Sociedade

Instituto Oftalmológico atende 1.719 pacientes desde Janeiro deste ano

Flávia Massua e Weza Pascoal

Jornalistas

Um total de 1.719 pessoas foram atendidas com Glaucoma, de Janeiro até a presente data, no Instituto Oftalmológico Nacional (IONA), revelou, quarta-feira, em Luanda, a médica oftalmologista Isabel Cauênde.

14/03/2024  Última atualização 07H15
Isabel Cauênde disse que o glaucoma ocupa o quarto lugar na lista das doenças mais frequentes © Fotografia por: Arsénio Bravo| Edições Novembro
Em entrevista ao Jornal de Angola, por ocasião da Semana Mundial do Glaucoma, que decorre de 10 a 16 deste mês, a especialista da área de Oculoplástica e Oncologia ocular acrescentou que, durante o ano passado, o IONA foram atendidas 8.711 casos da doença, mais frequente em cidadãos acima dos 40 anos.

Isabel Cauênde disse que, actualmente, o glaucoma ocupa o quarto lugar na lista de doenças mais frequentes naquela unidade de saúde, depois das cataratas, ametropias e transtornos da conjuntiva(membrana que reveste a pálpebra e se retrai para cobrir a esclera, a camada fibrosa resistente e branca que cobre o olho, até à extremidade da córnea, a camada transparente na frente da íris e da pupila).

A médica lamentou o facto de que muitos cidadãos recorrem à unidade sanitária num estado muito avançado da doença, e outros, até, já cegos. "Nos casos em que os cidadãos vêm ao hospital já com a perda de visão, infelizmente não conseguimos reverter a situação, porque o glaucoma não tem cura”, alertou.

O glaucoma, explicou, é uma doença crónica, hereditária e irreversível, caracterizada pela alteração do nervo óptico, ao ponto de causar danos irreversíveis nas fibras nervosas e a perda da visão. "É uma doença que se manifesta de forma assintomática, totalmente silenciosa e pode ser contraída sem causas aparentes ou questões externas como hábitos sociais ou laborais”, disse.

Apesar de os cidadãos com idade acima dos 40 anos serem os mais afectados, salientou a médica, há, igualmente, o registo de crianças e até de bebés que nascem com glaucoma. A raça negra, sublinhou, é a mais afectada a nível mundial.

Diagnóstico precoce

Por ter na sua essência uma base genética, não existem medidas específicas para a prevenção do glaucoma. Por isso, a médica oftalmologista aconselhou a sociedade a recorrer às consultas de oftalmologia, mesmo sem o surgimento de alguma sintomatologia ocular.

O objectivo, disse, é fazer o rastreio. "É importante que todo o indivíduo faça, pelo menos, uma consulta de Oftalmologia anualmente, de forma a prevenir as patologias oculares, sobretudo as que levam à cegueira”, aconselhou Isabel Cauênde.

Por este motivo, informou, existe, a nível do Instituto Oftalmológico Nacional, um programa de triagem que permite fazer o diagnóstico aos familiares próximos dos pacientes com glaucoma, de forma a prevenir eventuais casos e dar início ao tratamento de forma atempada. "Por se tratar de uma doença hereditária, testamos os familiares do primeiro e do segundo grau porque têm muitas probabilidades de desenvolver glaucoma”, informou.

Segundo Isabel Cauênde, apesar de o glaucoma ser uma doença que não tem cura, se for diagnosticada precocemente e tratada atempadamente, o indivíduo pode ter uma boa qualidade de vida e evitar a cegueira.

Factores de risco

Outros factores de risco, a destacar. são a idade avançada, as doenças cardiovasculares, diabetes, a miopia moderada, o uso prolongado de certos medicamentos e o tabagismo.

A especialista da área de Oculoplástica e Oncologia ocular informou quetodo o paciente diagnosticado com glaucoma ou outra patologia ocular, no Instituto Oftalmológico Nacional, recebe os medicamentos de forma gratuita. "Neste momento, temos fármacos suficientes para distribuir aos pacientes, que fazem o levantamento na nossa unidade sanitária de forma regular, porque o tratamento é para a vida toda”.

A principal recomendação para quem vive com a doença, disse, é o cumprimento rigoroso do tratamento prescrito e o controle médico regular. Acrescentou que, diariamente, no IONA, cerca de 250 a 300 pacientes são atendidos e diagnosticados com diversas patologias oculares.

