Política

Presidente e empresários chineses falam do grande potencial de Angola

Geraldo Quiala | Pequim

Jornalista

O Presidente da República, João Lourenço, encontra-se desde quinta-feira, em Pequim, República Popular da China, tendo reservado toda a tarde para reuniões com grandes empresas chinesas, que aproveitaram a ocasião para manifestar o interesse no reforço da sua posição no mercado angolano.

15/03/2024  Última atualização 11H13
João Lourenço recebeu, em audiência, o presidente da empresa China Gezghouaba Group © Fotografia por: CIPRA
Na sequência da agenda,  de ontem, do Chefe de Estado, presente na República Popular da China a convite do homólogo Xi Jinping, João Lourenço recebeu, em audiência, o presidente da empresa China Gezghouba Group (CGGC), Tan Hua.

Com este executivo da construtora da maior obra de engenharia em Angola, neste momento, o Aproveitamento Hidro-Eléctrico de Caculo Cabaça (bacia do rio Kwanza), foram abordados diversos aspectos sobre a importância do projecto para o desenvolvimento do país.

"Hoje, na audiência, reportamos ao Presidente o tema principal do Aproveitamento Hidroeléctrico de Caculo Cabaça, maior aproveitamento de Angola e África. Agora, a execução de Caculo Cabaça encontra-se com todas as actividades principais em curso regular”, afirmou Tan Hua à saída do encontro com o Chefe de Estado angolano.

Segundo o líder da CGGC, a empresa vai redobrar os esforços para cobrir e responder ao pedido do Governo de Angola sobre a geração de energia de Caculo Cabaça. "Fomos informados que os constrangimentos da parte da construção civil já foram ultrapassados. Não existem mais constrangimentos de financiamento pelas entidades financeiras chinesas”, ressaltou.

Além de Tan Hua, também, ontem, o Chefe de Estado analisou temas ligados à actividade no país da China Aero Technology International Engineering Corporation (AVIC), que é a principal empresa na construção do já inaugurado Aeroporto Internacional Dr. António Agostinho Neto, no município de Icolo e Bengo, na província de Luanda.

Durante a audiência, Liu Hong Guang, presidente do Conselho de Administração da AVIC, abordou diversos assuntos ligados à empresa chinesa e os projectos que tem para Angola.

Nesta agenda, inteiramente preenchida com reuniões com executivos das grandes corporações empresariais chinesas , que manifestaram interesse em reforçar a posição no mercado angolano, João Lourenço recebeu, igualmente, o responsável máximo da companhia de alumínio Hebei Huatong Cable Group, Zhang Wedong.

"Temos um projecto de investimento em Angola e tivemos a oportunidade de falar com o Presidente da República sobre a nossa empresa, que funciona na Barra do Dande, província do Bengo. O projecto é grande, com uma área de 73 hectares, só para a primeira fase”, realçou o PCA da Hebei Huatong Cable Group, prevendo uma produção anual de 120 mil toneladas de alumínio e participar na criação de mais receitas fiscais para o Estado.

O estadista angolano manteve ainda ontem contacto com a subsidiária da China Telecom (Gsafety Technology), tendo o presidente do seu Conselho de Administração (PCA), Li Longqing, aproveitado a oportunidade para apresentar as actividades da empresa no país e lançar as perspectivas para o mercado.

Também, ontem, João Lourenço recebeu o PCA da China Road and Bridge Corporation (CRBC), empresa subsidiária da China Comunications Construction Company (CCCC), Wang Tongzhou.

O Cedrus Group (Gestão de Activos e de Património), através do presidente Rani Jarkas, apresentou a companhia e as perspectivas de investimento numa fábrica de medicamentos em Angola, e Wen Gang, responsável máximo da China National Chemical Engineering (CNCEC), aproveitou o momento com o Chefe de Estado para falar da construção da Refinaria do Lobito, sublinhando que a empresa tem a intenção de aumentar os investimentos no sector petroquímico.

Pelos sinais deixados logo à chegada, demonstrados por via das audiências aos sectores socioeconómicos, o convidado de Xi Jinping "revelou”, ontem, a estratégia para as relações futuras entre Angola e o gigante asiático, nesta missão oficial, em que outros pormenores poderão ser anunciados, hoje, quando os dois estadistas se reunirem, em Pequim, naquele que é o ponto mais alto da visita de Estado de João Lourenço à China.

Ganhos recíprocos nas relações económicas

A China tornou-se pioneira nos investimentos em Angola, com maior relevo após o fim da guerra civil, altura em que as empresas chinesas começaram a fazer comércio, montar projectos e construir fábricas, tendo sido contribuintes e beneficiários da reconstrução e do "boom” económico do país no pós-guerra.

Segundo as autoridades chinesas, Angola é uma economia importante em África, um parceiro económico e comercial da China. Por sua vez, a terra de Xi Jinping é fonte importante de investimento estrangeiro em Angola, sobretudo, nos 11 anos desde o lançamento da iniciativa "Cinturão e Rota”, momento em que o investimento da China em Angola conheceu um aumento significativo.

