Política

“Memórias e lições do passado vão guiar as pátrias e os povos”

O Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, celebrou ontem "as pátrias e os povos irmãos" das antigas colónias de Portugal "que o 25 de Abril uniu", tendo considerado que o futuro será guiado pelas memórias e lições do passado colonial.

26/04/2024  Última atualização 10H20
Presidente anfitrião falou das lições da história e dos laços de fraternos e de amizades entre as partes © Fotografia por: miguel Lopes Lusa

Marcelo Rebelo de Sousa falava numa sessão comemorativa do 50.º aniversário do 25 de Abril, no grande auditório do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, para a qual convidou os Chefes de Estado de Angola, de Cabo Verde, da Guiné-Bissau, de Moçambique, de São Tomé e Príncipe, e  de Timor-Leste, José Ramos-Horta, que discursaram antes.

No curto discurso, o Chefe de Estado português descreveu a sessão como um encontro "de futuro" e fez breves referências ao passado colonial. "Do passado colonial guardamos todos as memórias e as lições que nos hão-de guiar no futuro", afirmou. "Do passado livre dos últimos 50 anos retiramos a inspiração para irmos mais longe na afirmação da força do nosso futuro, na língua, na cultura, na ciência, no Estado de direito, na sociedade, na economia, na diplomacia da paz, do desenvolvimento sustentável, da luta contra a pobreza, da acção climática, do respeito pelo direito internacional e os direitos humanos, do multilateralismo, do universalismo", acrescentou.

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, "foi assim há 50 anos, com os capitães de Abril, culminando tantos sonhos e tantos heroísmos da resistência", e "assim será para sempre".

"Nós o prometemos, neste encontro do futuro. Viva o 25 de Abril, vivam as pátrias e os povos irmãos que o 25 de Abril uniu há 50 anos. Viva Angola, viva Cabo Verde, viva a Guiné-Bissau, viva Moçambique, viva São Tomé e Príncipe, viva Timor-Leste, viva o precursor Brasil, viva a CPLP, viva Portugal, livre e democrático, 50 anos depois", exclamou o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.

  Os discursos dos Chefes de Estado convidados

Chefes de Estados das antigas colónias portuguesas, cuja independência esteve ligada ao 25 de Abril,discursaram na sessão comemorativa e destacaram o papel simbólico da data.

Carlos V. Nova: "É importante lutar para imunização da democracia”

Presidente de  São Tomé e Príncipe, Carlos Vila Nova, sublinhou que Portugal "pôs-se do lado certo da História" com o derrube da ditadura em 25 de Abril de 1974, tendo salientado que se comemora "um evento marcante que transcende e ressoa profundamente na consciência colectiva de muitas nações".

Para as gerações futuras, defendeu, é importante "lutar pela imunização da democracia e das suas instituições", adiantando ser "obrigação" deixar-lhes "esse imenso património material da nossa civilização".

Carlos Vila Nova fez um paralelismo entre a luta armada dos movimentos de libertação nas ex-colónias com a revolução que derrubou a ditadura.

"Muitos advogam e parece ser-lhes dada razão que a liberdade advinda com a Revolução de 25 de Abril é tributária em larga medida dos movimentos de libertação", disse.

Filipe Nyusi: "É um tributo merecido aos heróis da luta anticolonialista ”

Para o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, a Revolução de 25 de Abril foi construída não só em Portugal, mas também pelas antigas colónias.

"É preciso que nas nossas escolas, em Portugal e nos países da lusofonia, ensinemos a verdade: o 25 de Abril foi construído em Portugal, em Angola, em Moçambique, em São Tomé e Príncipe, na Guiné-Bissau e em Cabo Verde, e a nossa presença nesta efeméride é um tributo merecido aos heróis da luta anticolonialista e aos jovens capitães portugueses que a 25 de Abril puseram fim a um regime que subjugava os nossos povos", disse o Presidente moçambicano.

No discurso, o Chefe de Estado moçambicano vincou que quem estava em guerra não era o povo português e moçambicano, mas sim soldados que eram obrigados a cumprir ordens "de um regime fascista" de que os jovens tinham dificuldade de escapar, por um lado, e um povo unido pelo desejo de liberdade, do outro.

José M. Neves: "Alerta para consequências da "incapacidade” dos governos

O Presidente da República de Cabo Verde afirmou, ontem, que a "manifesta incapacidade” dos governos em responder às exigências dos cidadãos conduz a fenómenos como o populismo nos países desenvolvidos e à tomada do poder pelos militares nos Estados pobres.

José Maria Neves discursava em Lisboa durante a sessão comemorativa do 50.º aniversário do 25 de Abril de 1974, que contou com a participação de Chefes de Estado das antigas colónias portuguesas.

"No dealbar do século XXI, surgem sinais que despertam, naturalmente, muita preocupação. Há um sentimento de que a democracia está a ser carcomida, assiste-se a um recuo efectivo e a fortes ameaças”, disse.

Para José Maria Neves, "a globalização tem conduzido ao empobrecimento e compressão da classe média, nos países desenvolvidos, e ao aumento das desigualdades entre e nos diferentes países”.

Umaro Embaló: "25 de Abril convoca para uma reflexão conjunta das lutas”

O Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, manifestou o "orgulho" do povo guineense de ter dado "o contributo original" para a transformação histórica que culminou na Revolução de Abril, na descolonização, e na democracia nos PALOP.

Sissoco Embaló recordou que há 50 anos, quando se deu o 25 de Abril, o "povo guineense em luta - dirigido pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) de Amílcar Cabral - já tinha proclamado unilateralmente a sua própria independência nacional, o seu próprio Estado" e este "evento histórico relevante", em 24 de Setembro de 1973, foi reconhecido "por uma larga maioria" dos membros da ONU.

"A evocação da Revolução portuguesa do 25 de Abril convoca imediatamente para uma reflexão conjunta das lutas de libertação nacional dos nossos povos", disse Embaló, sublinhando a ocorrência de "dois processos históricos que se cruzavam".

Estes dois processos, disse, "tinham em comum uma mesma aspiração”, liberdade e libertação nacional, pelo que não foi "de estranhar que uma convergência estratégica - entre os combatentes contra o Império e os combatentes contra a ditadura - começasse a ganhar, pouco a pouco, maior densidade, maior força”.

Ramos-Horta: "Portugal soube reconhecer derrota colonial”

O Presidente da República de Timor-Leste, José Ramos-Horta, considerou que Portugal soube reconhecer a derrota colonial e que a reconciliação com os países vencedores aconteceu rápida, imediata e naturalmente.

Na sua intervenção, o Presidente timorense disse ter "orgulho dos PALOP" e que os timorenses são "eternamente gratos pela fraterna solidariedade durante os anos negros da jornada pela independência".

"Os portugueses souberam reagir às mudanças sem ódio nem vinganças, sem fuzilamentos, sem guerra civil, aceitaram as independências e lutaram connosco pelo longínquo Timor”, disse Ramos-Horta durante a sua intervenção na cerimónia de comemoração dos 50 anos do 25 de Abril.

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