Semana Mundial do Glaucoma

A Semana Mundial do Glaucoma foi criada para informar as pessoas sobre a existência da patologia e consciencializá-las a fazer o rastreio para o tratamento precoce da doença.

O Instituto Oftalmológico Nacional (IONA), em colaboração com o Governo Provincial do Namibe, está a levar a cabo uma campanha de rastreio e cirurgias às cataratas. "Anteriormente, realizávamos as campanhas em Luanda, mas achou-se necessário estender para as demais províncias, de forma a levar os serviços de saúde ocular junto das comunidades, uma actividade que será estendida para outros pontos do país”, esclareceu a médica.

A campanha prevê atender mais de 500 pessoas, que já constam do rastreio, e operar cerca de 200 pacientes com cataratas, numa média de 50 a 60 por dia.

No primeiro dia, foram realizadas 47 cirurgias às cataratas, das mais de 200 previstas. As cirurgias estão a ser feitas no hospital municipal do Saco-Mar, na cidade de Moçâmedes, capital do Namibe.

Segundo a directora nacional do Instituto Oftalmológico de Angola, Luísa Paiva, a campanha tem o objectivo de expandir o tratamento das doenças oculares aos pacientes incapazes de chegar à capital do país, com ênfase para os portadores de cataratas e capacitar técnicos locais para o acompanhamento dos casos registados.

"Foi lançado um desafio ao IONA durante o ano passado e, após a anuência da ministra da Saúde, decidimos sair da nossa área de conforto para atender, pela primeira vez, fora de Luanda, pacientes com doenças oculares que inspiram cuidados e melhor tratamento”, sublinhou.

A actividade, acrescentou, decorre no âmbito da Semana Mundial do Glaucoma, que vai de 10 a 17 deste mês.

Luísa Paiva acrescentou que a missão dos especialistas provenientes de Luanda é divulgar o impacto e consequências das patologias oculares na vida das pessoas, com maior realce para o glaucoma.


Antes de ser diagnosticado com o glaucoma e ficar cego, Salas Neto, que hoje tem uma coluna no jornal Metropolitano, era director do Semanário Angolense

Aulas de auto-aceitação livram jornalista  de um suicídio

Quase dez anos depois de perder a visão, Salas Neto diz que está adaptado à nova realidade e consegue levar a vida na desportiva. É um internauta activo, sobretudo na rede social Facebook    

As aulas de auto-aceitação, depois de ser afectado pela cegueira, foram fundamentais e determinantes para o jornalista e escritor Gonçalves Manuel Afonso Neto (Salas Neto) se livrar do pensamento de suicídio, em 2015.

"Fiquei completamente arrasado, ao tomar conhecimento que tarde ou cedo ficaria cego, depois de algumas consultas feitas no Brasil e posteriormente em Angola, no Instituto Oftalmológico Nacional de Angola (IONA), onde fui diagnosticado com um Glaucoma, em fase terminal”.

Além das aulas de auto-superação, que foi tendo depois da cegueira, Salas Neto disse que aprender a escrever nesta nova condição de vida e o modo de viver de outras figuras importantes, como, por exemplo, o músico internacional, Andrea Bocelli e o renomado desportista José Sayovo, funcionaram como uma lufada de ar fresco para se manter vivo.

Pesadelo começou em 2012

Salas Neto conta que tudo começou em 2012, no Brasil, quando entendeu se submeter a um check-up, tendo-lhe, em seguida, sido dada uma medicação, sem saber de que doença se tratava. Só ficou a saber um ano depois, em Barcelona, na Espanha.

As idas e vindas ao Brasil e Espanha, disse, "não resultaram em nada, porque o médico israelita que fazia o acompanhamento do meu caso, já me tinha dado a sentença, cuja concretização aconteceu em Junho de 2015”.

Apesar de o pai ter adquirido a cegueira, Salas Neto não sabe precisar se o Glaucoma que originou a sua deficiência decorre da hereditariedade ou é resultado de um soco que lhe foi dado pelo padrasto, aos 11 anos.

O jornalista disse que as doenças oculares, segundo os médicos, podem ser provocadas, também, por traumas.

