Sociedade

Jorge Antunes: “Estudei para oferecer o melhor da comunicação para Angola”

Kátia Ramos

Jornalista

Começou a trabalhar na Rádio Nacional de Angola (RNA)com apenas oito anos de idade, por influência da sua mãe, a escritora Gabriela Antunes, que geria uma actividade infantil na biblioteca “Miruí”, com sessões de leitura de histórias que eram emitidas no programa radiofónico “O Sol”. Jorge Antunes era uma das crianças que lia histórias. A realizadora do programa era Laurinda Santos e Ladislau Silva o técnico. Isto em 1980. Acompanhe a trajectória daquela criança que hoje é um dos mais respeitados comunicólogos angolanos

10/03/2024  Última atualização 08H08
© Fotografia por: Contreiras Pipa | Edições Novembro

Dono de um timbre vocal angelical, acompanhado da sua irmã Cláudia, Jorge Antunes passou a narrar as histórias do programa "O Sol” e nesta altura já lhe foi atribuído o seu primeiro cartão de colaborador da RNA.Em 1983 foi lançado o programa Rádio-Piô, de que aos 11 anos era colaborador.Aos 17 anos tornou-se realizador do programa, tendo ficado por lá até aos seus 19 anos. Além de realizador escrevia e lia histórias, ao mesmo tempo que fazia participações nos espectáculos que se realizavam no Dia Internacional da Criança, 1 de Junho, e no Dia do Pioneiro Angolano, 1 de Dezembro.

Após terminar o ensino médio conseguiu uma bolsa de estudos para fazer o ensino superior fora do país. De regresso ao país, recebeu a proposta de coordenar o departamento de publicidade da Rádio Luanda Antena Comercial (LAC).

Licenciado em Comunicação Social pela Universidade do Minho, Portugal, com especialidade em Publicidade, é também pós-graduado em Marketing Político e Assessoria de Imprensa.Inscrito em 2012 e 2018, por questões pessoais não terminou o doutoramento em Comunicação Estratégica para a Televisão.Mas este ainda é um dos objectivos que tem em carteira.

Como director de publicidade na LAC, aproveitou a oportunidade para fazer vários programas. Um deles, com muita audiência, foi o Estrelas ao Palco, adaptado de programas internacionaisde imitação e novos talentos. Em 2001, o referido programa teve a parceria da TPA, o que possibilitou a sua incursão definitiva no universo televisivo, com alcance nacional.

Em 1997, quando terminou a licenciatura, entrou também para o universo académico, dando aulas no colégio Jacimar. Com a pós-graduação, feita na Universidade Independente de Lisboa/Complutense de Madrid, criou e implementou,com o auxílio da sua mãe, os cursos de Comunicação Social e Relações Internacionais no ISPRA, actualmente Universidade Privada de Angola.

Explicou que entenderam criar as referidas licenciaturas, porque na altura eram as que tinham maior impacto a nível nacional,nas áreas de Ciências Sociais e Humanas, com formação específica dos comunicólogos e diplomatas.

Jorge Antunes não se permite ao comodismo. Gosta de expandir a sua experiência laboral. Por esta razão a sua paixão por actuar na área de Publicidade levou-o a trabalhar na agência de publicidade Lito Mídia, como conselheiro de comunicação e imagem da British Petrol um (BP) Angola e director de comunicação da Coca-Cola. "A especialização em Publicidade e Comunicação é a minha área de estudo,mas a Rádio e a Televisão vêm de um amor que nasceu e cultivei.Foi aí que consegui alcançar muito sucesso e alegria”.

Com uma composição de seis nomes, assina Jorge Antunes, porque quando entrou para a RNA, aos oito anos de idade, a sua mãe era bastante conhecida e herdou o seu apelido.

 
Sonhos e projectos

Jorge Antunes nasceu no município da Ingombota, em Luanda, em 1972."Solteiro e bom rapaz”, é pai de Dimitri Gomes, 14 anos, e tem vários afilhados que faz questão de apresentar como filhos, tais como o Dawanny, o Pedro e a Azinhas. A sobrinha Bruna considera-o como pai. "Sou o orientador e dou os devidos conselhos para que eles sigam com muito amor na vida. Por esta razão não consigo dizer que tenho só um filho”.

"Dimitri é o mais novo e é a razão do meu viver.Encontra-se neste momento fora e é um futebolista nato”.

Jorge Antunes é filho do belga ClaudeYves Jacques, fotógrafo e publicitário. A sua mãe, Maria Gabriela Cardoso da Silva Antunes, escritora e professora de inglês, alemão, português, literatura angolana e várias outras disciplinas, era uma figura altamente mediatizada.

