Félix João Fula, seu nome de registo civil, é filho de Francisco Fula e de Eva Capemba. Nasceu no dia 26 de Setembro de 1966 no bairro Kipungo, comuna de Quibaxe, município dos Dembos. Ele é Sua Alteza Príncipe dos Dembos e abriu as portas do Lumbo (“sala de visita”) para o Jornal de Angola.
Alejandro Guillermo Verdier regressa, hoje, a Buenos Aires, depois de ter estado durante três anos em Angola, como embaixador da Argentina. Convidado pelo Jornal de Angola a fazer um balanço sobre o seu mandato e do que mais o impressionou no país, o diplomata teceu rasgados elogios aos angolanos. “Levo comigo a imagem de um povo extremamente afável e com virtudes”, afirmou o embaixador que, durantea entrevista, destacou as realizações enquanto representante do Estado argentino em Angola. Também assumiu um fracasso: o facto de não ter conseguido convencer Lionel Messi a visitar o país
Ao redor do mundo, 285 milhões de pessoas têm alterações visuais, desde leves a moderadas. Deste número, 80 por cento podem ser prevenidas ou tratadas. Infelizmente, 90 por cento das pessoas afectadas vivem em países em desenvolvimento.
O Dia Mundial da Visão foi instituído pela Agência Internacional de Prevenção da Cegueira. Como estamos relativamente a este assunto em Angola?
O
Dia Mundial da Visão comemora-se anual e internacionalmente toda a segunda
quinta-feira do mês de Outubro. Foi criado como um dia de reflexão, para que os
estados, organizações e a população ponderasse sobre as causas e consequências
da deficiência visual no mundo.
Com o conhecimento obtido nas pesquisas e encontros internacionais, quantas pessoas no mundo vivem com problemas de visão?
Segundo
a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem cerca de 285 milhões de pessoas
no mundo com alterações visuais de leve a moderadas. Destas, 80 por cento podem
ser prevenidas ou tratadas. Infelizmente, 90 por cento destes casos surgem em
países em desenvolvimento. No país, este dia também serve de reflexão,
tentando-se consciencializar a população através de comunicados nas redes
sociais, acções viradas para os Cuidados Oculares Primários (COP), realização
de palestras, campanhas de rastreios visuais e de catarata.
O Dia Mundial da Visão está, de alguma maneira, ligado ao Dia da Saúde Ocular. O que é feito em Angola quanto a saúde ocular dos angolanos?
A
data está de certa forma ligada à consciencialização da população sobre o
problema relacionado com a visão. Já o Dia Mundial da Saúde Ocular, comemorado
a 10 de Julho, tem a intenção de alertar a população e os profissionais de
saúde para a importância do diagnóstico e prevenção das doenças oculares, como
as conjuntivites, tracoma ou outras cataratas, o glaucoma. As doenças oculares,
se não forem tratadas, podem levar à cegueira.
Que medidas simples podem ser tomadas para evitar algumas doenças?
As
medidas podem ser a lavagem das mãos, higienização dos olhos, como pálpebras e
cílios. A remoção de produtos cosméticos ao fim do dia é essencial, assim como
piscar os olhos evitando assim a sua secura, principalmente em usuários de
computadores. Outro aspecto importante é prevenir os acidentes de trabalho
oculares com o uso de máscaras, para evitar a entrada de corpos estranhos, como
limalhas. Além disso é essencial aferir o estado geral da saúde ocular,
principalmente quando se é portador de doenças sistémicas como diabetes
mellitus e hipertensão arterial.
Como responsável de uma unidade que trata da saúde ocular no país, qual tem sido o principal problema?
Infelizmente,
existem poucos profissionais de saúde ocular em Angola, assim como pouco acesso
aos serviços de oftalmologia, pelo facto de o serviço de saúde ocular a nível
primário ainda não ter sido implementado. Mas, apesar disso, temos assistido
cada vez mais à procura por estes serviços e os profissionais em serviço têm
feito esforços, levando a oftalmologia onde não existe, através de campanhas de
rastreios visuais e cirurgias. Por isso, apesar do défice de profissionais de
saúde ocular, grande parte dos problemas oculares já são resolvidos no país,
excepto os transplantes de córnea. Até há 10 anos, a oftalmologia era a segunda
especialidade que mais pacientes enviava para o exterior, passando para oitavo
lugar, em especial nos casos de enxertos da córnea.
O número reduzido de profissionais se deve ao facto de ser uma formação difícil?
A
falta de especialistas é transversal a todas as especialidades e a de
oftalmologia não é uma excepção. De uns anos para cá, tem havido crescimento na
procura. Neste momento, o IONA tem 42 médicos internos a fazer a especialidade.