De acordo com dados da Agência de Investimento Privado e Promoção das Exportações (AIPEX), em Fevereiro de 2023, a China ocupava o quarto lugar em termos de montantes de investimento no país.

As estatísticas preliminares da Embaixada da China em Angola, até ao momento, apontam mais de 400 empresas chinesas no país, com investimentos superiores a 24 mil milhões de dólares. Neste particular, o investimento chinês promoveu, efectivamente, a diversificação económica de Angola.

Na Agricultura, por exemplo, as empresas chinesas investiram e administram diversas fazendas em Angola, através do cultivo de sorgo para fabricação de cerveja e de arroz híbrido de alto rendimento.

Na Indústria, assinala-se o investimento e a produção de motocicletas, aparelhos de ar condicionado e produtos químicos de limpeza diária fabricados por firmas chinesas, além da criação de fábricas de perfis de liga de alumínio, de azulejos cerâmicos e de placas de gesso.

Estas iniciativas, reconhecem as autoridades de ambos os países, ajudam a preencher as lacunas industriais e promovem a diversificação das exportações. Na área do Comércio, muitos centros são operados por empresas chinesas.

Carros, electrodomésticos e pequenos produtos fabricados na China e distribuídos pelas empresas chinesas proporcionam ao consumidor angolano uma selecção mais abundante de produtos e, também, promovem a optimização da estrutura de cooperação económica e comercial entre os dois Estados.

Na economia digital, em 2022, o Presidente João Lourenço testemunhou a inauguração do Parque Tecnológico da Huawei, um investimento superior a 80 milhões de dólares norte-americanos.

Em Fevereiro último, a propósito do 41º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países, a encarregada de Negócios da Embaixada da China em Angola, Chen Feng, considerou que "o investimento chinês criou um grande número de empregos locais e receitas fiscais, e promoveu, eficazmente, o desenvolvimento sustentável da economia angolana”.

Hoje, os dois Governos reconhecem que o estabelecimento de relações diplomáticas é um passo significativo no sentido de promover plenamente a comunicação e os intercâmbios de política económica e comercial, o que trará mais oportunidades e maior desenvolvimento à cooperação e ao investimento bilateral.

Os Chefes de Estado da China e de Angola trocaram em 2023 mensagens de felicitação pelo "relacionamento”, dando uma orientação clara para o desenvolvimento da cooperação pragmática bilateral.

Aliás, para assinalar este compromisso, ambos os Governos realizaram a segunda reunião da Comissão Orientadora para a Cooperação Económica e Comercial China-Angola, em Luanda, com o objectivo de planear conjuntamente a próxima fase da cooperação económica e comercial bilateral, como também injectar um novo impulso no desenvolvimento da cooperação económica e comercial.

Na reunião, os dois lados anunciaram a conclusão das negociações sobre o Acordo de Protecção Recíproca de Investimentos. Uma das vantagens da cooperação com o país liderado por João Lourenço é o facto de ser um país com situação política estável, mercado aberto e melhoria contínua do ambiente de negócios, daí que a China, segundo Chen Feng, tem sido optimista quanto às perspectivas de desenvolvimento de Angola e confiante no desenvolvimento futuro da cooperação económica e comercial entre a China e Angola.

"Reforçaremos a sinergia estratégica com Angola e continuaremos a apoiar empresas com potencial e boa reputação a realizar diversas formas de cooperação de investimento em Angola, nomeadamente nas áreas da Agricultura, Indústria, Infra-estruturas e formação de recursos humanos”, apontou ao Jornal de Angola a diplomata chinesa, em Fevereiro deste ano.

Depois desta afirmação, os chineses esperam agora, com a visita oficial do Presidente João Lourenço a Pequim, que, também, o Governo angolano forneça a orientação, o apoio e a conveniência necessários para que as empresas do gigante asiático invistam em Angola.

"Acreditamos que, com o apoio de vários departamentos ministeriais e das empresas pioneiras e inovadoras, as empresas chinesas beneficiarão de um melhor ambiente de negócios, e Angola, também, atrairá mais e melhores investimentos chineses”, observou a encarregada de Negócios da Embaixada da China em Angola.

O  volume anual de comércio bilateral atingiu 23,05 mil milhões de dólares, tendo Angola voltado a posicionar-se como o segundo maior parceiro comercial da China em África, destacando-se a entrada em vigor do acordo de tarifa zero a 98% de mercadorias angolanas exportadas à China.

Desde o início deste ano, a China manteve um ritmo de crescimento rápido, com um aumento de 24,0 por cento em relação ao ano anterior, de Janeiro a Outubro, atingindo 23,28 biliões de dólares.

A China exportou 3,3 mil milhões de dólares para Angola e importou 19,98 mil milhões de dólares, um aumento homólogo de 62,9 e 19,3 por cento. Face a estes dados, Angola tornou-se no segundo maior parceiro comercial da China em África, enquanto a China continua a ser o maior parceiro comercial de Angola.

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