Hoje como director-geral do ZAP Estúdios, Jorge Antunes conta com uma agenda preenchida.As 24horas do dia não têm sido suficientes para a realização das suas tarefas diárias. "Eu digo que a ZAP é uma empresa ciumenta, não me deixa ter outros compromissos, devido às responsabilidades que exerço, tanto na área administrativa, como na criativa e nos estúdios”.

No entanto, tem vários projectos pessoais, que quer implementar:workshops e aulas de media training, como falar em público, e, para directores de empresas, como responder à comunicação social.Não lhe tem sido possível realizá-los com a regularidade desejada, devido às suas actuais responsabilidades. "Somos uma televisão de entretenimento com implicações junto da juventude e temos de estar sempre em cima das equipas. Por esta razão, as reuniões são constantes, as correcções acontecem, visto que a ZAP é uma TV-Escola, onde os jovens entram apenas com a formação média ou universitária. Hoje muitos deles são estrelas da TV”, disse.

"Gosto de partilhar conhecimento, por isso algumas vezes dou aulas de comunicação privada a empresas, como um extra. Também partilho os conhecimentos em instituições de ensino; acho que é importante passar a palavra de boas práticas profissionais, e não só”.

Jorge Antunes tem, também, projectos pessoais relacionados com a Saúde e Bem-estar físico e psicológico. E quer ter uma rádio e um canal de televisão, onde possa promover a Cultura angolana. Este desejo necessita de recursos extras, por isso fica em stand by es perando encontrar um financiador. "Uma rádio e uma televisão cultural não dão lucro material, mas dá a possibilidade de ampliar o nível de conhecimento da sociedade angolana”.

Consta dos seus sonhos escrever um livro sobre as suas experiências na televisão.Após passar pela realização do programa Estrelas ao Palco, considera estar na altura de deixar por escrito os seus feitos e os caminhos que trilhou para oferecer aos telespectadores o melhor que uma televisão de entretenimento pode proporcionar. "Quando eu não estiver aqui fisicamente, gostava que o meu conhecimento fosse perpetuado às gerações vindouras”.


Entrega total ao trabalho

Jorge reitera que é um homem totalmente entregue ao trabalho no canal ZAP Viva ou no ZAP Estúdios."Dou 100 por cento de mim, para que seja um canal cada vez mais querido da população, razão pela qual a ZAP foi a primeira a dar voz aos novos valores e oportunidades à criatividade artística juvenil. Retiramos aquilo que era uma elite fechada e demos esperança à população que hoje se revê nos programas da ZAP”, afirmou, enfatizando: "Nós aqui construímos estrelas.Temos vários apresentadores que chegaram do nada e hoje são ícones da sociedade angolana, sendo este o meu grande objectivo.Onde eu estiver vou partilhar o meu conhecimento a 100 por cento”.

O canal ZAP Viva permitiu a muitas pessoas terem uma agenda de trabalho, por aparecerem na TV sem pagar nada.Vários artistas sem disco no mercado puderam apresentar o seu talento e tiveram agendas de espectáculos, e, desta forma, o canal massificou e contribuiu para o surgimento de novos valores.

Jorge Antunes tem um lado que poucos conhecem: foi campeão pela Selecção Angolana de Natação. De 1983 a 1991 foi campeão nacional de natação pelo 1º de Agosto e pelos Dínamos de Luanda. Em 1988 esteve nos Jogos Olímpicos de Seul, Coreia do Sul, integrado na Selecção Angolana de Natação. Há 30 anos foi recordista em vários estilos, a nível absoluto. "Não havia ninguém que fizesse melhor do que eu nos 200 metros mariposa e nos 400 metros estilos”, realçou. Essas performances   o levaram a competir nos Jogos Pan-Africanos do Egipto, em Moçambique, Portugal, Espanha, Cuba e noutros torneios internacionais. Além de atleta da natação foi treinador e dinamizador do pólo aquático.

Jorge Antunes confidenciou ao Jornal de Angola que gostaria de ser presidente da Associação dos Atletas Olímpicos de Angola, da qual faz parte.

Após cerca de 30 anos sem nadar, voltou a praticar natação há cerca de um mês.Garante que tem conseguido fazer por volta de mil metros por dia. E  manifestou o desejo de voltar a competir, agora como master, categoria das pessoas mais velhas, que deixaram a carreira semi-profissional e treinam por prazer.

Cozinheiro de mão cheia, Jorge considera-se "dono do melhor arroz de pato, bacalhau com natas e massa com todos. E gostaria de aprender a fazer o funje”. Tempos livres? Muito poucos: "Não tenho muitos momentos de descanso, trabalho em casa, em grupos do WhatsApp e estou sempre atento à televisão, mesmo sabendo que não é saudável”.

Dono de uma biblioteca em casa, faz muita leitura técnica, pesquisa na inteligência artificial, procura ler 10 livros por ano e tem separados mais de 300 livros que leu, entre eles, muitos sobre comunicação social e sobre televisão, como deve ser o melhor apresentador, como fazer marketing dentro da televisão, e sobre como o digital pode estar associado à televisão para inovar e para trazer sempre uma novidade para o público, que é muito exigente e evolui todos os dias.

