Reportagem

Parque do Luengue-Luiana precisa de bebedouros para a retenção dos animais

Carlos Paulino | Menongue

Jornalista

O Parque Nacional do Luengue-Luiana, no município do Rivungo, província do Cuando Cubango, precisa, urgentemente, de instalação de bebedouros e pedras de sais minerais em locais específicos, para melhor atracção e retenção das espécies de animais no seu habitat.

12/02/2024  Última atualização 09H32
Parque ocupa uma área de 45.818 quilómetros quadrados © Fotografia por: Carlos Paulino | Edições Novembro

Criado com base na Lei n.º 38/11, de 29 Dezembro, o Parque Nacional do Luengue-Luiana tem 45.818 quilómetros quadrados e abrange, também, as localidades do Luengue (município de Mavinga) e Mucusso (Dirico). Está inserido no Projecto de Conservação Ambiental Okavango-Zambeze (KAZA), situado nas bacias fluviais dessas regiões, onde as fronteiras de Angola, Botswana, Namíbia, Zâmbia e Zimbabué convergem.

As espécies de animais selvagens mais abundantes são os búfalos, elefantes, as impalas, os hipopótamos, as palancas pretas,  zebras,  onças, os leões, as hienas e os javalis que, a par dos recursos florestais e hídricos, tornam o parque numa das maiores atracções turísticas da região sul de Angola.

O administrador municipal do Rivungo, João Wilson Tchimbinde, explicou, ao Jornal de Angola, que, por falta de bebedouros, sobretudo na época de cacimbo, e de pedras de sais minerais no interior do Parque Nacional do Luengue-Luiana, os animais procuram por estas condições nos países vizinhos, com destaque para a Namíbia.

 
Pedras de sais minerais

As pedras de sais minerais são fundamentais para uma dieta equilibrada e saúde dos animais selvagens, além de permiterem a sua concentração nos principais pontos de atracção turística.

"Com a instalação de bebedouros e as pedras de sais minerais, pretendemos ver a concentração dos animais nos principais pontos de referência, onde os turistas podem encontrar, com facilidade, as manadas de elefantes, búfalos, zebras, palancas pretas e outras espécies, sem procurarem muito”, explicou.

No tempo chuvoso, disse, é difícil encontrar grandes agrupamentos de animais no Parque Nacional do Luengue-Luiana, porque estes ficam dispersos devido aos charcos de água que impedem a concentração num único ponto.

Esta realidade foi comprovada durante a excursão que mais de 180 turistas nacionais e estrangeiros efectuaram, de 18 a 22 de Janeiro, ao Parque Nacional do Luengue-Luiana, no quadro do 1.º Fórum da Região Angolana do Okavango. Na ocasião, os excursionistas apenas tiveram a oportunidade de ver impalas e hipopótamos.

 
Desilusão

Para muitos turistas, que percorreram mais de dois mil quilómetros, correspondentes ao trajecto de ida e volta da cidade de Menongue ao Parque Nacional do Luengue-Luiana, a excursão foi uma autêntica desilusão, porque não conseguiram ver, fotografar nem fazer vídeos das grandes manadas, sobretudo de elefantes, búfalos e palancas pretas, que são as principais atracções do local.

A desilusão também é justificada pelos problemas registados no percurso até ao parque, devido ao estado avançado de degradação das vias de acesso.

É a pensar nesta e outras situações que visam, também, uma melhor preservação das espécies de animais, que o administrador municipal do Rivungo defende a implementação, com urgência, de bebedouros e pedras de sais minerais no parque, para que os turistas possam, em qualquer época do ano, desfrutar da diversidade dos recursos faunísticos. 

Segundo João Wilson Tchimbinde, o Parque Nacional do Luengue-Luiana, com uma infinidade de ecossistemas e belezas naturais, clama apenas por investimentos para melhor conservação da biodiversidade, protecção da integridade ecológica, realização de pesquisas científicas, desenvolvimento do ecoturismo e actividades de educação ambiental.

"É por esta razão que queremos que sejam criadas condições propícias e atractivas para que os animais voltem ao seu habitat natural. Muitos emigram em busca de melhores condições de acomodação e alimentação que os outros parques dos países vizinhos oferecem e que não se encontram nem no parque do Luengue-Luiana, nem no de Mavinga”, disse.

 
Falta de cobrança de ingressos para o parque

O administrador municipal do Rivungo defendeu, igualmente, a aposta no investimento em infra-estruturas turísticas e vias de acesso no interior do parque, para a dinamização do turismo e outras actividades relacionadas, bem como para o bem das comunidades que vivem ao redor.

Outra questão importante, segundo o administrador, tem a ver com a falta de cobrança aos turistas que visitam o parque, pois os valores a arrecadar serviriam, fundamentalmente, para a manutenção e o apoio à logística dos fiscais ambientais.

Para o efeito, disse ser urgente que se montem portões de entrada e saída do parque, para permitir a cobrança de taxas ou emolumentos que contribuam para o crescimento da arrecadação de receitas para os cofres do Estado e a redução do nível de desemprego e da fome da população.

O administrador sublinhou que, nos outros países-membros do projecto Okavango-Zambeze, os turistas  pagam um valor para visitar os parques, o que não acontece no Parque Nacional do Luengue-Luiana, nem no de Mavinga, ambos localizados na província do Cuando Cubango.

A cobrança de ingressos para o parque, garantiu, fará com que esse grande projecto, na componente angolana, acelere o desenvolvimento socioeconómico da província e proporcionar melhores condições de vida para a população, caso haja investimentos que promovam o ecoturismo.

