Sociedade

Felisbela Ernesto é exemplo de conciliação do trabalho com os deveres familiares

Manuel Fontoura | Ndalatando

Jornalista

Com determinação, Felisbela Pedro Inácio Ernesto iniciou a sua carreira como magistrada na província do Cuanza Norte, exercendo funções junto dos Serviços de Migração e Estrangeiros (SME) e Serviços de Investigação Criminal (SIC).

12/03/2024  Última atualização 08H20
© Fotografia por: DR

Apesar de não conhecer a província, tampouco possuir familiares ou conhecidos, facilmente adaptou-se, pois considera-se sortuda por ter o privilégio de conhecer pessoas maravilhosas que a apoiaram, fazendo-a sentir-se em casa.

Estes e outros estratos adquiridos por esta mulher, levaram a que o Jornal de Angola mostrasse o seu mérito, que, com persistência, coragem e desejo de vencer foi possível alcançar. Segundo ela, foi por influência do seu pai que escolheu seguir a profissão de magistrada e por ser um curso com ampla diversidade na carreira.

"Escolhi a Magistratura porque na minha óptica é uma Judicatura completa, na medida em que tal função é exercida amplamente em várias jurisdições. Em segundo lugar, porque antes era técnica da PGR e depois de me licenciar em Direito, ingressei para a magistratura e isso passou a ser uma vocação na carreira profissional”, disse.

Felisbela Ernesto considera prazeroso e fácil de desenvolver o trabalho que faz, porquanto, resulta da concretização de um sonho. Para ela, o segredo para administrar todas as atividades como mãe, esposa e profissional está na dedicação de cada assunto de maneira completa, cada um em seu momento.

"Quando estou no trabalho não me culpo por não estar com os meus filhos, façoo meu trabalho solenemente e quando estou com o marido e filhos não penso no quanto de trabalho ainda devo realizar, aproveito a companhia deles como se não houvesse o amanhã, ouço-os como se não houvesse nada mais importante a fazer”, frisou a magistrada.

Lidar com a saudade da família que está toda em Luanda, explicou, é o principal desafio de quem precisa trabalhar distante de casa. "Mudamos completamente a vida em função da profissão, abrimos mão da convivência com os familiares e amigos, passamos as datas comemorativas longe de casa. No entanto, a Internet é a minha arma secreta para amenizar a saudade, pois me permite manter um contacto diário com a família”.

O marido, diz, é o seu maior suporte, tem sido fundamental para que possa permanecer firme e segura na carreira. Sonha chegar ao topo da carreira com mérito reconhecido.

"Quando vim para o Cuanza-Norte, o meu filho mais velho tinha sete anos e os gémeos quatro. Ficaram aos cuidados do pai, foi muito difícil, pois choravam muito. No entanto, o meu marido soube sempre dar-me muita força, conforto e tranquilidade, sem esquecer do suporte que recebi da minha mãe e irmã. Hoje em dia os meus filhos percebem e apoiam”, explicou com lágrimas nos olhos simbolizando a saudade da família.

De acordo com Felisbela Ernesto, a magistratura é uma função que se equipara ao sacerdócio, por isso, a distância é necessária, pesando a favor da decisão estão as melhores oportunidades na profissão, novos desafios, importante impulso na renda e na qualidade de vida da família, embora na sua opinião, apesar de tudo isso, o que vale a pena é estarmos sempre próximos da família.

O seu ver, o relacionamento com os demais magistrados e funcionários do sector, é saudável, tendo como base o respeito, educação e aprendizagem constante.

Para Felisbela Ernesto, não há dificuldades no dia-a-dia laboral, porque para ela, cada dia, um novo desafio, cujo objectivo é sempre cumprir a missão de Estado com zelo e dedicação.

Hoje, sublinhou, as mulheres no sector da Justiça e em outros, já conseguiram atingir níveis de destaque e há um equilíbrio e respeito mútuo com os colegas do género oposto.

Actualmente, sustentou, o papel da mulher na sociedade é cada dia mais valorizado, sendo ela, um elemento na esfera económica e social das comunidades, ajudando o homem nas tarefas de reconstrução do país. Apesar das tarefas a si atribuídas, salienta, tem sido possível conciliar os trabalhos com as actividades de casa. Com ajuda da família, não encontra dificuldades em manuseá-las, razão pela qual enfrenta o seu dia-a-dia com bastante naturalidade, fruto de vários anos de batalha.

A mãe, referiu, é o pilar primordial na educação de um filho, mas que o homem tem sempre uma palavra a dizer. "A educação dos filhos deve ser dada pelo casal. Os tempos são outros e actualmente para além da casa e dos filhos, a mulher tem outras actividades na sociedade e deixa de ocupar-se apenas das tarefas de casa”.

Hoje, as mulheres na nossa sociedade exercem cargos de direcção em distintas áreas, fruto de uma luta constante por si mantida pela sua emancipação. "O número de mulheres a assumirem cargos de direcção tem vindo a aumentar, fruto da responsabilidade que as mesmas exercem nas funções a que lhes são atribuídas.

Por outro lado, o número de mulheres nas escolas é cada vez maior, porque compreenderam que a mulher não é aquele elemento que só serve para cozinhar e lavar roupa”, apontou.

"As mulheres sempre foram valorizadas, acredito que não precisam de se sentir depreciadas, porém devem continuar firmes no exercício das suas funções”, exaltou.

Dos inúmeros casos e processos crimes que passam sobre a sua mesa de trabalho, informou, os que mais a chamam atenção e mexem com o seu emocional são os casos de Abuso sexual, assim como de violência doméstica, principalmente quando envolvem crianças.

"Muitas das vezes as vítimas são desprezadas pelos familiares por os terem denunciado. Há ainda casos, em que a vítima volta aos cuidados do abusador. Isso me deixa muito triste”, lamenta.

A magistrada Felisbela Ernesto, considera a criminalidade de preocupante, dado o nível elevado de casos de abuso sexual contra à criança, em todas às províncias de Angola. Por isso, apela à participação da comunidade na vigilância e denúncia dos atos delituosos e que atentam contra a paz e a tranquilidade dos cidadãos, pois a responsabilização dos seus autores, contribuirão para a redução dos índices de delitos.

No entanto, frisou, a Polícia Nacional tem feito um grande esforço para combater a criminalidade, e os resultados desse combate são visíveis.

Para ela, a responsabilidade que envolve as decisões de um magistrado é considerável. No entanto, nunca se deparou com situações que a incomodam na hora da tomada de decisão. "Caso aconteça, não terei qualquer problema em revogar o meu despacho caso perceba que tenha andado mal”, finalizou.

Felisbela Pedro Inácio Ernesto é casada e mãe de quatro filhos, sendo três rapazes e uma menina. O seu primeiro filho tem agora com 11 anos, a seguir um casal de gémeos com oito anos e o último com dois. Nascida há 42 anos em Luanda, é Licenciada em Direito pela Universidade Lusíadas de Angola. Fez o Ensino Primário no Colégio Ultramarino, o Secundário na Escola Ngola Kiluange e Médio no Centro Pré-Universitário de Luanda.

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