Opinião

A vez do Morro do Moco

Carlos Calongo

Jornalista

A ligação mais frequente entre as províncias de Luanda e do Huambo é feita por via da Estrada Nacional (EN) número 120, uma rodovia que cruza as margens Norte e Sul do rio Kwanza e constitui um regalo para quem trafega na referida rota, exposto a inúmeras maravilhas que a paisagem natural proporciona.

18/05/2024  Última atualização 12H45

Dentre vários pontos de atracção do referido percurso destaca-se a elevação do Alto-Dondo, ponto que marca a dobra para o extremo Sul do rio Kwanza, deixando para trás a a velhinha e histórica cidade do Dondo, da famosa Eka que mais do que empresa cervejeira, já foi a designação de um clube desportivo, com créditos no Girabola. Quem não se recorda do famoso estádio apelidado de "inferno do Dondo”?

Na continuidade do percurso atinge-se a província do Cuanza Sul, que tem o rio Keve como uma das suas joias. Para trás fica um desvio à direita que nos leva ao Aproveitamento Hidroeléctrico de Cambambe,imponente obra de construção civil em que a competência humana desafiou a força da natureza, proporcionando alterações que fizeram da zona, além da sua principal função, uma boa proposta turística.

Faço um recuo estratégico para considerar a possibilidade de intervenção no mercado sazonal da margem do Rio Cuanza, na cidade do Dondo, no sentido de dar uma outra cara de atracção àquele local, considerado uma  paragem obrigatória para quem trafega na EN 120. Lá, a missão resume-se em apreciar o típico mufete de cacusso e seus fiés acompanhantes, prato da gastronomia angolana que nenhuma espécie humana, no perfeito uso e gozo do seu juízo e competências alimentares, despreza.

Em diante, entre várias localidades, a viagem faz-se num misto de enormes espaços verdejantes agradáveis à vista e que atestam quão grande são as obras do Criador, que para Angola e os angolanos ofereceu singulares benesses naturais, tidas como potenciais factores para a promoção do turismo e não só, e que melhor serventia teriam caso fossem feitos investimentos na perspectiva de potenciar a indústria turística.

Mais e menos asfalto "comido” chega-se ao Morro do Moco, um dos pontos de referência obrigatória no referido trajecto,que possui diversos e incríveis atributos que o adjectivam como magnífico ambiente para acções de turismo.

Visitado por milhares de cidadãos que buscam por lazer, diversão e aventura, mais do que uma montanha com mais de 2. 620 m de altitude e 1510 de proeminência topográfica, encaixada entre os municípios do Ecunha e Lobduimbali, província do Huambo, o Morro do Moco é o ponto mais alto de Angola, e desde 2013 considerado uma das 7 maravilhas naturais de Angola.

Com alguma frequência o local é visitado por membros de associações religiosas, estudantis, excursionistas de distintos pontos do país e estrangeiros, que se regozijam com os encantos que a natureza atribuiu à localidade, cujo relevo apresenta uma forma natural e sustentável, que eleva o apetite dos apaixonados pelo turismo e não só.

E mais do que o relato histórico que se depreende do acima escrito, o valor deste texto reside na boa nova recentemente anunciada pela ministra do Ambiente, Ana Paula de Carvalho, de que o referido Morro foi identificado e classificado pelo Governo, como Área de Conservação Terrestre, na companhia da Serra do Pingano, na província do Uíge, Morro do Cumbira, no Cuanza Sul. A vez do Morro do Moco.

Por definição, uma área de conservação é um espaço geográfico do território nacional com características naturais relevantes, definido, delimitado e protegido por lei, que tem a função de assegurar a conservação a longo prazo do património natural e cultural, bem como os serviços ecossistémicos associados.

As áreas de conservação são, geralmente, unidades de uso sustentável, cujos objectivos são o de proteger e conservar espécies  de fauna e flora que lá existem, especialmente as que se encontram em risco de extinção; restaurar os recursos e os ecossistemas naturais; promover o uso sustentável dos recursos naturais e desenvolvimento das comunidades a eles associadas e  valorizar a diversidade biológica, cultural e paisagística destas áreas.

A Conservação da Natureza em Angola foi consolidada pela administração colonial portuguesa em 1955 pelo Decreto 40040 que estabeleceu os princípios em que se baseia a conservação do solo, da flora e da fauna. Isto inclui uma lista de parques nacionais, reservas naturais (Integral e Parcial), e parques regionais.

Noves fora os dados acima revelados, a utilidade deste texto atinge, com alguma profundidade, o sentido da nova configuração que o sector do turismo em Angola está a empreender, na perspectiva de ser um vector fundamental no processso de dinamização da economia nacional.

Para o êxito da missão é fundamental e urgente que se comece a considerar a implementação de acções que visem identificar e remover as barreiras burocráticas que impedem os operadores económicos de alavancar a actividade turística e atingir o sucesso.

Somos todos instados a criar uma nova mentalidade em relação ao papel importante que o turismo desempenha na diversificação da economia e no processo de desenvolvimento do país.

E a nossa viagem termina, justamente no Morro do Moco, que viu chegar a sua vez, como área de conservação.

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