Mundo

Comité Central da FRELIMO escolhe hoje o sucessor de Filipe Nyusi

Faustino Henrique

Jornalista

O Comité Central da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) reúne-se, hoje,, em Sessão Extraordinária, para escolher o próximo líder do partido no poder e candidato presidencial para as eleições presidenciais marcadas para o dia 9 de Outubro, num acto aguardado com grande interesse partidário, nacional e regional, facto que marca um momento decisivo para o futuro político de Moçambique.

03/05/2024  Última atualização 12H38
© Fotografia por: DR

Depois de clarificada a questão  segundo a qual a sucessão do líder da Frelimo e candidato às eleiçoes persidenciais de 9 de Outubro não passaria pelo actual líder, igualmente Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi, as águas baixaram no mar agitado do partido no poder e, embora tarde, quando comparado com os processos precedentes, a FRELIMO abriu-se ao debate sobre a escolha do futuro líder da formação política que governa o único país de expressão portuguesa do Índico.

No princípio de Abril, aquando da reunião do Comité Central da FRELIMO, na cidade de Matola, que ficou ensombrada com o tema da sucessão do líder do partido, o incumbente "abriu o jogo”, ao dizer que "ao discutirmos a directiva sobre a indicação de candidatos a deputados da Assembleia da República e a membros das assembleias provinciais, será uma importante oportunidade para avaliarmos o funcionamento dos gabinetes eleitorais a diferentes níveis, incluindo o processo de escolha do candidato da FRELIMO para as eleições de 9 de Outubro próximo, como prioridade".

Numa altura em que o tempo pressiona a FRELIMO, na medida em que, comparativamente aos processos precedentes, em que ocorreram as sucessões do Presidente Joaquim Chissano e Emílio Guebuza, a sequência ocorre em tempo curto atendendo à data das eleições presidenciais.

A menos de seis meses, quando no primeiro caso, com o Chefe de Estado Joaquim Chissano, o sucessor foi conhecido com uma antecipação de dois anos em relação à data das eleições presidenciais, no segundo caso, com Presidente Emílio Guebuza, a sucessão foi feita com um ano de antecedência, o actual processo de escolha do herdeiro de filipe Nyusi apresenta-se teoricamente como tardia, embora subjaz, também, da parte da FRELIMO uma grande capacidae de gestão destes actos, há vinte anos sem grandes sobressaltos.

A experiência da FRELIMO, como gere democraticamente os processos de sucessão dos líderes, independentemente dos contornos nem sempre consensuais que envolvem a escolha, as dinâmicas mais regionais do que étnicas na escolha, os debates e as escolhas propriamente, constitui um caso de estudo e aprendizado para realidade interna em Moçambique e a nível regional, com os chamados partidos de Luta de Libertação Nacional.

Entrevistado pelo Jornal de Angola, para abordar o tema da sucessão na FRELIMO, o jurista Alexandre Chivale, por sinal militante daquela formação política, falou sobre o que estará em jogo com a escolha do sucessor de Filipe Nyusi à direcção do partido e futuro candidato às presidenciais de Outubro de 2024.

Desafios políticos e especulações

Alexandre Chivale afirmou que "o partido está num momento de reflexão intensa sobre a sua direcção futura e a escolha de um líder capaz de lidar com as complexidades de Moçambique. As discussões internas são marcadas por diferentes visões sobre o melhor caminho a seguir, levantando debates sobre continuidade versus mudança e a melhor forma de abordar as questões nacionais urgentes”.

 O jurista adiantou que "com o anúncio público por parte de alguns interessados como pré-candidatos, como Samora Machel Jr. e o general  Hama Thai, o clima político parece ter ganhado uma nova dinâmica, indicando uma possível mudança na forma de escolha do próximo candidato. A candidatura de Machel Jr. representa uma fusão de novas ideias com o respeito pela tradição, prometendo focar na inclusão social, diversidade e desenvolvimento económico, enquanto  a candidatura do General Hama Thai representa o retorno à geração dos combatentes numa altura em que o país clama por uma liderança capaz de garantir a defesa da sua soberania e integridade territorial”.

O que estará em jogo na Sessão Extraordinária do CC do principal órgão do partido ?

"Este processo não é apenas sobre a escolha de um líder, mas sobre a definição da trajectória de desenvolvimento e políticas que o partido seguirá nos próximos anos”, diz Alexandre Chivale.

O também advogado moçambicano afirmou que a decisão sobre o próximo candidato é crucial, pois este deverá enfrentar desafios significativos como o desenvolvimento sustentável, a segurança nacional e a recuperação económica.

