Cultura

Vencedor de Luanda leva à Praia do Bispo a importância do crescimento sustentável

Detentor de uma legião incalculável de seguidores, o grupo União Recreativo Kilamba escolheu, para a edição deste ano, do Entrudo de Luanda, marcados para os dias 10 (classe infantil), 11 (classe B) e 12 (classe A), um tema de elevada importância sobre a sustentabilidade económica nacional.

02/02/2024  Última atualização 12H05
Ao longo deste percurso, o grupo tem sido resistente a preconceitos e à própria aceitação como um projecto dinâmico © Fotografia por: DR

Formado no distrito urbano do Rangel, o URK foi vencedor do Carnaval de Luanda, de 2023, tendo somado 908 pontos, pelo desempenho no desfile central realizado, na Marginal da Praia do Bispo.

As dificuldades permanentes com os atrasos dos subsídios, tem prejudicado negativamente na qualidade do produto final apresentado pelos grupos nos dias dos desfiles. Uma situação que incomoda, mas que já deixou de "tirar o sono” ao comandante emérito do grupo, Poly Rocha.

Em declarações, ontem, ao Jornal de Angola, Poly Rocha manifestou o descontentamento por se ter apercebido que alguns grupos começaram a receber os subsídios de preparação, em Dezembro de 2023, situação que o desagradou por se sentir-se desrespeitado, pelo que tem feito em prol da defesa e valorização do Carnaval de Luanda.

Ainda assim, disse, a direcção do grupo não se desanimou, por reconhecer que nem tudo depende da Associação Provincial do Carnaval de Luanda (APROCAL). Felizmente, depois de algumas declarações, confirmou-se que esta semana, receberam os 700 mil kwanzas atribuídos aos grupos carnavalescos da classe de adultos.

Na generalidade, reconheceu, os grupos carnavalescos que participam nos desfiles na Marginal da Praia do Bispo  reclamam ser insuficiente o valor atribuído pela APROCAL.

Apesar deste constrangimento, disse,  trabalham afincadamente para dignificar a maior manifestação cultural do povo com exibições de qualidade. Num ritmo dançante e ambiente festivo, o URK prepara-se com vista a revalidar o troféu este ano.

Ao longo deste percurso, o grupo tem sido resistente a preconceitos e à própria aceitação como um projecto dinâmico. Para o comandante emérito "precisamos estar abertos às inovações, mas sempre preocupados com a preservação da matriz cultural angolana”.

Para quem pensa que o URK não vive dificuldades financeiras, segundo Poly Rocha, está "redondamente enganado”, razão pela qual, a direcção tem estado a criar estratégia de auto-sustentabilidade, por estar convicto de que as "coisas novas levam o seu tempo para adquirirem a aceitação plena”.

Falta de acervos bibliográficos empobrece a "festa do povo”

O facto de muito pouco se saber sobre a história do Carnaval, mesmo com alguns registos existentes, tem sido um dos factores para que os jovens praticamente desconheçam a essência e o próprio percurso da festa e dos precursores . Outro aspecto negativo, reconheceu, tem sido a falta de acervos bibliográficos e produção literária sobre o Entrudo.

A existência de poucas fontes de pesquisas orais e escritas, disse, tem sido uma das preocupações do URK, para quem muitas destas "bibliotecas vivas” são fundamentais para a construção de uma identidade própria. Outro facto preocupante é a actual expansão dos bairros, processo que tem levado, para outros municípios, muita das particularidades típicas do Carnaval, sendo que alguns dançarinos, devido às mudanças, levam a essência da festa a outros municípios, criando fusões, algumas das quais boas, mas outras nem tanto.

Entre os meses de Dezembro e Janeiro, os membros têm feito experiências de "Carnaval de Rua”, como forma de resgatar uma prática "esquecida com o passar dos anos”.

Geralmente, o grupo desfila em zonas como o Nelito Soares, Avenida Brasil e Rangel. O cantor e compositor Dom Caetano é um dos artistas que têm "apadrinhado” o grupo, no campo da música. Ao longo dos desfiles, o grupo tem procurado mostrar a diversidade de estilos que existem no Carnaval de Luanda, especialmente os que tendem a desaparecer.

Pequenos ofícios fazem projectos inovadores

Segundo Poly Rocha, a lista da "carteira de encargos” do União Recreativo Kilamba inclui um programa de inclusão social para ajudar a tirar vários jovens do desemprego.  A intenção da direcção, sustentou, é criar mais projectos inovadores, em especial os ligados à valorização de algumas profissões em desuso, como a costura e a produção musical, com destaque à construção de instrumentos tradicionais.

Poly Rocha informou que a geração de empregos nas comunidades carenciadas e a valorização das "profissões em extinção” no mercado das artes e ofícios, "por culpa da inexistência de políticas proteccionistas às pequenas iniciativas”, são parte da "cadeia de prioridades” do grupo para os próximos anos. Somente com espírito criativo, ressaltou, pode-se tirar vantagens dos avanços tecnológicos a favor da valorização dos pequenos ofícios, que podem servir como fonte de rendimento e garantir a autosustentabilidade dos programas sócio-culturais e artísticos.

"Somos sólidos como as rochas”

Poly Rocha afirmou que têm uma direcção "sólida como as rochas e que nada os vai fazer desistir”. Por essa e outros factores, a preparação da próxima geração de fazedores do Entrudo, tem sido uma das principais metas do grupo União Recreativo Kilamba (URK), tendo a formação como factor decisivo de todo o processo.

Apação de muitas vezes sofrer  críticas pela forma como se apresentam no desfile da Marginal da Praia do Bispo, e criam os enredos visando sempre dar outro "ar fresco” ao Carnaval, garantiuque  direcção do grupo sempre pautou por respeitar as tradições de Luanda.

Com o enredo "Nosso Chão, Nossa Riqueza”, o grupo UniãoRecreativo Kilamba apresenta como temática para este ano "Agricultura e o Desenvolvimento Sustentável, na Luta Contra a Fome e a Pobreza”.

Transição e consolidação

O consagrado comandante procedeu no ano passado à passagem de testemunho ao comandante Mony de Oliveira, que vai, a partir da edição deste ano, liderar o grupo. Consciente da responsabilidade de passar o legado ao novo comandante, garantiu estar seguro e confiante por acreditar no potencial de Mony de Oliveira, como um produto de casa com formação consolidada.

O prémio de primeiro classificado aumenta a responsabilidade do colectivo e como os lugares nunca são permanentes e nunca se sentiu na condição do "eterno comandante”, afirmou que o grupo tem feito encontros de balanços e reflexão com os seus dirigentes.

Doravante, segundo o proprio, Poly Rocha, vai somente dedicar-se à direcção do grupo e trabalhar para continuar a capacitar os integrantes do URK, dando-lhes aptidões sobre as diferentes funções dos foliões no grupo, bem como materializar a legalização e criar condições para tornar o projecto auto-sustentado nos próximos anos.

O objectivo, disse, é assegurar a continuidade da "festa do povo”, mas com pessoas melhor capacitadas para o efeito. Neste ano, disse, o grupo vai transportar mais de 800 pessoas à Marginal da Praia do Bispo.

 

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