Política

Angola e Coreia assinam acordos nos domínios do Comércio e Saúde

Paulo Caculo | Seul

Jornalista

Angola e a República da Coreia rubricaram, terça-feira, em Seul, quatro instrumentos jurídicos de cooperação, nos domínios do Comércio, Saúde, Ordem Pública e Diplomacia.

01/05/2024  Última atualização 07H36
Os dois estadistas manifestaram-se, ontem, preocupados com o mundo cada vez mais conturbado pelos conflitos vigentes © Fotografia por: Paulo Mulaza | Edições Novembro | Suel

A assinatura dos documentos aconteceu momentos após o encontro entre os Chefes de Estado João Lourenço e Yoon Suk-Yeol, no Palácio Presidencial, em que foi signatário, pela parte angolana, o ministro das Relações Exteriores, Téte António, e da parte da Coreia o do Comércio, Indústria e Energia, Ahn Dukgeun.

O acordo de promoção do comércio estabelece a criação de uma plataforma para o sector privado, enquanto a parceria no âmbito da diplomacia vai incidir sobre protocolos entre a Academia Diplomática Venâncio de Moura e a Academia Diplomática Nacional da Coreia.

Os instrumentos jurídicos, de acordo com o Presidente João Lourenço, vão ajudar a incrementar e intensificar os contactos entre as entidades públicas coreanas e angolanas, além dos homens de negócios de um e de outro país, os quais encorajou, no Fórum Empresarial da última segunda-feira, a aproveitarem as vastas oportunidades disponíveis no mercado nacional para realizarem negócios que possam redundar em benefícios mútuos.

No discurso proferido após a assinatura dos quatro documentos sobre a cooperação bilateral, o Chefe de Estado esclareceu os objectivos da visita oficial à Coreia, destacando o interesse de Angola procurar absorver "as dinâmicas que impulsionaram o desenvolvimento” do país asiático.

"Poder contar com a colaboração do vosso país, no sentido de ajudarem Angola a dar passos firmes e seguros na construção de uma economia sólida, capaz de responder às necessidades fundamentais da população e de se integrar no contexto da economia mundial”, disse João Lourenço, dirigindo-se ao homólogo Yoon Suk-yeol.

O Presidente da República confessou, ainda, que, no decurso da visita, constatou, nos contactos que manteve, o interesse e a sensibilidade coreana para as questões relativas à cooperação com o continente africano, assegurando que tal vontade terá "expressão mais significativa e mais visível com a realização da Cimeira Coreia-África”, agendada para Junho deste ano.

"Esperamos que surja um quadro realista e pragmático de cooperação entre os diferentes países africanos e a Coreia”, perspectivou João Lourenço.

O estadista angolano disse, ainda, que a presença em Seul visou, sobretudo, abordar com as autoridades do país, liderado por Yoon Suk-yeol, "todos os aspectos que compõem o escopo da cooperação bilateral”, que se formalizou em 1993, ao abrigo do Acordo Geral de Cooperação, firmado entre as duas nações.

"Transcorreram, desde então, 31 anos de intercâmbio e de trocas a todos os níveis e, apesar de termos realizado, neste período, acções de cooperação com apreciável relevância, considero que estamos muito aquém de tudo quanto podemos fazer, tendo em conta o potencial de que os nossos dois países dispõem”, acrescentou, admitindo que os Estados podem fazer muito mais.

João Lourenço apontou um conjunto de ideias e de projectos de cooperação que Angola e a Coreia podem desenvolver, quer ao nível institucional, quer com o sector Empresarial Privado coreano, cujo dinamismo e capacidade empreendedora considerou amplamente conhecido, "pelo papel transformador que a Coreia conseguiu realizar no plano da economia”, projectando-se, em muito poucas décadas, ao nível das grandes economias do mundo.

 

Instabilidade mundial

João Lourenço não deixou de lamentar o facto de se estar a viver "num mundo cada vez mais conturbado”, sublinhando os "conflitos antigos que não se resolvem” e, também, deplorando o surgimento de "outros novos, um pouco por todas as regiões do Planeta”.

