Cultura

Herança cultural dos luandenses em exibição no Carnaval infantil

Dezassete grupos infantis desfilaram sábado, no final da tarde, na Marginal da Praia do Bispo, em Luanda, naquela que foi a abertura da maior manifestação cultural do povo angolano. Hoje desfilam na Marginal 11 grupos da classe B.

11/02/2024  Última atualização 07H16
© Fotografia por: Luís Damião | Edições Novembro

Ao ritmo do Semba, Kazukuta e Dizanda, os grupos infantis levaram à Marginal da Praia do Bispo toda a riqueza das tradições culturais que este ano está a decorrer sob o lema "Diversidade Cultural como Factor de Atracção Turística”.

Com os ritmos contagiantes a tomarem conta do espaço, os Admiradores do Hoji-ya-Henda, os primeiros a entrarem em pista mostraram toda a beleza e as tradições. Antónia Hebo, presidente do grupo Cassules Admiradores do Hoji- ya-Henda, do município do Cazenga, levaram à Marginal da Praia do Bispo 400 pessoas que dançaram a kazucuta. O estilo foi interpretado, ao som de uma canção da autoria de José Machado. A agremiação levou para esta edição do Carnaval o tema  "Lumbi”, expressão em quimbundo, que significa "Inveja.”

A agremiação pretendeu com o tema desincentivar a inveja, um sentimento cada vez mais presente na população.  "Não devemos ter ciúmes dos outros e aplaudir  o sucesso do próximo, na esperança de que um dia, também consigamos obter as nossas conquistas", disse Antónia Hebo, presidente do grupo criado em 2006.

A multiplicidade de cores quentes, despertava a beleza dos grupos que de uma maneira geral apresentavam-se bem. Os diferentes grupos levaram mensagens muito fortes sobre a importância de um maior respeito e compromisso com as crianças. Chamaram a atenção pelo aumento dos casos de violência doméstica, os maus tratos, abusos sexuais, o acesso à educação e alimentação. O brilho das cores vivas dos comandantes e das rainhas captavam os olhares atentos do público que nas bancadas aplaudiam os seus favoritos.

Ao ritmo da Cabecinha a tomar conta da pista, os Cassules do Njinga Mbande, viveiros do grupo detentor do Carnaval de Luanda de 2023, desfilaram em segundo lugar e mostraram toda a beleza da matriz cultural luandense. Mostraram uma grande organização e dançaram  em toda dimensão da pista do Carnaval.

O tema deste ano foi "Exploração de Menores”, que repudia os casos crescentes de crianças a serem exploradas na sociedade angolana. A agremiação almeja, sobretudo, fazer uma pressão às instituições do Estado, de forma a agirem com maior rigor contra quem explora menores.

O grupo do município de Viana, criado em 2016, tem a missão de revalidar o título da edição passada. Para tentar convencer o júri levou para o asfalto da Marginal da Praia do Bispo 300 foliões.

A rivalidade foi salutar com algumas piadas entre os grupos, o que ajuda a manter a tradição num processo de continuidade não somente entre os adultos. "Violência Contra Crianças”, é o título da música que foi escrita e interpretada por Tatiana Mutunda. Cada grupo teve 15 minutos em pista, como recomendam os regulamentos da organização.

Cassules Geração Sagrada Esperança de Viana, foi o terceiro grupo a actuar e apresentou o tema  "Ti Fele”, canção homónima que foi escrita e interpretada por Clene Cozombo, rainha do grupo.

O comandante do grupo, Domingas Ferreira disse que o tema retrata a história de um homem classificado como "Informador", por ter encontrado a esposa de um amigo a traí-lo.

Na sequência a ordem foi Cassules do Twabixila, Cassules Jovens da Cacimba, Cassules Café de Angola, Cassules dos petrolíferos, Cassules Sagrada Esperança, Cassules 10 de Dezembro, Cassules da Juventude do Kilamba Kyaxi, Cassules do 54, Cassules do Twafundumuka, Cassules do Giza, Cassules Kazukuta do Sambizanga e Cassules Amazonas do Prenda, Fogo Negro e Cassule Imbondeiro do Cazenga

 
"Estou a viver um sonho”

