Política

SADC quer respostas às preocupações do mercado de trabalho da África Austral

Domingos Calucipa | Lubango

Jornalista

O secretário executivo da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), Elias Magosi, apelou, quarta-feira, no Lubango (Huíla), aos Estados-membros da organização a converterem as prioridades em acções práticas e em estratégias de colaboração, para resolverem as preocupações urgentes do mercado de trabalho na região.

28/03/2024  Última atualização 07H35
Ministros da África Austral recomendaram algumas soluções para mitigar os problemas da falta de emprego na região © Fotografia por: Arimateia Baptista | Edições Novembro
Elias Magosi, que discursava no acto de abertura da Reunião dos Ministros do Emprego, Trabalho e Parceiros Sociais da África Austral, afirmou que o desemprego e o subemprego representam o desafio de desenvolvimento mais urgente dos tempos actuais na comunidade regional.

"O desemprego aberto é, particularmente, preocupante para os países de alto rendimento, sendo as taxas na camada juvenil mais elevadas ainda e quando encontram trabalho, este dificilmente é digno, devido às condições precárias de labor, sistemas de segurança social fracos e alta informalidade”, observou o alto responsável da SADC.

Reconhecendo estes desafios profundamente enraizados, disse que os Estados-membros da SADC devem dar prioridade às acções práticas e às estratégias de colaboração atinentes a suprir as preocupações urgentes do mercado de trabalho.

Elias Magosi destacou que prosseguem os esforços tendentes a intensificar a colaboração entre os Estados-membros para a criação de postos de trabalho dignos e promover os Direitos Humanos no mundo.

Com efeito, sustentou o responsável, a Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da SADC, realizada em Agosto de 2023, em Luanda, adoptou o protocolo da organização sobre Emprego e Trabalho.

"Trata-se de um instrumento que terá um longo caminho por trilhar para a concretização do trabalho digno na região, sustentado, entre outros meios, pelo emprego inclusivo e produtivo, pelo respeito aos direitos no trabalho, no reforço da segurança social e em fortes instituições do mercado de trabalho”, reiterou o secretário executivo da SADC.

Elias Magosi assinalou que o protocolo forjará, ainda, a solidariedade regional em matérias determinantes de interesse a nível global, incluindo a cooperação no domínio da execução e fiscalização das Normas Internacionais do Trabalho.

O secretário executivo da SADC disse que, tendo em vista a natureza normativa do sector do Emprego e Trabalho, este protocolo vai ser um factor decisivo para a estabilidade do mercado de trabalho, crucial ao desenvolvimento social e económico geral.

Segundo o responsável, o Conselho de Ministros da SADC sublinhou, há tempos, a necessidade da adopção de políticas macroeconómicas e sectoriais promotoras de emprego e capazes de contribuir para a transformação estrutural económica, assim como valorizar o forte intercâmbio existente com os parceiros de desenvolvimento, procurando reforçar as capacidades institucionais e humanas.

Desafios do sector do Trabalho

A SADC enfrenta desafios que exigem a preservação da unidade de pensamento e de acção, tendo em atenção a transformação estrutural e os avanços tecnológicos das economias, observou a ministra da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social de Angola.

Teresa Rodrigues Dias, ao proceder à abertura da reunião dos ministros do Emprego e Trabalho e Parceiros Sociais da SADC, afirmou que um dos grandes objectivos da organização é alcançar o desenvolvimento económico, a paz e a segurança regional, reduzir a pobreza, através do apoio às camadas sociais desfavorecidas, com vista à integração regional.

"Temos assistido, ainda, a uma série de fenómenos preocupantes, no seio da Comunidade, com realce para as desigualdades entre os Estados-membros, por conta das alterações socio-económicas a nível mundial, que influenciam os mercados internos”, notou a ministra.

Teresa Rodrigues Dias enumerou a decadência das relações laborais, por força da instabilidade dos sectores empresariais públicos e privados na manutenção dos postos de trabalho, o desemprego juvenil, que "é um dos piores flagelos para os Estados-membros”.

Considerou o aumento do trabalho infantil e forçado uma realidade actual nos Estados-membros, por força das culturas associadas a hábitos e costumes regionais, por um lado, e, por outro, à "gritante procura dos empresários de mão-de-obra barata para alcançarem os objectivos de forma menos onerosa, além de outros desafios”.

Teresa Rodrigues Dias disse que estas e outras situações demandam dos Estados da Comunidade um engajamento incessante na busca de soluções criativas e ajustáveis ao contexto regional. Para a governante, os esforços devem ser redobrados a fim de se promover o emprego inclusivo, pleno e produtivo, incluindo o auto-emprego, para os grupos vulneráveis, especialmente as mulheres, pessoas com deficiência e trabalhadores migrantes.

Defendeu a promoção de empresas sustentáveis e o aumento da produtividade no trabalho, bem como o acesso à segurança social.

Estados-membros adoptam normas internacionais

Os 16 países-membros da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), reunidos de 24 a 27 deste mês, na cidade do Lubango, Huíla, decidiram adoptar normas internacionais do trabalho para a região, em alinhamento com as recomendações da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

A decisão saiu da Reunião dos Ministros do Emprego e Trabalho e Parceiros Sociais. Durante quatro dias, os membros discutiram diferentes pontos ligados ao mercado do trabalho na África Austral, particularmente a empregabilidade juvenil.

Dada à necessidade de mudança das práticas consideradas menos adequadas e ajustadas, ficou decidido que os Estados-membros devem ratificar oito convenções.

Segundo o porta-voz do encontro, David Kinjica, destacam-se, entre as convenções a ratificar, as voltadas para a violência no trabalho, o assédio sexual e moral no local de trabalho, o trabalho doméstico, a promoção de políticas de emprego e outras que a SADC considera essenciais.

Um dos pontos que mereceu, também, acesos debates foi o código de conduta sobre o trabalho infantil, ao qual os ministros consideraram ser uma realidade transversal à região e à própria cultura africana, mas que, no final, foi aprovado e adoptado.

Outro tema objecto de consenso foi o apoio da Comunidade à candidatura do Malawi para ocupar uma vaga no Conselho de Administração da OIT, na qualidade de representante da SADC, tendo Moçambique e África do Sul como suplentes.

"Vamos trabalhar em torno deste candidato, porque é um ganho para a nossa região. Temos de agir em bloco para que a nossa voz seja ouvida naquela organização das Nações Unidas”, afirmou David Kinjica.

Não menos importante, também, foi o relatório da SATUCC (Comité de Coordenação dos Sindicatos da África Austral), relativamente à violação de alguns direitos essenciais dos trabalhadores nos países da região.

Estiveram no centro das discussões da reunião pontos como "A assinatura e ratificação do Protocolo sobre Emprego e Trabalho da SADC”, "O estado do mercado do trabalho”, "A implementação do Plano de Acção sobre a Migração Laboral e o Código de Conduta do Trabalho Infantil”, "A execução das Normas Internacionais do Trabalho da OIT”, assim como "O Projecto de Quadro-Modelo para Sistemas Autónomos para Resolução de Litígios Laborais” que, no final, foram todos adoptados.

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