e 7 anos.

Segundo Adão Pedro, ele e os irmãos sofriam maus tratos da parte do padrasto. O menino acrescentou que a atitude da mãe se deveu, também, ao facto de ela apostar na formação dos filhos. "Havia barulho todos os dias, porque o nosso padrasto não nos queria em casa”, contou.

Adão Pedro revelou que as condições na Casa Débora não eram boas.

Meninos resgatados

Silas Carruagem, Adão Pedro e mais 33 meninos foram resgatados na semana passada, pela Administração Municipal de Talatona, do centro de acolhimento Casa Débora, situado no Bairro Militar, devido às más condições.

O centro apresentava condições impróprias para albergar as crianças, todas do sexo masculino, com idades compreendidas entre os dois e 15 anos.

Os meninos estão acolhidos provisoriamente no Lar Kuzola e no centro de acolhimento Luther Rescova.

O director da Acção Social da Administração de Talatona, Hélder Neto, disse que a medida administrativa foi tomada de acordo com o previsto nos 11 Compromissos da Criança, com vista à sua protecção.

O responsável explicou que, enquanto as crianças estiverem sob protecção dos lares, a Administração vai trabalhar na localização das famílias, para saber como foram parar à Casa Debora.

A intervenção da Administração foi possível graças a uma denúncia feita pela comissão de moradores do Bairro Militar, em Talatona.

A equipa do Jornal de Angola constatou, no Lar Kuzola, a existência de um número considerável de crianças com sarna e muitos piolhos. Elas receberam os primeiros cuidados, depois de uma triagem feita pelo corpo clínico.

Lar Kuzola recebe os mais pequenos

A chefe de Departamento Pedagógico do Lar Kuzola, Elisa Sampaio, informou que a instituição, dentro das suas capacidades de alojamento, respondeu ao pedido de protecção social para 11 crianças provenientes do centro de acolhimento Casa Débora. "As crianças mais pequenas ficaram connosco, porque o nosso centro recebe crianças  pequenas, dependendo do número de vagas que temos. Antes delas, estávamos com 333”, sublinhou.

Na mesma semana, acrescentou, o Lar Kuzola recebeu outros 14 novos hóspedes, além das 11 crianças da Casa Débora, totalizando 347 tutelados.

A responsável explicou que, depois do processo de triagem das 11 crianças, oito continuam a merecer atenção especial dos técnicos e três já não estão sob avaliação médica, por apresentarem um estado normal de saúde.

O Lar Kuzola teve de adoptar o sistema de separação dos menores, explicando que "tanto a sarna quanto os piolhos são altamente transmissíveis”.

"Crianças estavam bem”

A fundadora da Casa Débora, Joana Patrícia, recusou-se a falar à imprensa, tendo indicado a secretária executiva, Alberta Clara, que avançou que a instituição foi surpreendida com a retirada das crianças. "Consideramos triste e encaramos tudo com muita dor”, disse.

Na sua opinião, "as crianças viviam bem e com paz de espírito”. "Não lhes faltava alimentação, educação e outro tipo de instrução, tendo em conta as mínimas condições, adaptadas à nossa realidade, com o agravante de não deixarmos ninguém sem estudar”, realçou.

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