Em declarações à imprensa, na Nova Marginal, na abertura do desfile infantil, Kátia Santos disse que foi pela primeira vez a participar do Carnaval. Moradora do município de Viana, a adolescente de 16 anos de idade gostou do cenário e viu os grupos a desfilarem com muita alegria, em trajes coloridos. Acompanhado pelo seu progenitor, manifestou a intenção de regressar hoje e amanhã com mais membros da família. "Estou a viver um sonho. Desde criança que sempre queria acompanhar o desfile”.  Por sua vez, Raquel Biscaia, cidadã portuguesa e residente há mais de cinco anos em Luanda, ficou encantada por ser a primeira vez que assistiu ao Carnaval.  A cidadã portuguesa integra uma equipa de produção de documentários e ficou surpreendida pelas idades dos petizes que mostraram ginga e uma forma alegre de dança, própria dos angolanos, em particular, e em geral, dos africanos.

De acordo com José Francisco, morador do Prenda, os grupos de Luanda, são formados, na sua maioria, por várias famílias. Essa aracterística facilita a transmissão dos hábitos, das técnicas e artes de cantar, tocar instrumentos, dançar e brincar, processo transmitido desde muito cedo.

Já Cristino António, frisou que Carnaval é festa e dança e sempre gostou de dançar o Carnaval. "Fiquei totalmente arrepiado, foi incrível, e se calhar Angola é o único país onde há dançarinos de Carnaval com menos idade que deveriam ser muito bem incentivados”, afirmou Cristino António, sem deixar de apelar a importância da criação de escolas de Carnaval.

Bom comportamento garante tranquilidade

Em declarações ontem, ao Jornal de Angola, a porta-voz dos Bombeiros, Maina Denise Panzo, avançou que não ouve nenhuma ocorrência grave que comprometesse o desfile do Carnaval Infantil.  Garantiu que , ontem, estiveram no terreno com 275 efectivos e nove meios rolantes.

A porta-voz garantiu que a população mostrou um bom comportamento. "Estamos devidamente equipados para dar respostas positivas, não apenas na classe infantil, mas como nos desfiles de hoje e de amanhã”, assegurou.

O superintendente-chefe, comandante da Polícia Nacional no Município de Luanda, Lázaro da Conceição explicou que a nível da polícia, foram destacados para ontem, na Marginal da Praia do Bispo, um número superior a 500 efectivos de várias especialidades, desde os da ordem pública, trânsito, bombeiros e do SIC. A intenção, recordou, é durante a realização dos três dias de Carnaval, continuar a cooperar com o Governo da Província de Luanda, através dos seus serviços de fiscalização. O superintendente-chefe avançou que se montou um esquema de segurança que foi projectado para garantir segurança e protecção a todas as pessoas.

Numa tarde de sol, os efectivos procuraram manter a segurança no espaço da pista e áreas adjacentes, inclusive a Feira da Alimentação do Carnaval, onde havia muitos farristas. Hoje, em que desfilam os candidatos da classe B de adultos, Lázaro da Conceição prometeu prontidão dos efectivos e dar resposta a altura de qualquer transgressão.

 
INEMA sem casos de vulto

O Instituto Nacional de Emergências Médicas de Angola (INEMA) não registou nenhuma ocorrência significativa, durante a realização do desfile da classe infantil, garantiu o supervisor Nacional, Kiesse Michel.

O representante fez saber ainda, que o INEMA disponibilizou para o desfile da classe B, várias ambulâncias e montou postos médicos, para qualquer tratamento clínico ou de trauma.  "Apesar do sol forte e do intenso calor que se verificou, não se registou nenhum caso grave. Aconselhámos também que fossem colocados pontos de água e pedimos aos grupos carnavalescos a hidratarem-se.”


Factor de atracção turistas no país

O ministro da Cultura e Turismo, Filipe Zau, afirmou, ontem, em declarações ao Jornal de Angola, que o Carnaval de Luanda continua a ser um momento singular, onde a cultura nacional é promovida, através da música e dança, por crianças, adolescentes e adultos.

O ministro disse que o Carnaval deve ser encarado como uma forma de conservação da identidade nacional, mas, também, como um factor de atracção de turistas ao país.

Filipe Zau mostrou-se satisfeito com a preparação dos grupos e da boa exibição apresentada. "Espero que estes sejam três dias de muita festa e animação, que a população possa desfrutar deste momento único em cada ano", disse. Na tribuna esteve também, o vice-governador para o sector Político e Social, Manuel Gonçalves.


Gil Vieira e Alice André

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