Sociedade

Ismael Farinha: A paixão pela literatura

Rui Ramos

Jornalista

Ismael Farinha nasceu em 27 de Agosto de 1981, no Cazenga, Luanda. É filho de Ambrósio Farinha, médico, e de Teresa Dias, antiga combate, veterana da pátria e vendedora de kissangwa, que foi entrevistada neste espaço do Jornal de Angola, no dia 31 de Julho de 2022.

25/02/2024  Última atualização 09H59
© Fotografia por: DR

"Tenho três irmãs e três irmãos e crescemos no bairro Hoji-ya-Henda, Rua da Ilha da Madeira, um local mais conhecido por Mãe Preta, por conta do centro recreativo e cultural com o mesmo nome”, recorda.

O jovem conta que aprendeu a ler e a escrever com o seu pai. "Em casa tínhamos uma biblioteca”.

Ismael Farinha estudou a 2.ª classe na escola 704, no Hoji-ya-Henda e foi sempre delegado de turma até à 5.ª classe. "Apesar de nascer num município turbulento, nunca fui amigo do álcool, a escola e a cultura sempre fizeram parte de mim”.

Na infância e na adolescência, gostava de dançar e cantar, tendo ajudado a criar um grupo de música Rap, em 1996. "Tínhamos um grupo de dança com o Óscar Barros, Cirilo Farinha, Nelson Dembo "Papoitão”, Jorge Monteiro, Genuíno dos Santos, Romão Cabonda. Mais tarde, criámos o grupo de música Britânica 008 e participámos em concursos de música no Cine África”.

Depois passou para a escola Angola e Cuba, ainda no Cazenga, onde estudou o jornalista Cambingano Manuel e Nuno Dala, deputado à Assembleia Nacional até 1998. "No ano seguinte, comecei a frequentar o curso de Inglês na James Harson School, onde também aprendi poesia”.

No ano de 2001, frequentou, o Instituto de Línguas da Internacional Universidade Africana. "As longas caminhadas no Hoji-ya-Henda eram feitas sempre a pé, devido à falta de dinheiro para o táxi e quando houvesse, os valores eram para comprar lanche no intervalo das aulas”.

Em 1998, a família estava sem possibilidades financeiras e Ismael Farinha fica um ano sem estudar, mas aprendeu Kimbundu e Kikongo com os pais. "A minha mãe é do Bengo e o meu pai do Uíje”.

Ainda na Universidade Africana, começou a mexer com a Internet e participou num concurso on-line, www.poetry.com. "Nos dias de hoje, dou-me por satisfeito pelo que aprendi do Inglês, mas também do Kimbundu e Kikongo”.

Ismael Farinha assume-se como contabilista de profissão e poeta. "O primeiro livro que li foi "Undengue”, de Jacinto de Lemos, por influência do meu irmão Cirilo Farinha. Mas, as minhas inspirações são Lopito Feijó, José Luís Mendonça, Wanhenga Xitu e António Agostinho Neto”.

Ismael Farinha diz que aspira escrever muito para o grande mosaico literário angolano. "Sou uma pessoa perfeccionista na escrita e exigente comigo mesmo”, refere o jovem, que desenvolve um conjunto de actividades diversificadas.

Além de contabilista, é poeta, declamador, activista cultural, sindicalista, membro do Chá de Caxinde, coleccionador de livros, com uma biblioteca pessoal de mais de 400 livros, é membro da Sociedade Angolana dos Direitos de Autores(SADIA), mestre de cerimónias das noites de poesia que acontecem todas as últimas quartas-feiras de cada mês na Fundação Arte e Cultura, mentor do projecto Palavra Poética do ateliê do artista plástico Guilherme Mampuya e tem participado em todas as edições, desde 2014, da revista "Omnira” do Brasil, do jornalista e escritor brasileiro Roberto Leal.

Ismael Farinha começou a dar os primeiros passos como dançarino de break dance, posteriormente passou a integrar o grupo de música Rap com o seu irmão mais velho e amigos do município do Cazenga. Fala Inglês, Francês, Árabe e Afriankanse. É mentor da antologia poética Geração Poema, na qual participaram vários poetas da nova e velha guardas, dentre eles Lopito Feijó, Amélia da Lomba, José Luís Mendonça, Lu Matamba, Adão Zina e Ângelo Reis (o poeta dos pés descalços).

No dia 27 de Fevereiro de 2024, às 17 horas, Ismael Farinha conta lançar a sua primeira obra literária de poesia com o título Prelúdio (dito interdito), com a chancela da editora Azul. "A minha escrita é focada na realidade angolana e mundial, em função dos acontecimentos gerais, dentre eles o amor, racismo, injustiça e religião. O público-alvo é a juventude”.

"A nossa literatura podia estar melhor se houvesse mais divulgação das obras literárias nas escolas. Para estimular a leitura, precisamos de mais divulgação nas escolas, feiras, comunicação social e em bibliotecas, onde as pessoas possam encontrar livros. Por mim, eu ofereço livros nas actividades culturais e escrevo sem parar”, diz, em jeito de conclusão.

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