"A FRELIMO deve buscar um candidato que não dê apenas continuidade ao trabalho actual e precedente,  mas também amplie e melhore as políticas de seus predecessores, especificamente as iniciadas sob a liderança do Presidente Armando Emílio Guebuza. Este desejo reflecte uma estratégia para reverter as adversidades enfrentadas e alcançar novamente os níveis de crescimento económico que Moçambique experimentou em 2014, antes das crises recentes que impactaram negativamente a economia e a confiança no Governo, diz Alexandre Chivale.

O analista político  adianta que se trata de um processo em que os actores estarão à altura dos desafios por que passa a formação política que proclamou a Independência de Moçambique.

"Acordo tácito” sobre a rotatividade regional

Tal como noutras realidades políticas que deram exemplos notáveis de concertação e diálogo, em nome da paz, estabilidade política e jogo democrático embrionário, a FRELIMO dá um passo que lembra a Nigéria de 1999, com o regresso da IV República e o Líbano, pós-Guerra Civil de 1975-1990, com o sistema de rotatividade. Trata-se, no primeiro caso, de alternância regional entre o Norte, predominantemente muçulmano, e Sul, maioritariamente cristão, no exercício do cargo de Presidente.

No Líbano, pouco depois do fim da Guerra Civil, os três maiores grupos sociais, os árabes sunitas, os xiitas e os cristãos maronitas decidiram tacitamente  que, com a adopção do processo democrático, o poder ficaria sempre distribuído do seguinte modo: o chefe do Governo passa para o maior grupo, os árabes sunitas, o presidente do Parlamento deve ser um xiita e, finalmente, o Presidente da República, uma figura decorativa, tem de ser um cristão maronita.

Três presidentes da FRELIMO, que se sucederam desde a Independência, eram todos  do Sul do país, Samora Machel, Joaquim Chissano e Emílio Guebuza, facto que levou a uma ruptura, com Filipe Nyusi, orginário do Norte, região onde historicamente a FRELIMO deu início à Luta Armada de Libertação Nacional.

E num processo que se quer como paradigma aos equilíbrios regionais, na escolha do lider do partido, numerosas vozes dentro do partido ganham espaço no sentido que, com o precedente aberto por Filipe Nyusi, a próxima região a "dar o futuro líder da FRELIMO” deve ser o Centro do país. 

Sobre esse debate, no início do mês de Abril, a porta-voz da FRELIMO, citada pela DW, esclareceu que "a questão não é de onde vem o futuro do partido, mas o que pode trazer para a governação do país."

No fundo, para os moçambicanos, embora importa e conte para os efeitos de equilibrio regional, para o bem da estabilidade, concórdia e inclusão, o mais importante é que o futuro líder da FRELIMO represente a todos, traga novas ideias e soluções para os actuais desafios que o partido enfrenta e, caso seja eleito, que Moçambique vive.

Daí o secretário-geral da Associação dos Combatentes da Luta de Libertação de Moçambique (ACCLIN), Fernando Faustino, ter defendido,  em tempos,  que "o futuro líder do partido no poder deve ser uma figura que inspira confiança no nosso seio, com um passado limpo, conhecedor da história do partido e que os seus ideais sejam capazes de devolver a identidade da FRELIMO, a sua memória e ideologia".

Há aqui, na verdade, um debate interminável entre dois pólos opostos que,  por um lado, pretendem preservar os ganhos da tradição iniciada há dez anos, quando a sugestão indicava a predileção pela rotatividade regional e, por outro lado, defendem que a necessidade de um candidato que possa demonstrar competência, liderança efectiva e um compromisso com a integridade, independentemente da região de origem.

 

 

 

 

Os prováveis e improváveis candidatos

Algumas vozes defendem que o sucessor de Filipe Nyusi vai ser um dos três últimos, mas nã há dúvidas de que só a perspectiva da pluralidade de candidaturas, abertura  do debate sobre a sucessão do líder do partido e a liberdade com que as várias correntes no seio da FRELIMO emprestam o seu calor e favor deste ou daquele candidato espelha o grau de democraticidade interna da FRELIMO, que tem sido exercitado com maior ou menor grau de debates internos, há quase vinte anos.

Ultrapassado que parece estar o lado hermético com que era encarado o processo de sucessão, mergulhado num centralismo e segredo dos deuses, contra o qual a FRELIMO bateu a porta, para frente ficam os desafios relacionados com a herança.

