Faustina José, mais conhecida por Laura, tem 15 anos, vive na comuna de Capelongo e faz o trajecto diário, de casa até à Cidadela Jovens de Sucesso da Matala e vice-versa, com o autocarro do centro.

A Cidadela Jovens de Sucesso da Matala, na província da Huíla, faz parte do projecto de reintegração sócio-profissional, desenvolvido pelas Escolas Rurais de Capacitação de Artes e Ofícios, que recebe menores dos 14 aos 17 anos, tendo já formado mais de dois mil jovens e adolescentes.

Anualmente, milhares de jovens procuram oportunidades de emprego e muitos estão inseridos em estágios profissionais.

Laura ingressou no centro de formação profissional por intermédio do pai, que dá aulas de Serralharia na instituição. Optou pelos cursos de Carpintaria e Agricultura, por ser a sua grande paixão, desde a infância.

Há dois anos na escola, Laura é estudante da 8ª classe. Após a conclusão deste ciclo, pretende abrir uma marcenaria para produzir armários, cadeiras, mesas, camas e bancas, dando sequência aos estudos e se tornar uma profissional de renome.

A menina vive com o pai, avó e os irmãos. A mãe fixou residência em Menongue, província do Cuando Cubango, na sequência de uma nova relação.

O pai é serralheiro e a avó é vendedora no mercado local. A vida não tem sido um mar de rosas para  Laura, por isso, teve de mudar o seu foco, desde cedo, virando as suas metas e objectivos para aprender profissões técnicas profissionais e, consequentemente, obter um emprego.

 
Alcançar os objectivos

O autocarro do centro apanha Laura por volta das 6h, por isso, é obrigada a acordar às 5h, de segunda a sexta-feira. O percurso de Capelongo à Cidadela Jovens de Sucesso da Matala dura cerca de duas horas. Regressa à casa no final do dia.

Laura contou ao Jornal de Angola que sempre cresceu focada e não pensa em namorar, como as outras meninas do seu bairro, pois pretende, ainda, alcançar os seus objectivos.

Por esta razão, aconselha as outras raparigas a deixarem de namorar e consumir bebidas alcoólicas, porque podem pôr em risco o seu futuro.

Apesar de ser mulher e estar a aprender uma profissão mais praticada por homens, não se sente marginalizada e esclarece que o mais importante na vida é ter foco e determinação. "Não existem tarefas definidas para homens ou mulheres, porque ambos podem fazer as mesmas coisas e crescer na vida”, encorajou.

 
Vida transformada

Em busca dos seus sonhos está, igualmente, o jovem Eduardo Relenga, de 21 anos de idade, que frequenta a 9ª classe, último ano da escola, matriculado no curso de Carpintaria, onde faz também Informática e Agricultura.

O jovem reside no Bairro 11 de Novembro, município da Matala, e vive com os pais e irmãos. Para ir até ao centro, também apanha o autocarro.

Eduardo Relenga entrou em 2020, por intermédio dos vizinhos que o incentivaram. A paixão pela profissão foi a motivação para se inscrever na escola da Matala. O jovem revelou que gosta muito do ambiente da instituição, fundamentalmente, quando assiste às aulas dos cursos profissionais, onde tem aprendido muito.

Eduardo Relenga admite que a escola mudou a sua vida, porque já começou a fazer o seu próprio negócio, sem depender de outras pessoas.

Normalmente, nas horas livres, Eduardo produz camas, bancas, mesas e cadeiras. Com as vendas, consegue satisfazer as suas necessidades, chegando a lucrar até 15 mil kwanzas por produto.

A sua ambição é concluir os estudos, capacitar-se cada vez mais com máquinas de última geração e apostar no seu negócio.

 
Útil à sociedade

O jovem admitiu que antes de entrar para o centro estava envolvido em maus caminhos, mas, graças a este programa, hoje consegue ser mais útil à sociedade. Por isso, aconselha os outros jovens a acreditarem em si para procurar e concretizar os seus sonhos.

Mário Macundambo é um dos formadores da escola, há dois anos, na especialidade de Agropecuária. Residente, antes, na cidade do Lubango, teve de se mudar para a Matala, por causa do trabalho.

Ao longo dos anos, disse, já formou mais de 500 jovens. Considera que ensinar é uma tarefa fácil, porque usa os métodos e dá os conteúdos mais simples para que os alunos não tenham dificuldades em aprender.

O professor pediu aos jovens e adolescentes da Matala a aderirem ao Centro de Formação Profissional, para melhorarem a sua condição de vida.

A Cidade Jovens de Sucesso da Matala,  inaugurada em 2020, funciona apenas em regime de externato, por não ter condições para que os estudantes permaneçam na escola durante todo o dia. São recolhidos pela manhã, em autocarros, e distribuídos no final do dia.

Secretário de Estado satisfeito com as condições

O secretário de Estado para o Trabalho e Segurança Social, Pedro Filipe, numa visita efectuada à Cidadela Jovens de Sucesso do município da Matala, província da Huíla, disse estar satisfeito com as condições das salas de aula, oficinas e campos onde os meninos e meninas aprendem a Agricultura.

Pedro Filipe reconheceu que os professores têm cumprido as orientações dadas pelo Executivo, realçando que a intenção é transformar os jovens, para, no futuro, serem profissionais competentes nas diversas áreas do saber.

"É preciso estudar e trabalhar com disciplina. O vosso comportamento vai definir melhor o futuro de cada um de vocês. Sejam disciplinados e aproveitem a oportunidade”, apelou.

