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Inácia Pande, criadora e coordenadora do projecto de socialização para portadores de deficiência e albinismo, disse ao Jornal de Angola que a discriminação continua a ser um mal pelo qual as pessoas que possuem alguma condição ou deficiência física enfrentam diariamente no país.
"Infelizmente, ainda existe sim muita discriminação no nosso país, não muito pelo falar, mas pelas atitudes e olhares, principalmente nas áreas rurais. Por isso, uma das nossas metas é andar em todas as províncias, e de alguma forma ajudar a moldar a mentalidade das pessoas, que, por falta de conhecimento, criam crenças erradas e as implementam em suas vidas”, explicou.
Por meio do projecto, denominado Roda de inclusão, há a realização de palestras com a finalidade de munir as pessoas de auto-conhecimento e elevar a sua auto-estima. Dentro do programa, sublinhou Inácia Pande, são abordados temas relacionados à auto-estima, auto-confiança e auto-conhecimento, tanto para pessoas com deficiência como para quem não apresenta tal condição. "O objectivo deste projecto é demonstrar à sociedade que somos capazes, que a deficiência ou as crenças não nos podem limitar”.
Infelizmente, explicou, a sociedade impõe padrões, e, por conta disso, muitas vezes estas pessoas acabam limitando as suas capacidades. "Não importa se és albino, anão, se tens vitiligo ou alguma outra ‘deficiência’ física, se és gordo, magro, alto ou baixo, por conta destes paradigmas acabamos por desenvolver uma auto-estima baixa ou a auto-cobrança”.
Inácia Pande, 28 anos, é estudante finalista de Psicologia da Universidade Jean Piaget. Como futura psicóloga, reiterou que por meio do projecto Roda de Inclusão pretende ajudar as pessoas, que em meio às vicissitudes da vida, têm dificuldade em auto-aceitar-se. Acrescentou que nada está perdido e que "ainda há esperança, basta apenas uma atitude e o rumo pode mudar”.
A ideia do projecto, explicou, surgiu em 2017, mas esteve parado devido a "algumas questões que foram ultrapassadas no ano passado”. "Graças a Deus no ano transacto pude dar continuidade e realizar a primeira edição. Decidi criar este projecto, porque fui vítima de insultos e exclusão social por ser portadora de albinismo”.
"Sempre consegui manter a cabeça erguida e seguir em frente. Infelizmente, nem todos têm esta capacidade, por isso, há a necessidade de estendermos as mãos a essas pessoas e ajudá-las a se enquadrarem na sociedade”.
A iniciativa, acrescentou Inácia Pande, não se centra apenas em ajudar os indivíduos que sofrem com a discriminação, mas também os que a praticam. "Os discriminadores são os que mais precisam de auxílio para compreenderem que a verdadeira beleza não está no físico, contudo na alma, e que enquanto jorrar sangue sobre as veias, não importa a condição, o ser humano deve ser valorizado”.
Superar
dores e traumas
O projecto, ainda, é novo, disse Inácia Pande, que deu a conhecer que trabalha com indivíduos portadores de deficiência, que já superaram dores e traumas e que têm sido oradores nas actividades, partilhando as suas histórias de vida "de formas a encorajar aqueles que ainda se sentem excluídos de exercer algum papel dentro da sociedade”.
A organização, continuou, conta também com uma equipa de protocolo que auxilia nos preparativos das actividades. Para que haja mais inclusão, a estudante salientou que é necessário haver a criação de mais actividades de convívio entre pessoas com deficiência genética e aquelas que aparentemente não possuem nenhuma "imperfeição”, pois isso ajudaria bastante na sua socialização.
"Este convívio vai permitir que todos os indivíduos, independentemente da raça, condição física e social partilhem o mesmo espaço, dando a possibilidade de tirar dúvidas concernentes aos mitos que giram em torno dos albinos, e não só. Quanto mais informada a sociedade estiver, maior será a percepção de que somos todos seres humanos”, disse.
O projecto, referiu, tem como público-alvo as pessoasportadoras de alguma deficiência física ou genética. "Para fazer parte ou receber apoio, basta contactar e entrar em comunicação a partir das minhas redes sociais Facebook, Instagram ou TikTok”, informou Inácia Pande.
A maior dificuldade que têm enfrentado, frisou, consiste em encontrar espaços para a realização das actividades. "Temos um encontro agendado para o final do mês de Março, envolvendo apenas mulheres e ainda estamos na luta da procura de espaço, e transporte para as pessoas com deficiência dos membros inferiores. Essas têm sido as maiores dificuldades”.
Inácia Pande aconselhou aos portadores de deficiência a não se deixarem abalar pelos preconceitos ao ponto de não saírem de casa, pelo contrário, disse, devem se aceitar tal como são, pois, isso é um dos mecanismos de defesa para enfrentar o dia-a-dia e superar os desafios.
"A auto-estima pode baixar por conta das discriminações, mas se a auto-aceitação estiver no auge, a pessoa consegue se erguer em questão de segundos. Os insultos não nos impedem de fazer o que gostamos e queremos. Portanto, aceitemo-nos com os defeitos e qualidades que temos. Independentemente da condição, desenvolver isso é fundamental para a nossa defesa e protecção mental, pois o ser humano nunca está satisfeito”, frisou.
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