Quatro figuras despontam como prováveis e improváveis candidatos à liderança da FRELIMO, entre elas Samora Machel Júnior, filho do antigo Presidente de Moçambique, que não se coibiu de se aprsentar  como pré-candidato,  numa altura em que ninguém o tinha feito, embora tenha eventualmente a desvantagem da questão regional, caso este quesito vingue, além das dinâmicas ligadas às correntes e vozes contrárias dentro do partido.   

"A minha candidatura é fundamentada nos princípios da busca pela paz, pelo respeito à diversidade e à diferença, a promoção da inclusão e igualdade, dignidade humana e assegurar o crescimento económico de Moçambique para garantir um ambiente propício ao desenvolvimento económico e social, com especial atenção à criação de empregos para jovens e assistência aos mais necessitados", esclareceu Samora Machel Júnior no manifesto político de pré-candidatura, tal como divulgado pelo jornal Savana.

Nascido a 3 de Abril de 1961, no Posto Administrativo de Macuse, distrito de Namacurra, província da Zambézia, foi ministro do Interior, desde 19 de Janeiro de 2015 até 2021. Tem a pós-graduação em Ciências Jurídicas pelo Instituto Superior de Ciência e Tecnologia de Moçambique.

Jaime Monteiro é membro da Polícia da República de Moçambique, desde 1977, tendo a chegado ao posto de Comissário da Polícia, em 2010.

Foi nomeado Vice-Comandante da Polícia da República de Moçambique, em 2011, e no mesmo ano, nomeado membro da Comissão Nacional de Títulos Honoríficos e Condecorações.

Nascido a 1 de Janeiro de 1951 em Nova Mambone, no distrito de Govuro, província de Inhambane. Antigo combatente da Luta de Libertação Nacional, na qual participou desde que ingressou na Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), em 1969. Tem muita experiência na área militar, com formação na Ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), na Tanzânia e em Moçambique.

Actualmente, é docente universitário da cadeira de Gestão de Empresas, na Universidade Politécnica, desde 2013, em Maputo. E, desde 2016, é docente da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), onde lecciona as cadeiras de Técnicas de Negociação, Empreendedorismo e Comportamento nas Organizações. Também, é autor de vários livros: Liderança e Processos de Decisão em Samora Machel – 2019, Introdução à Temáticas de Gestão Global e Estratégica 2019.

Nascido  a 10 de Setembro de 1958, na localidade de Ampara, distrito do Búzi, província de Sofala, foi nomeado Ministro de Agricultura e Segurança Alimentar a 19 de Janeiro de 2015. É Engenheiro Agrário. Membro da FRELIMO desde 29 de Janeiro de 1979, sendo, actualmente, integrante da Comissão Política, foi ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Dezembro de 2017 até 2020.

Diz-se que José Pacheco é o pré-candidato que reúne mais consenso entre os membros da FRELIMO, uma condição que o coloca em vantagem em relação aos demais.

Futuro do partido e do país

Diz Alexandre Chivale que "a escolha do candidato da FRELIMO terá implicações duradouras para Moçambique. O partido precisa de apresentar uma figura que seja capaz de unir o país e conduzir políticas que respondam às exigências do presente e preparem o país para os desafios futuros. Esta decisão será um indicativo das prioridades políticas do FRELIMO e da sua visão para o desenvolvimento nacional”.

O também articulista do Jornal de Angola afirma que "o próximo candidato deverá, portanto, ser alguém com uma visão clara, competência comprovada e um compromisso genuíno com o progresso de Moçambique. Se não quiser repetir os erros dos tempos hodiernos, o próximo candidato deve evitar, no máximo, centrar-se na perseguição do seu antecessor, ainda que essa seja a vontade de quem lhe rodear, sob pena de ser mais um "chauffeur” ao retrovisor e, com isso, o inevitável cortejo de fracassos”.

Para Chivale, esta escolha não só definirá o resultado das próximas eleições, mas também o legado que o partido deseja construir para as futuras gerações. Este é um momento para o FRELIMO reafirmar os seus valores e objectivos, escolhendo um líder que possa realmente conduzir Moçambique através de um período de recuperação e renovação.

Vamos espera que líder a FRELIMO vai escolher hoje como o sétimo líder do partido depois de Eduardo Mondlane, Uria Simango, Samora Machel, Joaquim Chissano, Emílio Guebuza e Filipe Nyusi, com perspectivas de vir a tornar-se no quinta Presidente da República de Moçambique, caso venha a ser escolhido pelos eleitores moçambicanos, nas eleições presidenciais do dia 9 de Outubro de 2024.

 

 

 

 

 

 

 

 


Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Mundo