O programa Escolas Rurais de Capacitação e Ofícios foi criado pelo Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social, em 2008.

Nas Escolas Rurais de Capacitação de Artes e Ofícios "Cidadela Jovens de Sucesso” não é permitida a inscrição de meninas em regime de internato, porque os centros foram concebidos unicamente para rapazes. As raparigas frequentam a escola apenas em regime normal de ensino.

O Executivo tem outros projectos que albergam apenas meninas, concretamente, os centros de formação feminina espalhados por várias províncias do país.

Os custos da formação e do internamento são suportados pelo Executivo e outros parceiros sociais.

Capacidade para 204 formandos

O director-geral da Cidadela Jovens de Sucesso da Matala, Hélder Domingos, informou que o centro tem capacidade para albergar 204 formandos em cada ciclo formativo, com seis formadores para leccionar cursos técnico-profissionais e 12 professores académicos.

Segundo o responsável, o centro tem jovens de 21 anos de idade que foram inseridos na instituição porque têm atraso na formação académica. "Então, foi dada a oportunidade de se capacitarem e receberem kits profissionais, para depois estarem inseridos no mercado de trabalho”, informou.

O centro tem oito salas de formação para aulas práticas e teóricas, além dos laboratórios e oficinas para os cursos de Informática, Carpintaria e Serralharia.

O espaço dispõe de três hectares para produção agrícola, seis estufas para produtos hortícolas e três aviários com capacidade para 2.100 galinhas.

O director da instituição confirmou que a escola tem dois autocarros com capacidade para transportar, cada, 32 formandos, a fim de facilitar a deslocação dos alunos de casa para o centro e vice-versa.

A escola, disse, tem recebido apoio do INEFOP (Instituto Nacional de Emprego e Formação Profissional) para garantir a sua sustentabilidade, apesar de ter sido concebida para se auto-sustentar.

O centro, prosseguiu, tem algumas dificuldades, pelo facto da formação ser gratuita e os gastos diários com alimentação, transporte, insumos agrícolas e outros materiais para a formação e produção alimentar exigirem uma despesa mensal de seis milhões de kwanzas.

Em relação aos consumíveis, disse, a reposição é feita através da própria produção, como milho, ovos, cereais e mobília, feitas pelos próprios alunos, assim como camas, bancas, cadeiras, entre outros.

Revelou que a região é mais propensa à produção de produtos como a batata rena, milho, alho, feijão e hortícolas.

A distribuição de água é feita, ainda, através de cisternas, mas acaba por ser imprópria para o consumo, tendo de ser fervida antes de beber.

Quanto à energia eléctrica, tem sido sustentada à base de geradores e painéis solares.

Hélder Domingos apontou ainda algumas dificuldades do centro com a distribuição de água potável e energia eléctrica.

O director-geral lamentou o facto de alguns jovens e adolescentes não conseguirem entrar para a escola, devido ao número reduzido de salas. O critério de selecção, informou, é feito através de testes vocacionais, em função da capacidade ou habilidades de cada um.

Hélder Domingos é director do centro desde 2020. Desde então, já foram formados 43 jovens em diversas especialidades. Este ano, outros 64 finalistas recebem os seus certificados.

Executivo prevê  construir mais centros

Para o quinquénio 2022-2027, o Executivo pretende construir mais 14 unidades formativas, em todo país, e requalificar todos os pavilhões de artes e ofícios, com o objectivo de aumentar a oferta formativa. De referir que 58 infra-estruturas do género carecem de intervenção.

A inserção dos jovens em situação de vulnerabilidade na sociedade e no mercado de trabalho continua a ser uma das grandes apostas do Executivo, que consiste na melhoria das condições de vida e garantia de um futuro promissor, para quem tem pouca esperança e oportunidades.

Com o projecto Cidadela Jovens de Sucesso, esta realidade tem sido cada vez mais concretizada, depois de um processo de preparação e reintegração, que inclui a formação profissional e académica, durante três anos, ficando aptos para enfrentar o mercado de trabalho, no final desse período.

A rede de escolas Cidadela Jovens de Sucesso são estruturas formativas tuteladas pelo Instituto Nacional de Emprego e Formação Profissional (INEFOP), cuja finalidade é dar formação técnico-profissional e educação escolar aos jovens mais desfavorecidos, visando a sua inserção na sociedade.

Além da Cidadela Jovens de Sucesso da Matala, na Huíla, existem a do Bailundo, no Huambo, Kalakala e Cabíri, ambas na província de Luanda, Sacassange (Moxico), Dinge (Cabinda), Caculama (Malanje) e Dr. Luther Rescova, localizada no município do Alto Cauale, província do Uíge.

Os centros destinam-se a albergar jovens e adolescentes com idades compreendidas entre os 14 e 17 anos, com a  6ª classe concluída. Nestes locais, são ministrados cursos com duração de três anos, como Secretariado, Educador de Infância, Corte e Costura, Hotelaria e Turismo, Agricultura, Mecânica Automóvel, Florista, Canalização, Electricidade, Serralharia, Transformação e Conservação Alimentar e Informática.

Em algumas regiões do país, o INEFOP trabalha com confissões religiosas e empresas, com o objectivo de envolver toda sociedade para sustentar este desafio, que consiste na integração de jovens em situação de vulnerabilidade.

Nos protocolos assinados, as responsabilidades do INEFOP consistem em continuar a promover o funcionamento normal do centro, para garantir à comunidade um espaço apropriado para inserir os jovens na sociedade, com qualificações necessárias para estarem à altura do mercado de trabalho.