A Organização das Nações Unidas (ONU) considera importante incutir hábitos sustentáveise consciência climática nas famílias desde cedo, pelo papel que desempenham na transmissão de valores ao longo de gerações.
Edna Varela engravidou pela primeira vez aos 30 anos. Na altura, já estava casada há cinco. O casal estava ansioso para ter o primeiro filho. Em parte porque não aguentavam mais a pressão familiar e dos amigos, situação que, às vezes, originava fortes brigas, a ponto de pensarem em se separar para cada um tentar a vida com outra pessoa.
Depois de tantas tentativas para engravidar, Edna Varela conseguiu. A tão esperada notícia foi motivo de festa em casa do casal. Durante os nove meses de gestação as coisas correram bem. A gravidez foi saudável e, inclusive, Edna trabalhou até ao oitavo mês.
No dia 10 de Outubro de 2014, Edna Varela trouxe ao mundo, na Clínica Multiperfil, o menino Emerson Alexandre, que nasceu com 3.500 gramas de peso. O parto foi normal e ela acabou por receber alta hospitalar no dia seguinte. Tudo correu na normalidade até aos quatro meses do bebé, quando a mãe começou a notar que a criança não tinha equilíbrio no pescoço e, às vezes, chorava muito, sem grandes motivos. Ao pensar ser normal, devido aos conselhos de pessoas próximas, o tempo foi passando.
No final do sexto mês, Edna percebeu que o filho tinha dificuldade para sentar, tal como as demais crianças com a mesma idade. Preocupados, Edna e o esposo levaram o filho para as urgências do Hospital Pediátrico de Luanda, onde, durante algumas semanas, lhe fizeram vários exames físicos e clínicos.
O diagnóstico saiu e ficou provado que Emerson Alexandre tinha paralisia cerebral moderada, acto que lhe provocou paraplegia (condição física na qual a pessoa não consegue movimentar ou sentir as pernas, geralmente causada por uma lesão na medula espinhal) e um dos membros superiores estava a ficar atrofiado.
"Ao receber a notícia, simplesmente começámos a chorar. Não entendemos até hoje, porque isso aconteceu ao bebé, uma criança tão desejada. Tivemos todos os cuidados desde o primeiro mês de gestação”, contou, realçando que ficou, durante três anos, com receio de voltar a engravidar.
Após a notícia, Edna passou a levar o filho à sala de Fisioterapia do Hospital Pediátrico de Luanda. Hoje, recorda, que depois do diagnóstico foi aconselhada a incluir o menino num programa de fisioterapia, terapia da fala e ocupacional, para tentar minimizar os efeitos da paralisia e o conferir mais independência.
"O meu menino que parecia muito inteligente, por conta da paralisia cerebral, estuda apenas a segunda classe. Ele está com déficit de aprendizagem acentuado e isso me entristece muito, mas tenho paciência e muito amor. Ele tem a atenção de todos em casa, inclusive decidi trabalhar por conta própria só para estar mais tempo com ele e lhe levar com regularidade às sessões de terapia”, disse.
Números divulgados pela OMS
Tal como Emerson Alexandre, que no dia 10 deste mês completa nove anos e para andar tem de fazer recursos à cadeira de rodas, muitas crianças ao redor do mundo estão na mesma condição.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, 17 milhões de pessoas vivem com paralisia cerebral (PC) e outras 350 milhões estão intimamente ligadas a uma criança ou um adulto com a patologia.
As estatísticas da OMS apontam que duas a cada mil crianças nascidas vivas sofrem de paralisia cerebral e uma em cada quatro crianças com PC não consegue falar, ou andar, assim como uma em cada duas tem deficiência intelectual ou epilepsia.
O Dia Mundial da Paralisia Cerebral (PC) foi instituído pela OMS em 2012, fruto de uma iniciativa do movimento global criado pela Cerebral Palsy Alliance. O objectivo da data é promover a discussão sobre a inclusão e a vivência de pessoas com paralisia cerebral a um alcance global e desmistificar o preconceito, conhecido como capacitismo.
