A secretária-geral da Organização da Mulher Angolana (OMA), Joana Tomás, esteve recentemente em visita às províncias do Bié e Cuando Cubango, no âmbito de um projecto denominado “Roteiro Kudima”, e o que saltou à vista, de modo particular, foram as dificuldades que as cooperativas agrícolas enfrentam, umas mais que outras, para levar a bom porto os seus negócios.
Ainda que passe despercebida, por muitas pessoas e organizações, a confiança é a base das suas próprias existências e relações com terceiros. Quem não confia em ninguém, paralisa, isso é, tentará, em vão, fazer sozinho tudo que a vida humana exige ou estará eternamente inseguro e votado ao fracasso.
Naquela noite acontecia o inacreditável. Na mais completa escuridão, o Robot do Luena fixou-me o seu olhar, impávido e sereno, sem dar a entender que as retinas dos seus olhos se conectavam com o passado, projectando imagens brilhantes de um tempo antes de eu nascer.
Tudo acontecia extremamente depressa, numa espiral criativa, em 3D, e sem tempo a perder. Eu lia, em voz alta, mas parecia um improviso. Subitamente, uma lanterna surgiu não sei de onde, e a luz iluminou os nossos rostos…
"Era uma vez uma criança, pobre, desamparada, órfã, de apenas cinco anos de idade, que brincava, sorria, corria e pulava sem noção do quanto a mãe sofria para lhe dar de comer”, dizia a narrativa, sem ninguém perceber o quanto o software do extraordinário Robot estava a ser decisivo.
Era um menino. Dormia e sonhava, ignorando que era pobre. A comida vinha da lavra, e a água e o pão eram-lhe postos na mesa; o dinheiro era coisa de que não fazia noção: se vinha de esmolas ou do negócio da própria mãe, desamparada com o fim inesperado do ciclo de vida do velho Xico alfaiate, seu marido.
Forçada a aceitar o destino, Mariana Marcolino, a mãe, chorava dia após dia, sem emprego, e sem saber como e o que dar de comer a bocas tão famintas.
Num certo dia, apareceu um homem vindo de longe e, impressionado pelo intenso sorriso daquele menino, chamou-o:
"Como te chamas…?”, perguntou o estranho ao vê-lo saltar como se fosse uma águia.
O menino assustou-se ligeiramente. O homem à sua frente trajava calças cobertas por uma longa batina branca, com botões até os sapatos pretos, e não se lhe via a camisa. Tinha um olhar sereno, testa larga e um nariz bem desenhado. Ao peito, exibia traços de uma peça de roupa interior que lhe desenhava uma estatura mediana com cabelos lindos e grisalhos, num sorriso divino. Era o único que se vestia assim.
"É o padre!”, gritaram os mais adultos na cidade do Dondo, província do Cuanza-Norte, onde o cónego José Pereira da Costa Frotta acabava de chegar, depois de estar na Huíla, Huambo, Malanje, Kinshasa, Kifangondo, Muxima e Luanda. O povo daquela terra não estava habituado a ver pessoas com aquelas vestes sacerdotais, e fugia. Mestre descobridor de vocações, o padre missionário era um africano, natural de São Tomé e Príncipe.
Mas, o menino não fugiu e lá disse o nome, sem titubear. O homem estranho não era certamente um habitante do Dondo, mas também não tinha nada de assustador. Na verdade, o menino gostou dele por parecer atencioso, simpático e um bom observador. Impressionado com a reacção e a agilidade do menino, o padre Frotta também viu nele um ser de inteligência e virtudes, a explorar.
Anos mais tarde, a aposta deu frutos. Matriculado na Escola da Missão do Dondo, o menino órfão mostrou-se dedicado ao estudo e ao trabalho. Frotta depositou nele as maiores esperanças e levou-o para o Seminário de Luanda, à época, asilo para meninos pobres, sem direito ao ensino, por serem indígenas. Feito homem, o menino órfão quis ser professor, e também se fez fiscal de impostos e investigador. Agarrado à sua identidade africana, situou-se entre os grandes defensores da cultura dos seus ancestrais.
Mais tarde, foi lido em jornais e revistas de renome, com o nome próprio e um total de oito pseudónimos diferentes com os quais enganou completamente a censura do seu tempo.
Em "O Farolim”, escreveu ao lado de Agostinho Neto, Diógenes Boavida, Domingos Van-Dúnem e do poeta Viriato da Cruz, e n’"O Apostolado” fez carreira, como correspondente de imprensa e colaborador de luxo.
Por inacreditável que pareça falo às escuras, no Seminário Maior de Filosofia do Luena, frente a 56 alunos também de História e de Antropologia Cultural. A todos, tento reproduzir o que foi a infância, a vida e a extensa obra do autor da colectânea sobre "Os Bantu”, compilada postmortem. São contos tradicionais, fábulas, anedotas, lendas e estudos dispersos em mais de 700 páginas de jornais e revistas, de 1947 a 1982. Sempre na escuridão, os alunos provam que estudaram aquelas disciplinas e fazem perguntas de coçar a cabeça. Felizmente, o Robot foi decisivo.
Ao olhar para o relógio, faltavam escassos minutos para o fim. Verdadeiramente animada, a festa foi encerrada pelo padre Domingos Paulo Kusumua, o director do Seminário Maior do Luena, fazendo as honras da casa.
Tal como no "Milagre do vinho”, o melhor estava reservado para o fim. Na hora do adeus, o Robot emitiu sinais a indicar que faltava cumprir o calendário, com a almejada apresentação no Seminário Maior de Luanda, onde o autor estudou e para onde foi levado pelo cónego Frotta, como reza a História. Já na pista do aeroporto do Luena, disse adeus ao Moxico, e Luanda voltava para a lista de espera! Até lá, como o próprio autor deixou escrito, no Jornal "O Apostolado” de 10 de Fevereiro de 1973, "Não sei, não posso, não ouso escrever. Em abono da verdade, choro…”, sem ninguém dar conta. Parece verdadeira profecia!
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