O administrador apontou à necessidade de construção de infra-estruturas para a exploração do turismo, com realce para lodges e serviços de restauração nas localidades de Buabuata, Jamba, Boa-fé, Benório, Chocho, Chacha, Ilha do Naruanda, Ilha da sede, Santa Cruz, Papa-1, Rom-2, Bico de Angola, Real (antigo porto fluvial) e na lagoa do Vezi-vezi, no município do Rivungo.  

 
Instalação de agências bancárias

João Wilson Tchimbinde considerou que o desenvolvimento do turismo passa, também, pela instalação de agências bancárias no município do Rivungo, a fim de facilitar a actividade dos investidores e turistas nacionais e estrangeiros.

"Pretendemos, com a implementação destes e outros projectos, fazer do sector do Turismo, através do Parque Nacional do Luengue-Luiana, uma fonte de renda para o desenvolvimento socioeconómico do nosso município e, consequentemente, a melhoria das condições sociais da população”, sublinhou.

 
Número reduzido de fiscais ambientais  

Outro assunto que inquieta o administrador municipal do Rivungo é o número reduzido de fiscais ambientais para controlar os 45.818 quilómetros quadrados que compreendem o Parque Nacional do Luengue-Luiana.

Sem revelar o número de efectivos existentes, João Wilson Tchimbinde disse ser necessário o reforço do pessoal com, pelo menos, mais 300 fiscais, de forma a contrapor as acções negativas dos caçadores furtivos e outras pessoas inimigas do ambiente.     

"O nosso parque tem uma área muito vasta, que tem sido guarnecida por um número ínfimo de "soldados da natureza”, insuficiente para o combate cerrado aos caçadores furtivos, sobretudo os namibianos e zambianos, que invadem o território nacional para dizimarem, principalmente, elefantes, com o objectivo de extrair o marfim, búfalos, javalis e impalas, para o comércio da carne”, disse.

O administrador defendeu que os fiscais a serem recrutados devem ser naturais dos municípios do Dirico, Rivungo e Mavinga, porque conhecem melhor as matas do parque e não precisam de muitas condições de alojamento e logística. Efectivos oriundos de outras regiões, disse, exigiriam muitas regalias para trabalharem nessa função.

 
Construção da sede do parque

O administrador municipal do Rivungo defendeu, ainda, a construção da sede do Parque Nacional do Luengue-Luiana. Até ao momento, disse, não existe nenhuma infra-estrutura para atender os assuntos relacionados com o projecto.

João Wilson Tchimbinde referiu que, caso a ideia seja validada, as futuras instalações do parque devem ser construídas na sede comunal do Luiana, concretamente na Jamba, na localidade do Benório ou Boa-fé, arredores da zona do Bico de Angola.

"Actualmente, não existe um local onde uma pessoa se possa dirigir caso pretenda fazer uma pesquisa científica ou visitar as principais áreas de atracção turística do parque, por falta de uma direcção”, lamentou o administrador, para quem, além de uma infra-estrutura própria, é necessário o recrutamento de quadros e guias turísticos qualificados para o pleno funcionamento da sede.

Pelo facto de os principais gestores do parque não residirem na região, João Wilson Tchimbinde disse ser, igualmente, necessário incluir a Administração Municipal do Rivungo no sistema de gestão, assim como a sua participação no desenvolvimento de projectos de conservação, educação e sensibilização, em colaboração com o Governo da Província, Ministérios do Ambiente, da Cultura e Turismo, comunidades locais e outros grupos.

Segundo o administrador, constitui, também, prioridade a construção de uma ponte sobre o rio Cuando, entre a sede municipal do Rivungo e a localidade namibiana do Shangombo, para promover o turismo na zona do projecto Okavango-Zambeze e, consequentemente, da região da SADC.


Imensos recursos da flora e da fauna por explorar

A ambientalista Eufrazina Teodoro Paiva, que integrou a delegação de turistas e investidores que visitou o Parque Nacional do Luengue-Luiana, disse ter ficado com uma boa impressão da região, que conta com imensos recursos florestais e faunísticos praticamente virgens.

Trata-se, segundo a entrevistada, de uma "oportunidade única” que Angola tem de investir e conseguir gerar empregos, tanto para classes baixas como médias, contribuindo para a concretização do programa de diversificação da economia.

"Temos uma imensidão de recursos naturais que, devidamente utilizados, vão poder desenvolver mais o turismo. Podemos, além do petróleo, ter este sector como uma das grandes fontes de receitas para o Estado angolano”, destacou.

Eufrazina Teodoro Paiva realçou que teve a oportunidade de andar, durante cinco dias, por vários municípios e comunas da província do Cuando Cubango que fazem fronteira com a Namíbia e a Zâmbia, onde conheceu muitos rios e paisagens lindas que qualquer turista gostaria de conhecer.

A ambientalista constatou, também, a existência de várias ravinas, pelo que, enquanto não acontece uma maior intervenção por parte das estruturas centrais, sugeriu ao Governo da Província do Cuando Cubango que encontrasse uma solução para o problema, trabalhando com as comunidades locais na plantação de cactos ao longo das vias, visando evitar a contínua erosão dos solos.

A ambientalista alertou, igualmente, que, se não se fizer nenhuma intervenção para o estancamento das ravinas, nos próximos dias, estas podem cortar a circulação de viaturas entre a cidade de Menongue e os municípios do Cuangar, Calai e Dirico. Manifestou a disponibilidade da Associação Ambiental Imbondeiro, da qual é membro, em fazer a entrega das primeiras mudas de cactos, para depois serem multiplicados localmente.

Segundo a ambientalista, a ideia é dar também uma formação às comunidades locais e estas, por sua vez, fazerem o trabalho para a criação e plantação dos cactos nas áreas onde estão a surgir as ravinas.

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