Política

Presidente lembra “momento difícil” e apoio da China na reconstrução do país

Geraldo Quiala | Pequim

Jornalista

O Presidente da República, João Lourenço, no encontro, em Pequim, com o homólogo Xi Jinping, reconheceu, ontem, todo o apoio prestado pela China nos momentos mais difíceis da História e da reconstrução do país, após o conflito armado.

16/03/2024  Última atualização 09H55
Chefe de Estado congratulou-se por constatar que os dois países comungam dos mesmos princípios e valores da política externa © Fotografia por: DR

"Mais uma vez, reiteramos os nossos agradecimentos pela atitude ímpar do Governo chinês, quando num momento deveras difícil, após o fim imediato do conflito armado em Angola, quando tínhamos a necessidade premente de avultados recursos financeiros para a reconstrução nacional do nosso país devastado pela guerra prolongada, foi a China o único país do mundo que veio verdadeiramente em nosso socorro para a reconstrução das principais infra-estruturas e construção de novas igualmente importantes para o desenvolvimento económico e social de Angola”, recordou João Lourenço.

Dirigindo-se ao anfitrião Xi Jinping, no Palácio do Povo, o estadista angolano frisou que abordou com o Primeiro-Ministro, também ontem, outros detalhes do que o país pretende em termos da ajuda chinesa, quer no financiamento ao investimento público de infra-estruturas, quer no investimento privado de empresários chineses na economia nacional.

O Presidente João Lourenço disse ter abordado, no encontro com Li Qiang, a problemática da dívida de Angola para com a China, da vontade de continuar a honrar os compromissos e obrigações de devedor, mas também da necessidade de o credor ajudar a sair da situação de asfixia em que está o país, "sem que isso represente prejuízo para a entidade credora”.

O líder angolano reiterou os agradecimentos, de todo o coração, o quanto a China foi útil no combate à pandemia da Covid-19, por ter sido quem forneceu, em grandes quantidades, os equipamentos de laboratório, de biossegurança e vacinas, que ajudaram a salvar o maior número possível de vidas humanas.

Segundo João Lourenço, as relações bilaterais de amizade e de cooperação económica são boas e exemplares, embora reconheça existir um grande potencial por explorar e aproveitar em benefício de ambos os povos e nações.

"Gostaríamos de ver incrementado o investimento privado cruzado, ou seja, chinês em Angola e angolano na China, sobretudo agora que foi aprovado e entrou em vigor o Acordo de Protecção e Promoção Recíproca de Investimentos”, declarou o convidado de Xi Jinping, pela segunda vez em visita de Estado depois de seis anos.

Embora entenda que o investimento privado deve ter a primazia, João Lourenço disse ter apresentado ao Primeiro-Ministro o interesse de ver financiados três projectos de infra-estruturas públicas, nomeadamente a construção da Refinaria do Lobito e o Metro de Superfície de Luanda, ambos autossustentáveis, assim como uma grande infra-estrutura militar - a Base Aérea número 1 -, como forma de se aproveitarem as capacidades existentes da empresa chinesa AVIC, que concluiu, com sucesso, a construção do moderno Aeroporto Internacional Dr António Agostinho Neto, em Luanda.

Valores comuns na política externa

João Lourenço congratulou-se ao constatar que os dois países comungam os mesmos princípios e valores em matéria de política externa, sobretudo no que diz respeito à necessidade do respeito e cumprimento do Direito Internacional, plasmado na Carta da ONU, os princípios da não agressão, do respeito da Independência e da defesa da soberania e das fronteiras dos Estados, da resolução pacífica dos conflitos, assim como da não ingerência nos assuntos internos das nações.

O Presidente da República reforçou que Angola defende o princípio de uma só China e Taiwan como parte integrante do território chinês, assunto que deve ser solucionado por meios pacíficos, a exemplo do sucedido com Hong Kong e Macau, não havendo, por isso, razões para se pensar de forma diferente depois destes dois casos de grande sucesso da diplomacia chinesa.

