Desporto

Comité Olímpico Angolano passa a contar este ano com nova sede

Isaquiel Cori

Jornalista

Homem inteiramente dedicado ao desporto, primeiro como atleta e depois como dirigente, tendo durante dois ciclos eleitorais ocupado o assento de deputado pela bancada do MPLA, Gustavo Vaz da Conceição, presidente do Comité Olímpico Angolano, está prestes a concretizar um dos seus maiores sonhos: a inauguração do edifício-sede do Comité Olímpico Angolano.

05/05/2024  Última atualização 10H10
© Fotografia por: DR

Situado na Avenida 21 de Janeiro, ao Morro Bento, defronte à Maxi, o edifício está em fase avançada de construção. Vai contar com três pisos, um dos quais subterrâneo, com valências como parque de estacionamento, anfiteatro e áreas de lazer, além, obviamente, das áreas de trabalho. Nada a ver com as instalações acanhadas, num recanto quase perdido do pavilhão da Cidadela Desportiva, onde actualmente o COA funciona.

"Conseguimos juntar alguns fundos ao longo destes anos que estou como presidente do COA, com o sacrifício de atletas, técnicos e dirigentes, fomos fazendo poupanças que nos permitiram lançar a obra da nova sede. Tivemos também a ajuda do Governo nesse aspecto, do Senhor Presidente da República”, contou Gustavo da Conceição ao Jornal de Angola, com um misto de satisfação e cansaço, pois se a obra está quase no fim, a verdade é que também exigiu da direcção do Comité Olímpico esforços concentrados e muita disciplina orçamental.

"Em princípio, tudo corre bem. Queríamos que a nova sede ficasse pronta antes dos Jogos Olímpicos, mas não conseguimos isso. Mas logo depois, em Setembro ou Outubro, a nova sede deve estar pronta”, garantiu o antigo craque do 1º de Agosto e da Selecção Nacional de Basquetebol, que agora quer fechar a sua carreira com a entrega à comunidade olímpica angolana de uma sede onde todos se poderão sentir em casa.

E quando se podia esperar de Gustavo da Conceição que se recandidatasse a um novo mandado como presidente do COA, para assim desfrutar, merecidamente, da nova sede, é ele próprio que contraria essa expectativa: "Depois dos Jogos Olímpicos de Paris retiro-me como presidente do Comité Olímpico Angolano, esperando que o movimento eleitoral possa encontrar um bom sucessor para os desafios que o Comité Olímpico tem e que, em crescendo, vão ser maiores do que aqueles que eu tive”.

"Vamos para as eleições  possivelmente já na nova casa. É um edifício de três andares, na 21 de Janeiro. Quem passar por ali vai ter que ver que ali está o Comité Olímpico. É um edifício que vai dar mais dignidade ao Comité Olímpico”.

Outro sonho que Gustavo da Conceição almeja ver concretizado nesse seu final de mandato é a melhoria das condições de treinamento no Olímpáfrica. "É um terreno que nós temos em Viana, onde estamos a tentar dirigir uma escola primária e tem um campo de futebol ao lado, bem como uma pista de atletismo de areia. Queremos dar valor àquele espaço, vamos concluir a escola primária e melhorar um bocado as condições daquele campo e da pista de atletismo”.

O presidente do COA não esconde o carinho especial que tem pelo Olimpáfrica. E ele explica por quê: "Os campeões mundiais que o país tem, todos, todos, começaram ali no Olimpáfrica. Estou a referir-me, nomeadamente, ao Sayovo, que começou a treinar lá. Estou a referir-me também à Selecção de Futebol de Muletas, que começou a treinar lá antes de ser campeã do mundo, há três anos . Não sei se vocês se lembram. Portanto, aquele centro tem de merecer o nosso carinho especial por causa disso. Porque fez campeões mundiais nossos. Temos o desafio de fazer alguma coisa pelo Olimpáfrica   e acredito que vamos poder fazer isso até ao fim do nosso mandato”.

E agora o segredo que vale milhões. Por que razão Gustavo da Conceição se mostra tão decidido e aparentemente obcecado em abandonar o dirigismo desportivo? Aos 67 anos o que vai fazer na vida?

"Vou seguir a minha vida privada, a minha vida particular. Dedicar mais tempo aos meus alunos lá na Universidade. Ou ainda, enfim, cuidar das coisas da família, cuidar dos bens pessoais. Não vou dizer que vai haver uma ruptura  com o desporto. Não, não vai haver nenhuma ruptura com o desporto. Sou um homem de desporto e hei-de morrer neste ambiente, não é? Mas haverá uma paragem dessas grandes responsabilidades que nos últimos 20 anos tenho vindo a assumir”.

Gustavo da Conceição mostrou-se céptico quanto à possibilidade de enveredar pela carreira política, realçando que foi deputado em duas legislaturas, numa das quais na qualidade de membro da Constituinte que aprovou a actual Constituição, condição que ele assume com muito orgulho. "Já passei por estas coisas, já passei pela responsabilidade associativa nacional, passei pela responsabilidade associativa internacional, enfim, posto de novo no país voltei a assumir responsabilidades a nível associativo. Fui presidente da Federação de Basquetebol, uma experiência federativa, presidente do Comité Olímpico, uma experiência, digamos assim, transfederativa… Depois disso olho para trás ainda com alguma insatisfação porque não fiz tudo o que gostaria de fazer, tudo aquilo que eu pensei que poderia fazer ou que poderia contribuir para que o desporto nacional ficasse melhor. Mas acho que este é o momento de eu ir embora”.

Homem que se notabilizou como desportista cerebral, inteligente em campo tanto nas acções defensivas como ofensivas, Gustavo da Conceição não vai deixar o COA entregue ao deus dará, como um barco à deriva. Ele assume que vai deixar um conjunto de pessoas com quem pôde partilhar experiências ao longo dos anos. "Sem falsa modéstia, trata-se de pessoas a quem pude ajudar a amadurecer e a serem os dirigentes desportivos que hoje são. Garantidamente o Comité Olímpico encontrará um sucessor de qualidade e à altura dos desafios que vai ter”.

Tirando os de Atenas, participou em todos os Jogos Olímpicos em que Angola se fez presente, mas nunca na qualidade de atleta, só como dirigente. "A primeira vez que a Selecção de Basquetebol de Angola se qualificou para os Jogos Olímpicos já eu era vice-presidente da Federação.Fui aos Jogos Olímpicos de Barcelona nessa qualidade, com a célebre equipa de Angola que em 1992 ganhou à Espanha. De resto, tenho estado sempre nos jogos, quer por ter tido a condição de secretário-geral do Comité Olímpico, antes de ir para o ACNOA, quer na minha condição de presidente do Comité Olímpico”.

Gustavo da Conceição reitera que com os Jogos Olímpicos de Paris se vai fechar um ciclo: o ciclo olímpico e também o do seu mandato enquanto presidente do Comité Olímpico Angolano.

Gustavo Dias Vaz da Conceição nasceu em Luanda aos 8 de Março de 1957. Como atleta fez parte da geração de ouro do basquetebol angolano, aquela que a partir do Campeonato Africano de Juniores, em 1980, pavimentou e cimentou a hegemonia do basquetebol angolano em África. Foi vice-presidente e depois presidente da Federação Angolana de Basquetebol. Foi líder da Associação dos Comités Olímpicos de Língua Oficial Portuguesa e membro da Comissão dos Assuntos Legais da Associação Mundial dos Comités Olímpicos. Foi ainda director técnico da Associação dos Comités Nacionais Olímpicos Africanos (ACNOA).

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