Casos registados no Hospital David Bernardino
Em Angola, o hospital Pediátrico David Bernardino tem assistido crianças oriundas de todas as províncias do país, com doenças graves, sendo uma delas a paralisia cerebral, cujos números indicam um total de 1.500 crianças com diagnóstico positivo.
O chefe dos Serviços de Neuropediatria, do Hospital Pediátrico de Luanda David Bernardino disse que a unidade diagnostica, por mês, oito a nove casos novos suspeitos de paralisia cerebral.
Leite Cruzeiro informou que estes são os casos registados pelo Hospital Pediátrico. "Hoje, é fácil identificar tais casos, pois muitos pediatras conseguem identificar logo crianças com algum sinal de paralisia cerebral e as encaminham, de imediato, às sessões de fisioterapia. Por isso, não temos o controlo de muitas crianças. Assim, apesar dos números serem baixos, é preciso ter noção que não é um reflexo da estatística real”, adiantou, acrescentando que o serviço de Neuropediatria do hospital já funciona há mais de 15 anos.
Definição e causa
O médico Leite Cruzeiro explicou que a Paralisia Cerebral (PC), também conhecida por paralisia infantil, é uma deficiência comum na infância, caracterizada por algumas alterações neurológicas permanentes que afectam o desenvolvimento motor e cognitivo dos menores, incluindo o movimento e a postura do corpo.
O especialista em Neuropediatria disse que estas alterações são decorrentes de uma lesão do cérebro em desenvolvimento e muitas podem ocorrer durante a gestação, no nascimento ou no período neonatal (depois da nascença), o que causa limitações nas actividades quotidianas da pessoa afectada.
A paralisia cerebral, explicou, é mais comum até aos 18 meses, altura em que acontecem as doenças causadas por bactérias, fungos, vírus, que podem lesar o cérebro. Quando a doença ocorre depois dessa fase, em regra é sempre consequência de acidentes de viação, traumatismo e pré-afogamento.
O neuropediatra explica que uma das principais causas da doença é a hipóxia, que ocorre quando por algum motivo relacionado ao parto, tanto à mãe, quanto ao feto, têm falta de oxigenação no cérebro, o que resulta em lesão do cérebro. "Doenças como meningites e encefalites originam a doença, por afectar o sistema nervoso central”, revelou.
Outras causas, acrescentou, são as anormalidades da placenta ou do cordão umbilical, infecções, diabetes, hipertensão (eclâmpsia), a desnutrição, o uso de drogas e álcool durante a gestação, assim como traumas no momento do parto, hemorragia, hipoglicemia do feto, prematuridade e problemas genéticos.
De acordo com o especialista existe uma grande variação nas formas como a doença se apresenta. "Ela pode ser leve, moderada e em regra, está relacionada à extensão do dano neurológico”, disse, adiantando que as lesões mais extensas do cérebro tendem a causar quadros mais graves. "Os diferentes graus de comprometimento motor e cognitivo podem levar a um leve acometimento com pequenos déficits neurológicos, com grandes restrições da mobilidade, dificuldade de posicionamento e comprometimento cognitivo associado”, realçou.
Em relação às alterações da parte motora, o médico disse que o paciente tem problemas na marcha (paralisia das pernas), hemiplegia (fraqueza em um dos lados do corpo), alterações do tônus muscular (rigidez dos músculos) e distonia (contracção involuntária dos membros).
As alterações cognitivas, continuou, incluem problemas na fala, no comportamento, na interacção social, no raciocínio e em alguns casos os pacientes têm hipopepsia.
Sinais da doença e prevenção
O primeiro sinal de alarme da doença é a falta de desenvolvimento motor da criança, em relação às outras da mesma idade. "Os sinais podem ser a fácil irritabilidade, choros sem causa aparente, ou quando a criança já com dez meses não consegue sentar sem apoio, ou ao atingir um ano de idade não engatinha. Muitas vezes, quando uma criança com dois anos não anda é um forte sinal de uma paralisia cerebral ou outro tipo de transtorno neurológico”.
O neuropediatra Leite Cruzeiro explicou que a paralisia cerebral pode ser prevenível se houver um maior cuidado com o bem-estar da criança, desde o ventre, durante e logo após o parto.