Aos 64 anos, confessa que, "mesmo sendo jornalista e licenciado” e, na altura, o olho direito já não dispor de qualquer acção, terá tido alguma distracção por não se ter preocupado em saber mais sobre as principais doenças da visão.

Apesar disso, sublinhou, o diagnóstico de Glaucoma é irreversível. No mínimo, o que se pode fazer, se detectado de forma precoce, é atrasar a evolução da cegueira, com a medicação.

"Nessa altura, eu já só tinha um único olho, então, devia estar muito mais preocupado com isso”, lamentou. "Já não terei como saber se é uma situação de hereditariedade ou se foi causada por um trauma da infância, uma vez que o meu pai poderá ter contraído a cegueira pela profissão de soldador”.

Internauta activo

Além de uma intervenção cirúrgica sofrida em Barcelona, já na fase de cegueira, Salas Neto, mesmo na condição em que se encontra, publicou um livro, "As Kassumunas do Bairro Indígena – Ensaio para uma autobiografia avulsa”, e continua a ser um internauta activo, sobretudo na rede social Facebook, e a escrever para o Jornal Metropolitano, um dos títulos da Edições Novembro.

"Estou adaptado a esta nova realidade e consigo levar a vida na desportiva”, disse, acrescentando que os sonhos de ver a única filha vestida de noiva e assistir ao Mundial de 2014 no Brasil foram concretizados e lamenta por não conhecer o rosto da última dos seus seis netos.

Nascido no distrito urbano do Sambizanga, em Luanda, Salas Neto considera a esposa uma pessoa de virtudes e muito companheira, por "me aturar até ao momento, mesmo com essa deficiência”. Referiu, por outro lado, que os eventos culturais e recreativos que promove, com música e dança, ajudam no reencontro de alguns amigos e ex-colegas. 



José Adão perdeu apenas 1 por cento  da visão desde que começou a medicar

José Adão, de 52 anos, foi diagnosticado com a doença no final de 2015, quando começou a desenvolver complicações visuais sem causas aparentes. Desempenhou a profissão de professor por mais de 36 anos e nunca sentiu nenhum sintoma.

"Em 2015, comecei a desenvolver uma dificuldade ao fazer leituras e ainda assim não usava óculos. Quando os sintomas começaram a agravar, decidi recorrer a uma clínica, onde fui diagnosticado com a patologia, que já se encontrava numa fase crítica”, contou.

José Adão disse ter sentido um choque quando recebeu a informação, porque na altura não tinha conhecimento sobre o assunto. Foi a partir daquele momento que resolveu investigar sobre a doença e tomar maior cuidado com a visão, porque corria o risco de perdê-la, pelo estado avançado em que se encontrava.

Em 2020, viu-se impedido de desenvolver as suas actividades por incapacidade laboral, tendo em conta que o glaucoma comprometeu 80 por cento da visão e o impedia de trabalhar.

Desde aquela data, explicou, passou a ser acompanhado no Instituto Oftalmológico Nacional. "Desde que passei a ser seguido regularmente, pelos médicos do Instituto, até agora, foi possível manter o nível de visão que tenho, apesar de ser reduzida”, reconheceu José Adão, acrescentando que com este nível de visão é possível levar uma vida normal, fazendo a medicação, para travar a progressão da doença.

"Desde 2020 que comecei a ser acompanhado, só perdi 1 por cento da visão”, destacou. José Adão aconselhou a população a optar pelos cuidados de saúde e a realização de consultas de Oftalmologia regularmente. "Antes de sentir as dificuldades para a leitura, não tinha o hábito de ir às consultas de Oftalmologia com regularidade. Se fosse, com certeza, o diagnóstico seria feito precocemente”, admitiu.

O primeiro passo, disse, é aceitar a doença, dar início imediato à medicação, investigar sobre a doença e mudar os hábitos alimentares que devem ser ricos em vitamina A.

Quanto à aquisição dos fármacos, José Adão disse que apesar dos pacientes assistidos no IONA receberem os fármacos, quando há rotura, muitos não conseguem dar continuidade ao tratamento pelos preços elevados que são comercializados nas farmácias privadas. Por este motivo, apelou ao Executivo a trabalhar na redução dos preços dos medicamentos, para facilitar a vida das pessoas que vivem com o glaucoma.

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