Em face disso, o estadista angolano considerou que já é tempo de a comunidade internacional mobilizar todos os esforços para encarar "estes problemas com frontalidade e com coragem”, para se lhes dar solução, "de modo a evitar que se eternizem ou que recrudesçam, ao ponto de degenerarem em conflitos de dimensão global”.

O Presidente da República encorajou, por isso, o líder sul-coreano a continuar a envidar todos os esforços "no sentido de aliviar a tensão que paira sobre a Península Coreana”, por considerar que "só a via do diálogo e do entendimento entre os povos e as nações contribuirão para o fim dos conflitos”, por mais intrincados que sejam.

De igual modo, João Lourenço defende que a via do diálogo e do entendimento deve ser a perspectiva na abordagem aos diferendos no contexto da invasão da Ucrânia pela Rússia, que diz merecer uma solução que salvaguarde a integridade da nação ucraniana.

"Temos assistido, com preocupação, o grave conflito que ocorre no Médio Oriente, entre Israel e a Palestina, que tem vindo a ter amplas repercussões regionais, com risco de escalar para uma preocupante confrontação entre vários países daquela região”, alertou o Presidente da República, sugerindo que se tenha em conta os interesses do povo palestino e o direito à autodeterminação e à criação de um Estado da Palestina independente e soberano.

 
Conflitos em África

Enquanto merecedor do título de "Campeão da Paz e Reconciliação”, distinguido pela União Africana, João Lourenço fez questão de introduzir, no discurso, uma visão sobre os conflitos prevalecentes no continente.

E, neste aspecto, o Presidente da República disse que a luta, em África, "é contra as mudanças inconstitucionais de poder e o terrorismo em alguns dos seus países”, nas regiões do Sahel e da África Ocidental e Central.

A situação no Sudão e no Leste da RDC, observou o Chefe de Estado, afigura-se "bastante preocupante”, a julgar pelo número de mortos, feridos, deslocados internos e refugiados, mas, também, "pela grande destruição das infra-estruturas e roubo dos recursos minerais e outras riquezas”.

"Temos vindo a trabalhar no sentido de ajudar estes países a encontrar os caminhos do diálogo, para se alcançar a paz duradoura e puderem, assim, se dedicar ao desenvolvimento económico e social dos países e das comunidades regionais em que estão inseridos”, referiu João Lourenço, que aproveitou a ocasião para formular, também, um convite ao homólogo coreano a visitar Angola.

Antes de deixar ontem a cidade de Seul, com destino aos Estados Unidos da América (EUA), o Presidente João Lourenço fez parte do almoço oficial oferecido pelo homólogo da Coreia, Yoon Suk-yeol.


Líder sul-coreano ambiciona expandir as relações bilaterais

O Presidente da Coreia, Yoon Suk-yeol, manifestou-se, ontem, interessado em ver alargada a relação bilateral.

De acordo com o líder sul-coreano, se os dois países juntarem as vantagens que cada um tem demonstrado, com certeza ambos poderão expandir, ainda mais, as relações e aprofundar a cooperação.

"Angola tem abundância de recursos naturais e é um país jovem, enquanto a Coreia tem a tecnologia e a experiência de desenvolvimento económico”, afirmou Yoon Suk-yeol, referindo-se às vantagens recíprocas.

As empresas sul-coreanas, prosseguiu, têm participado na economia de Angola, através do sector da Construção e, também, dos navios na indústria petrolífera, tendo sublinhado que Angola e a Coreia estão a expandir as relações para o domínio das Energias Renováveis.

"Desde o estabelecimento das relações diplomáticas, em 1992, os nossos países têm mantido uma óptima cooperação de amizade”, acrescentou, para revelar que, em 1995, a Coreia enviou um corpo de engenheiros junto à base da ONU para a restauração de Angola.

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