Sociedade

A artesã e costureira mais velha de Benguela

Arão Martins / Benguela

Jornalista

Natural de Benguela, Maria do Carmo Baptista vive actualmente no centro da vila da Catumbela. Produziu centenas de peças artesanais, com base em técnicas de cetim, algodãoe reciclagem de garrafas com objectivos decorativos e cestos.

05/05/2024  Última atualização 09H59
© Fotografia por: Arão Martins | Edições Novembro

Conhecida também como especialista em técnicas de reciclagem de plástico, de aproveitamento de garrafas para objectivos úteis, as suas obras continuam a ser a principal preferência de muitas pessoas. Peças suas foram vendidas a turistas de Portugal, Espanha, Brasil, China e Cuba.

O gosto pelas artes surgiu-lhe por inclinação natural, à semelhança da enfermagem. O amor pelas belas artes, disse, mesmo tendo o curso de enfermagem, fez-lhe frequentar o curso de corte e costura.

Maria do Carmo Baptista mostrou-se satisfeita pela fama que granjeou, dada a qualidade das suas obras. Ela é figura de referência como artesã e como costureira. Actualmente, disse, para passar o seu legado, ensina várias jovens a enveredar pela área do corte e costura.

Filha de Faustino Alfredo e de Helena Luísa Alfredo, Maria do Carmo Baptista disse que, inicialmente, também fazia trabalhos, por curiosidade, na área da pintura.Pintava em tecidos de cetim e algodão e produzia almofadas para decoração. Também comprava objectos de barro e os pintava. Vendia as obras a que dava vida.

O trabalho de pintar argila parou, nos anos 90, com o desaparecimento físico do oleiro, que vivia no Caputo.

Mais tarde adquiriu máquinas de costura e electrodomésticos. Com parte do dinheiro da costura e das artes plásticas comprou uma viatura.

Como funcionária do hospital da antiga Açucareira, as colegas solicitavam as suas obras.  Mesmo sendo enfermeira no activo, já vendia as suas obras de arte.

 
Corte e costura

Actualmente, a tia Maria do Carmo faz da sua actividade a principal ocupação em tempo de reforma. Nesta fase, faz, além do artesanato, a actividade de corte e costura.

Nascida aos 19 de Outubro de 1952, Maria do Carmo Baptista faz todo o tipo de obra de corte e costura. Conta com dois tipos de máquinas: totalmente eléctrica e ao mesmo tempo a pedal.

Disse que os trajes africanos, tanto para homens como para mulheres, são as obras mais solicitadas, não só pelos habitantes da Catumbela, mas, também, de Benguela e do Lobito.

Ela faz todo o tipo de roupa e na medida certa. Há quem viaje de outras paragens para ter roupa da grande modista, devido à preferência pela arte de Maria do Carmo Baptista. As obras são feitas, na sua maioria, por encomenda.

Mãe de um filho, além da costura gosta de plantas. No seu quintal, tem também árvores de fruta. Já ensinou brasileiras a cortar e a costurar e vestiu noivas espanholas. Também confecciona roupas para clientes da Rússia.

 
Lembranças do pai 

Maria do Carmo Baptista elogia bastante a memória do pai,   Faustino Alfredo, antigo enfermeiro. O pai foi o primeiro comissário municipal da vila da Catumbela, logo depois da proclamação da Independência Nacional a 11 de Novembro de 1975.

Faustino Alfredo, lembra Maria do Carmo Baptista, foi um pai presente, amigo e grande conselheiro.As suas obras, lembrou, foram fundamentais na formação da sua personalidade "como mãe, irmã, amiga, avó, conselheira e muito mais”, pelo que nunca deixa de agradecer a dádiva dos seus nobres ensinamentos.

Actualmente, a gozar a reforma pelo Ministério da Saúde, Maria do Carmo Alfredo Baptista, além de passar o tempo dedicada ao que mais gosta de fazer, a costura,  também cuida da neta, por sinal sua xará.

A neta, indicou, é a sua principal companheira do dia-a-dia. Ela assume que tem no coração a cidade do Lubango, capital da província da Huíla, "por causa das frutas e do clima”.

 
O redobrar de apoios

Membro do Comité da Mulher Artista da organização Kaniaki Cultural, Maria do Carmo Baptista defende o redobrar do apoio às mulheres camponesas.Reconheceu que, devido ao actual contexto, as mulheres do campo vivem desafios enormes, a começar pela aquisição de enxadas, fertilizantes e sementes.

"É preciso que quem de direito  intensifique os apoios mediante uma selecção justa. Sou contra os apoios que são sempre prestados às mesmas pessoas”, frisou.

Disse que, actualmente, a sua preocupação é a transferência de conhecimento às novas gerações. Por isso, conta com três meninas a quem está a instruir. São elas Helena Sassokópia, Elvira Jorge e Maria Feliciano. "O objectivo é transmitir o testemunho às novas gerações”, salientou.


Exposição artística

A artista plástica e anciã Maria do Carmo Alfredo Baptista fez a sua primeira exposição individual de pintura e artesanato no âmbito das celebrações dos 22 anos de Paz. A exposição decorreu na Paróquia do Sagrado Coração de Jesus da Catumbela e foi visitada por centenas de populares.

Denominada "A mulher, as belas artes e a paz social”, a exposição individual, cuja inauguração foi abrilhantada pela poetisa Josefina Monteiro, 16 anos, além do guitarrista Marcelo Kassanje, 17 anos, foi uma iniciativa da organização Kaniaki Cultural.

A mostra contou com 27 peças e retratou as vivências, os sentimentos, a paz, os problemas sociais e a preocupação da mulher com a sociedade, a partir da família e em conexão com os programas de diversificação da economia.

A exposição foi visitada por entidades eclesiásticas, madres, docentes universitários, estudantes, gestores escolares, entre outros, da Catumbela, Lobito, Benguela, Baía Farta e turistas nacionais e estrangeiros. A artista disse que é importante promover a cultura e o respeito pelos símbolos nacionais.  Além das peças artísticas e artesanais, Maria do Carmo mostrou, também, as suas obras de corte e costura.

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