"O mundo atravessa um momento de grande tensão em pelo menos três continentes. Em África, vivemos um mau momento, em que o terrorismo coabita com as mudanças inconstitucionais na África Ocidental e Central, no Corno de África e em dois países da SADC, o que é deveras preocupante”, apontou João Lourenço.

Na óptica do Chefe de Estado angolano, as guerras na Europa e no Médio Oriente fizeram praticamente esquecer o conflito no Sudão, país à beira de uma crise humanitária sem precedentes, com um elevado número de baixas humanas, que pode aumentar com a fome e doenças, deslocados internos, refugiados e grande destruição de infra-estruturas.

O homólogo de Xi Jinping acrescentou que, ao fim de mais de dois anos de guerra, é imperioso que se ponha fim ao conflito na Ucrânia: "Como acontece em todas as guerras, ela deve terminar necessariamente à volta de uma mesa de conversações para se alcançar a paz definitiva e se garantir a soberania nacional da Ucrânia”.

No Médio Oriente, acrescentou, a situação humanitária é catastrófica e obriga a todos a defender a restituição dos reféns israelitas, o fim imediato da ofensiva militar desproporcional do Exército israelita contra as populações indefesas da Faixa de Gaza, o fim dos colonatos e o fim definitivo do conflito israelo-palestiniano com a criação, de facto, do Estado da Palestina que seja internacionalmente reconhecido, única solução definitiva para trazer a liberdade e dignidade ao povo palestiniano e garantir realmente a segurança de Israel e dos povos daquela conturbada região do planeta Terra.

Reformas no sistema das Nações Unidas

Mais uma vez, João Lourenço reiterou que os últimos acontecimentos na arena internacional vieram confirmar a necessidade urgente de se fazerem profundas reformas no sistema das Nações Unidas, nas instituições financeiras, como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, a Organização Mundial do Comércio, mas, sobretudo, no Conselho de Segurança, por se terem demonstrado, ao longo do tempo, desactualizadas do contexto do mundo de hoje, passados quase 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial.

Para o Presidente da República, os desafios da paz e segurança universais, da segurança alimentar, de defesa do Ambiente no mundo de hoje, carecem de análises realistas e de soluções corajosas e pragmáticas dos líderes mundiais, no quadro do multilateralismo.

"O papel e peso da República Popular da China deve sempre ser tido em consideração na configuração de uma nova ordem mundial em prol da paz e da segurança mundiais, da Justiça, do progresso social e desenvolvimento económico das nações”, defendeu o Chefe de Estado, que se encontra em Pequim a convite de Xi Jinping desde quinta-feira e termina a visita amanhã.

João Lourenço reconheceu que, não sendo possível detalhar no encontro de ontem todos os pontos de convergência entre os dois países, sobre a forma como vêem o mundo actual e o caminho comum a seguir para se construir um mundo melhor, decidiu-se aprovar uma Declaração Conjunta que reflicta a visão partilhada de ambos sobre as grandes questões globais do momento.

"Saímos da China muito satisfeitos com a abertura e compreensão que encontrámos, e que nos impele a estarmos cada vez mais próximos na defesa dos princípios e interesses comuns”, sublinhou o Presidente angolano, antes de endereçar um convite a Xi Jinping para visitar o país "na melhor oportunidade que a sua agenda permitir”.

Convite aceite pelo líder asiático para visitar Angola

O Presidente da República Popular da China, Xi Jinping, aceitou, ontem, efectuar uma visita oficial a Angola, na sequência de um convite formulado pelo Chefe de Estado, João Lourenço, que se encontra em Pequim desde quinta-feira.

A data da realização da visita do estadista chinês será marcada pelos canais diplomáticos dos dois países, segundo a Presidência da República. Xi Jinping, ao aceitar o convite, lembrou que em 2010, enquanto Vice-Presidente da República Popular da China, visitou Angola e disse que guarda daquela viagem "intensas recordações”, sobretudo à "efusiva recepção” em Luanda.

"Lembro-me de, há 14 anos, ter visto em Luanda vários prédios em construção, muitos projectos em execução. Tenho toda a honra de aceitar o seu convite, Senhor Presidente”, disse o líder chinês.

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