A perda da visão é sempre irreversível ou há casos em que se pode recuperar? Quais?
A
maior parte das patologias oculares quando tratadas atempadamente, podem ter
boa resposta terapêutica, excepto algumas hereditárias ou o glaucoma, uma
patologia muito prevalente entre nós, que cursa sem sintomas e evolui
inexoravelmente para a cegueira em ausência de tratamento.
Quais as principais causas de cegueira no mundo e que podem ser prevenidas e/ou tratadas?
Sem
dúvida, a maior causa de cegueira reversível a nível mundial é a catarata, que
tende a aumentar por estar associada ao envelhecimento populacional. É preciso
destacar também a retinopatia diabética e hipertensiva, ligadas principalmente
ao descontrolo das doenças de base. O
glaucoma é outra causa muito frequente, principalmente em pessoas de raça
negra, afrodescendentes e hispânicos. Geralmente, é assintomática e
infelizmente irreversível. Em países em desenvolvimento existe também a
degeneração macular associada a idade. Em países em desenvolvimento, além
destas, ainda se tem o fardo das doenças infecciosas, ligadas ao sarampo,
desnutrição, a avitaminose A e tracoma.
Quais são as mais comuns no país?
Além
de doenças infecciosas, como doenças da conjuntiva e córnea, temos a catarata,
o glaucoma, extremamente frequente no país, sendo a terceira ou quarta causa de
observação no IONA. Os traumatismos oculares são também muito preocupantes,
principalmente em crianças de tenra idade, por brincadeiras perigosas com facas
e tesouras. Existem numerosos casos de extracção do globo ocular de causa
traumática.
A procura, cada vez maior, pelos serviços de oftalmologia e optometria revelam uma tendência crescente dos problemas ligados à visão ou devemos associar também a componente estética?
Penso
que mais por problemas ligados à visão. Por exemplo, durante a infância, são
muito frequentes os erros ou defeitos refractivos (necessidade de óculos), aos
40 – 60 anos, começam as doenças crónicas e degenerativas, como glaucoma,
catarata e retinopatia diabética.
Não deveria haver mais informação disponível à população sobre os serviços de oftalmologia e optometria?
A
optometria é uma ciência autónoma que estuda, avalia e apresenta solução para
que as acuidades visuais estejam na plenitude das suas funções, devido às
exigências cada vez maiores em termos de performance visual. Quer dizer que o
optometrista, enquanto profissional da visão, tem como papel principal aferir a
acuidade visual aos utentes e mediante o resultado encontrado, graduar
(receitar óculos). O optometrista não está capacitado para diagnosticar e
tratar doenças oculares. Já o oftalmologista, que antes de tudo é licenciado em
Medicina, é um profissional capacitado para tratar de problemas do fórum
patológico (doenças oculares). Um exemplo disso, são as doenças provocadas pelas
diabetes mellitus, hipertensão arterial, doenças da superfície ocular, como
conjuntivites, queratites, doenças de retina, glaucoma e catarata.
Qual é a recomendação para as pessoas que queiram prevenir enfermidades oculares, inicialmente assintomáticas?
Dependendo do grupo etário, as consultas de
rotina deveriam ser ao nascimento, mesmo em ausência de doença, na idade
pré-escolar e escolar (para pesquisa de defeitos refractivos-óculos), aos 40
anos devido ao surgimento de glaucoma e depois de 60 anos pela incidência de
catarata. Deve-se ter em conta a história familiar e a presença ou não de
doenças sistémicas, principalmente como a diabetes e hipertensão arterial.
Qual é a explicação para a catarata? Como e quando se pode dar conta dos primeiros sinais?
Denomina-se catarata a opacidade de uma lente
intraocular. Surge por várias causas, desde congénita, hereditária, secundária
a uso de medicamentos como corticóides ou doenças como diabetes e traumatismos.
Mas, a mais frequente é a associada ao envelhecimento, em que a lente vai
perdendo a transparência.
O estrabismo (desvio ocular) é muito frequente, sobretudo em menores e muitas vezes sem tratamento definitivo. O que se pode fazer para mudar o quadro?
O
estrabismo tem tratamento e este deve ser o mais precoce possível, ou seja,
logo que os pais notarem o desvio ocular. O tratamento pode ser com óculos ou
cirurgia. Muitas vezes tem que se fazer reabilitação visual, ou seja, melhorar
a visão do olho pior que, geralmente, é o que costuma estar mais desviado. Uma
recomendação muito importante é que às vezes um olho desviado numa criança
abaixo dos 3 anos, em 20 por cento dos casos, pode ser o primeiro sinal de um
tumor intra-ocular altamente maligno, que é o retinoblastoma.