Nisso de não conseguir viver sem o trabalho, Jorge Antunes tem a sua mãe como fonte de inspiração. Jó Soares (em memória) e Luciano Huck, apresentadores brasileiros e o português Herman José, foram apontados como referência profissional. "Gostaria de ter a oportunidade de fazer acontecer os programas que eles têm, aqui em Angola, mudar de alguma maneira a televisão”.

Idealizou e/ou implementou, com parceiros como Patrícia Pacheco, ou a sós, projectos na LAC, TPA, Zimbo e colaborou com a Semba Comunicação no programa "Angola Encanta”. Já fez formatos internacionais, como apresentar o "Quem Quer ser Milionário”, e o Big Brother Angola como director de conteúdos. O seu maior orgulho, "sem arrogância”, como faz questão de sublinhar,"é trazer inovação, um toque diferente, cor, música e alegria, de forma a colocar o público sempre atento à TV”.

Na ZAP têm o seu dedo os programas UNITEL Estrelas ao Palco, Viva a Tarde, Grandes Manhãs, Dá Jajão e outros. "Todos com o auxílio de uma grande equipa de trabalho que busca dar ao telespectador o melhor em termos de entretenimento”, esclareceu.

"Estudei para oferecer o melhor da comunicação para Angola e em homenagem à minha mãe que fez um esforço e batalhou para criar os filhos, e que se dedicou apenas à profissão e à família. Hoje eu e a minha irmã somos formados. Bem formados!”.

Ao descrever as memórias que tem da sua mãe, lembrou-se das histórias por ela contadas, muitas oriundas das suas constantes leituras e outras criadas pelo seu imaginário. Na época em que o país vivia a dificuldade da falta de luz e água, ela acendia velas e inventava jogos para divertir os filhos."Foi a minha maior incentivadora para a prática do desporto: basquetebol, karaté e natação.  Gostava de passear com os filhos na praia e tinha uma mão mágica para cozinhar a melhor cachupa.Mas era mesmo estar com os amigos Manuel Rui Monteiro e Luandino Vieira, entre outros escritores e amigos, a cantar e a ler poemas, o momento de lazer puro.Com as suas melhores amigas, Vera e Laura, ficavam à varanda, nos fins de tarde a beber café e chá e a colocar a conversa em dia.Era uma professora rigorosa e tornou-se para a maioria dos seus ex-alunos uma grande referência”.

"Foi a minha parceira, aceitou as minhas sugestões e juntos construímos uma licenciatura que formou muita gente que hoje estão no mercado a fazer sucesso, como a Dicla Burity, o Yuri Simão, o Celso Malovaloneke, e outros, que obtiveram um alicerce forte para a construção das suas carreiras”.

Jorge Antunes, que não esconde a emoção ao evocar a memória da mãe, adiantou: "Ela não era crente, aos 16 anos deixou de frequentar a igreja, mesmo tendo uma mãe muito religiosa, mas eu, aos 18 anos, fui baptizado contra a sua vontade.Havia muitos momentos em que não nos entendíamos, mas com muita conversa, por sermos pessoas da comunicação, achávamos sempre o equilíbrio”.


A comunicação social que temos

Em relação à comunicação social do país, em termos de entretenimento, Jorge Antunes diz que está a progredir. "Há muita variedade em termos de rádio e televisão. A massificação às vezes deteriora a qualidade, mas os melhores resistem. Em relação à imprensa escrita, não posso dizer o mesmo, pois é inexistente, praticamente”.

Há em Angola muitos portais com notícias online e a televisão já conta com um canal 24horas de informação."Mas falta investimento dos privados na imprensa escrita (diária ou semanal, jornais, semanários e revistas) que pode ser temática, de música, teatro, ciência, medicina ou telecomunicações de entretenimento ou de especialidade. Sinto a falta disso. De ir a uma banca e ver dezenas de revistas e jornais”.

Para dar solução a esta questão, Jorge Antunes sugere que haja incentivo às empresas que fazem publicidade, que deveriam ter ganhos fiscais, "pois elas têm de ser beneficiadas por este apoio à imprensa, cultura, desporto e recreação.Só assim haverá maior variedade”.

Jorge Antunes sonhava em ser actor ou veterinário, mas foi a veia da comunicação que venceu.Teve a oportunidade de actuarem alguns capítulos da novela de produção angolana "Sede de Viver”, e adorou.Também fez uma participação nos Tuneza, e até hoje, segundo afirmou, as pessoas falam do personagem.

Ama dançar e considera-se uma pessoa de trato fácil.E afirma-se como amigo dos animais "pois fazem bem à alma”. Por isso,cria vários na sua residência.

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