O cumprimento rigoroso do calendário nacional de vacinação e dos cuidados primários de saúde, desde a alimentação, higiene e descanso seguro da criança são as principais formas de prevenção do controlo da paralisia cerebral. "A esperança de vida das pessoas com paralisia cerebral é de 40 anos de vida e, regra geral, morrem por complicações causadas pela deficiência como problemas respiratórios e digestivos”.
Diagnóstico e tratamento
O especialista disse que entre os vários exames feitos para diagnosticar a doença, o mais comum tem sido a Ressonância Magnética, a Tomografia Computorizada, o Electrocefalograma (EEG) e o ultrassom.
Em relação às formas de tratamento, Leite Cruzeiro sublinhou que a terapia para essas pessoas deve ser multidisciplinar, envolvendo fisiatras, ortopedistas, neurologistas, oftalmologistas, pediatras, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, educadores físicos e nutricionistas.
No campo clínico, o médico disse que aos pacientes com convulsões, administram-se injecções apropriadas para se reduzir a contracção muscular e em alguns casos é feita uma pequena cirurgia para libertar os tendões musculares, de forma a diminuir a dor e ter os membros mais flexíveis.
"Também se usa coletes posturais para melhorar a postura do paciente. Em países mais desenvolvidos já se fala em estímulos eléctricos, terapias com o uso de cavalos e aquáticas, feitas em piscinas”, acentuou.
A reabilitação dos pacientes disse tem como objectivos contemplar o ganho de novas habilidades, minimizar ou prevenir complicações, como deformidades articulares ou ósseas, convulsões, distúrbios respiratórios e digestivos.
O neuropediatra considera importante que a pessoa com paralisia cerebral tenha acompanhamento multidisciplinar, porque ajuda na melhoria e na qualidade de vida, permitindo assim que o mesmo tenha uma vida mais próxima do normal.
Tipos de paralisia cerebral
Existem quatro tipos diferentes de paralisia cerebral, nomeadamente paralisia cerebral espástica, atetóide, atáxica e mista.
A paralisia cerebral espástica representa cerca de 70 a 80 por cento dos casos. E, neste tipo de paralisia, o paciente apresenta tônus muscular elevado e movimentos bruscos e exagerados. Esta paralisia é causada por danos ao córtex motor do cérebro, que controla o movimento voluntário.
Já na paralisia cerebral discinética ou atetóide atinge cerca de 10 por cento das crianças e é caracterizada pelo movimento involuntário da face, tronco e membros. Ela é causada por danos aos gânglios da base do cérebro ou cerebelo, que têm a função de regular a função motora voluntária e o movimento dos olhos.
A paralisia cerebral atáxica causa problemas de equilíbrio e coordenação. E, representa uma pequena percentagem dos casos. Esta paralisia difere de outros tipos por ser causada por danos ao cerebelo que é a parte do cérebro que controla o equilíbrio e a coordenação. Os pacientes com paralisia cerebral atáxica frequentemente apresentam tremores e uma redução no tônus muscular.
No que concerne à paralisia atónica ou hipotónica, é uma forma rara e classificada pelo baixo tônus muscular que causa perda de força e firmeza, resultando em músculos frouxos. A instabilidade e a flexibilidade dos músculos causadas pela paralisia cerebral hipotônica podem fazer com que a criança perca etapas de desenvolvimento, como engatinhar, ficar em pé ou andar.
Em relação à paralisia mista, os danos ao cérebro em desenvolvimento não se limitam a um local. A criança desenvolve diferentes tipos de paralisia cerebral causados por várias áreas de lesão cerebral. Este diagnóstico representa menos de 10% de todos os casos de paralisia cerebral.
A taxa de mortalidade e recomendação
Em relação à taxa de mortalidade, o neuropediatra disse ser muito baixa, porque a morte vai depender da causa e da gravidade da paralisia cerebral.
Por isso, apelo a sociedade a cuidarem melhor das crianças, metendo segurança a nível das estradas, escolas, transportes escolares e, acima de tudo, nas nossas próprias casas, porque muitas vezes os acidentes ocorrem dentro de casa, nas piscinas e tanques de água.
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