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“Procuro deixar um país em paz” diz o Chefe de Estado do Senegal

Na sua primeira entrevista desde que anunciou o adiamento das eleições presidenciais, Macky Sall, do Senegal, argumenta que a sua decisão de intervir foi necessária para evitar um caos eleitoral ainda maior.

12/02/2024  Última atualização 11H39
Chefe de Estado, Macky Sall , alegou graves irregularidades para adiar, por decreto, as eleições © Fotografia por: DR

O Presidente senegalês fez o pronunciamento, na sexta-feira, enquanto protestos em todas as regiões abalavam o país.

"Sou a favor de um processo inclusivo, transparente e pacífico, que me permita passar o testemunho sem problemas e em paz. Isso é o mais importante para o nosso país hoje. Você está certo ao dizer que a África Ocidental está, actualmente, num momento extremamente difícil, não é no momento em que estou prestes a terminar o meu mandato que me reinventarei numa nova carreira como ditador ou não-democrata", disse Sall à Associated Press.

"Esse é um quadro que eles estão a pintar, mas não corresponde ao meu perfil, nem à minha personalidade e isso não corresponde à realidade. A realidade é que se não tivesse havido este crescendo de crises sucessivas, apesar das rupturas, nós não teríamos ido nessa direcção”.

Em Maio passado, Sall manteve um diálogo nacional com o objectivo de reduzir as tensões políticas, após tumultos sem precedentes. Contudo, os grupos de defesa dos Direitos Humanos continuaram a acusar as autoridades de reprimir os meios de comunicação social, a sociedade civil e a oposição. O Presidente do Senegal acredita, agora, que um novo diálogo pode resolver a crise que o país enfrenta.

"O diálogo, para mim, pode começar a qualquer momento a partir da próxima semana, mas penso que existem pré-requisitos se quisermos ter sucesso. O primeiro entre estes pré-requisitos é estabelecer a confiança entre os intervenientes, trazer a paz e iniciar um diálogo", disse o Chefe de Estado do Senegal.

 "Portanto, dentro de uma ou duas semanas no máximo, se os actores aceitarem e eu observar muito interesse de cada vez mais actores que concordam com a ideia de diálogo. Isso significa que podemos chegar lá rapidamente”.

Os legisladores da oposição interpuseram recurso no Tribunal Constitucional. O decreto votado pelo Parlamento para adiar as eleições também é contestado pelos candidatos às eleições presidenciais. Dos 20, 14 candidatos recorreram ao Supremo Tribunal. A credibilidade e confiança dos senegaleses na democracia diminuiu significativamente sob Sall, de acordo com uma amostra independente realizada por uma rede de pesquisa.


Tensão e manifestação   marcam a vida política e social

A Polícia do Senegal usou gás lacrimogéneo, na sexta-feira, para dispersar os militantes da oposição que se manifestavam contra a decisão do Presidente Macky Sall de adiar as eleições de 25 de Fevereiro no país.

A constituição autoriza o Conselho Constitucional a reprogramar a votação em determinadas circunstâncias, incluindo "a morte, incapacidade permanente ou retirada” de candidatos. "Macky (Presidente Macky Sall), isso é o suficiente. Macky, isso é o suficiente. Ninguém jamais tocou na Constituição. Macky, por que você tocou na Constituição? Macky, pelo amor de Deus, deixe a nossa Constituição. Ninguém nunca tocou nisso. Pelo amor de Deus, devolva-nos o nosso mandato. Já é suficiente. Nós queremos paz. Estamos fartos disto. Não queremos violência. Deixe nosso mandato”, disse Abdullah.

Os senegaleses marcharam em cidades como Ziguinchor, no Sul, e Diourbel, no Centro do país. Um estudante morreu na cidade de Saint-Louis, no Norte. Os confrontos em Dakar levaram ao encerramento das principais estradas e perturbaram as linhas ferroviárias e os principais mercados.

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