Que opinião tem da forma como as pessoas usam dispositivos, como as lentes de contacto, removem parte das sobrancelhas e acrescem sem qualquer aconselhamento médico?
As
lentes de contacto devem ser prescritas por um profissional de saúde ocular,
optometrista ou oftalmologista e com indicações específicas. Não pode ser um
olho com infecção ou outras alterações. Em relação ao uso de cílios postiços
deve ter-se cuidado pela toxicidade que podem provocar, devido ao uso da cola,
ou até mesmo de causar lesões graves a nível da superfície anterior do olho.
Médicos oftalmologistas são os únicos habilitados a tratar pacientes
A proliferação de "centros ópticos” é um problema, que precisa de ser devidamente regulado, ou uma solução à crescente procura por estes serviços?
Os serviços primários de saúde ocular devem
ser assegurados pelas ópticas, técnicos de optometria e enfermeiros
especializados devidamente cadastrados nas respectivas associações. Estes, por
sua vez, devem orientar para o médico oftalmologista todos os casos de
patologia ou que necessitem de prescrição de medicamentos, quer sejam tópicos
(colírios) ou sistémicos (comprimidos).
Deve-se deixar claro que apenas o médico oftalmologista, está capacitado
para diagnosticar, tratar, seguir e operar doentes. De realçar que algumas
ópticas, têm médicos em regime de colaboração, podendo assistir pacientes com
doenças, mas não realizar cirurgias. Estas só podem ser realizadas em locais
credenciados pelos órgãos de tutela.
O que falta para a oncocercose, doença parasitária crónica também chamada de "cegueira dos rios”, ter maior atenção, principalmente nas zonas endémicas?
A
oncocercose ou doença dos rios já é um problema de Saúde Pública, enquadrada no
programa das doenças crónicas negligenciadas. Existem programas para
erradicação da doença, com a aplicação de certas medidas como luta anti-larval,
campanhas de sensibilização para a população evitar banhos nos rios,
particularmente nas áreas endémicas e alguns tratamentos médicos específicos.
Atendimento
de qualidade
Em
termos de atendimento, como são os números do Centro Nacional de Oftalmologia?
Em
2022, o Instituto Oftalmológico Nacional de Angola (IONA) atendeu 68.238
pacientes e operou 5. 676, deste número 2.352 foram cataratas (cerca de 40 por
cento). No terceiro trimestre de 2023 já foram observados 65.434 pacientes e
operados 5.928, dos quais 3.006 cataratas, o que corresponde a 51 por cento do
total de cirurgias. Actualmente o hospital atende mais pacientes do que a sua
capacidade física suporta. Ainda assim, podemos considerar que tem um
atendimento de qualidade.
O Instituto Oftalmológico Nacional de Angola tem condições técnicas e humanas para atender a actual procura?
O
IONA está preparado, do ponto de vista tecnológico, para dar resposta a um
elevado número de situações, com tecnologia de ponta e a realização de
cirurgias complexas. Uma prova disso foi a redução de casos enviados para o
exterior do país, pela Junta Nacional de Saúde. Em relação aos recursos
humanos, temos um certo défice, em especial para algumas sub-especialidades.
Que sub-especialidades são?
Precisamos
de um especialista em Neuro-oftalmologia e um técnico de baixa visão. Este
último para dar uma atenção especial aos albinos e as crianças com estrabismo.
Há dias, houve o relato do caso de um cidadão, transferido do Zaire, com uma faca espetada no olho e que acabou tratado, mas perdeu a visão. Pode explicar o que se passou e porquê a perda da visão?
Esse
paciente passou antes pelo IONA, que ao ser uma unidade monovalente (só atende
casos de oftalmologia), o encaminhou para uma outra unidade, pelo facto de que
o paciente precisava de ser avaliado por uma equipa multidisciplinar
(oftalmologista, neurocirurgião, maxilo-facial, otorrinolaringologista). Este
foi atendido com sucesso, mas quanto ao globo ocular não houve chances de o
recuperar anatómica e funcionalmente. O mesmo estava muito comprometido desde o
início.
Que conselhos deixa para as pessoas cuidarem melhor dos olhos?
As pessoas precisam fazer triagem ao nascimento, durante o pré-escolar e o escolar. Ter o hábito de procurar imediatamente um profissional de saúde ocular sempre que notar uma alteração, fazer a pesquisa de glaucoma aos 40 anos e aos 60 anos tomar maior atenção com as cataratas e outras e doenças sistémicas com repercussão ocular, como diabetes ocular e hipertensão ocular.
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