A Organização das Nações Unidas (ONU) considera importante incutir hábitos sustentáveise consciência climática nas famílias desde cedo, pelo papel que desempenham na transmissão de valores ao longo de gerações.
Rosita Viegas é um nome que, na cidade do Uíge, não passa despercebido, por conta de vários aspectos, os quais o Jornal de Angola descreve a seguir, nesta entrevista, que, de resto, representa uma singela homenagem à mais uma figura feminina da mãe pátria, Angola, inserida na rubrica “Especial Março Mulher”.
Nascida a 5 de Janeiro de 1957, no município de Mucaba, a 67 quilómetros da cidade do Uíge, Rosita Viegas ou tia Rosi, como é carinhosamente tratada, é tida como um verdadeiro exemplo de determinação e resiliência, tendo em conta a sua história de vida, iniciada na terra natal (Mucaba), de onde partiu aos 19 anos de idade para a cidade do Uíge, em busca de uma melhor condição de vida.
Filha de Viegas Vita e de Madalena Bengui, tia Rosi conta que concluiu os estudos primários no município de Mucaba, em 1972, mas devido às adversidades da vida viu-se obrigada a interromper a formação e integrar às fileiras das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), onde chegou a atingir o grau de terceiro sargento, enquadrada na área da Logística.
"A minha primeira profissão foi a de professora, que, naquele tempo, era instrutora escolar. Parti do meu município aos 19 anos de idade, em 1975 e em 1976 tive a primeira filha. A minha filha passou, depois, aos cuidados da minha mãe e fui para as FAPLA, onde fiquei por um curto período. Mas depois das FAPLA passei para a Defesa Civil”, disse.
Na contínua luta pela sobrevivência, passou a trabalhar, isto nos anos 82, na Loja Sete do Sector Comercial militar, um contrato que, como frisou, teve curta duração, tendo, depois, começado a vender vários produtos agrícolas, mesmo junto do portão da casa em que morava.
"Depois de ter passado nos sectores que me referi, comecei a vender, mesmo no portão do quintal da casa onde vivia, vários produtos do campo, como batata-doce, abacate e outros que os meus pais me enviavam a partir do município de Mucaba”, lembrou.
Unigénita de Madalena Bengui, Rosita Viegas assume-se como sendo uma exímia cozinheira, uma profissão aprendida, desde pequena, com o seu falecido pai, que a serviu como porta de entrada para o mundo de empreendedorismo. Ela é proprietária de um afamado restaurante, situado no "coração” da antiga cidade "Carmona”, concretamente na rua "Comandante Bula”.
Antes da construção do referido restaurante, confeccionava e vendia petiscos, mesmo no quintal da sua casa, onde afluía muitos clientes, facto que, como aclarou, a motivou a adquirir um terreno para a construção do restaurante, ao qual acoplou, também, uma hospedaria, inicialmente com sete quartos e mais tarde evoluiu para 11, juntando, assim, o útil ao agradável.
"Comecei com uma barraca, mas, depois, notei que o negócio estava a progredir e porque naquela altura era, praticamente, a única mulher aqui da sede provincial que tentou com este tipo de negócio no quintal que foi dando certo. E daí veio-me a ideia de conseguir um terreno onde construi um restaurante e, depois, inclui a área da hospedaria”, referiu, acrescentando que possui, igualmente, outro estabelecimento comercial, subdividido em bar e hospedaria, no município de Mucaba.
O restaurante da tia Rosi, é um local bastante referenciado, sendo, por isso, de eleição por parte de muitos citadinos do Uíge e forasteiros, ávidos de saborear os bons quitutes ali confeccionados, como a macasquila de muamba de ginguba (folhas de feijão) e muteta (pevide), só para citar estes, aliás não é à toa que o renomado jornalista e escritor Luís Fernando, que, por sinal, filho desta terra, dedicou uma crónica à sua proprietária, intitulada "o grande coração da tia Rosi”.
Na crónica, afixada num dos pilares no interior do restaurante, o escriba rotula Rosita Viegas como sendo a "tia da cidade” que é- sempre foi, aliás a mulher que melhor alimenta os seus habitantes, tendo realçado, no trecho a seguir, que construiu a pulso uma vida que é inspiração para qualquer caçador de histórias distintas, daquelas que se trabalham com tempo”.
Ao Jornal de Angola a mamã Rosita, como, também, tem sido tratada por outras pessoas, fez saber que, a par de restauração possui, igualmente, três propriedades agrícolas, onde tem cultivado variedades de produtos, com destaque para mandioca, banana e maracujá gigante. Dedica-se, ainda, à criação de porcos, galinhas e patos, estando, no cômputo geral, a empregar 32 pessoas, entre jovens e adultos.
"Também dedico-me muito ao campo. Raramente compro bombó ou ginguba, porque eu própria sou produtora. Tenho três campos agrícolas, um situado a 18 quilómetros da cidade, concretamente na aldeia do Camancoco e outro, o mais extenso, com 75 hectares, na comuna do Nsosso (Damba)”, referiu Rosita Viegas, divorciada há anos, tendo acrescentado que antes do divórcio, foi criadora de gado bovino, uma actividade, infelizmente, não avançou, por conta da turbulência que havia no seio do casal. Considerou a dissolução do matrimónio e o falecimento das três filhas como sendo os momentos piores por que já passou na vida.
"Um dos piores momentos que já vivi é perda das três filhas e depois a seguir do lar. São momentos que para uma mulher é preciso ser bastante forte para enfrentar. Mas tudo quanto é tristeza, para quem conhece a palavra de Deus, apega-se nas passagens bíblicas que dizem que "em tudo dai graças a Deus”, ou seja, não podemos dizer que o mundo é bom só quando estamos na felicidade. Na infelicidade, temos que saber que há um prazo determinado para a dor passar.
Durante a nossa conversa, Rosita Viegas repudiou o comportamento de muitas jovens que não se dedicam à formação académica, estando, somente, viradas para o consumo excessivo de bebidas alcoólicas e festas, vícios que, como referenciou, em nada contribuem para o alcance de uma condição de vida estável.
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