Entrevista

“A grande aposta da Administração Municipal é a massificação do turismo”

Carlos Paulino | Menongue

Jornalista

O município do Cuito Cuanavale completa, hoje, 57 anos de existência. O administrador municipal, Daniel Bimbi Alfredo, disse que a grande aposta da Administração é a expansão dos serviços de saúde e a massificação do turismo, para dinamizar a economia local

18/03/2024  Última atualização 07H42
Gestor apela operadores turísticos a visitarem o município para um estudo do seu potencial © Fotografia por: Nicolau Vasco | Edições Novembro

Quais são os principais ganhos do município nos últimos anos?

O balanço que se pode fazer é positivo, uma vez que o município do Cuito Cuanavale tem registado muitos ganhos em vários domínios, com maior destaque para o sector social com a construção de importantes infra-estruturas, no âmbito do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM) e Programa de Desenvolvimento de Combate à Pobreza (PDCP).

 
Qual é a grande aposta da Administração Municipal para melhorar as condições de vida da população?

A grande aposta da Administração Municipal é a expansão do serviço de saúde para estar mais próximo das populações e a massificação do turismo com vista a alavancar e dinamizar a economia no município.

 
Que projectos estão em curso no município?

Neste momento, estão em curso as obras de construção do palácio do administrador comunal do Lupiri, uma escola com 12 salas de aula e um centro de saúde no Longa, todos no âmbito do PIIM. Também estão em andamento a construção do largo/jardim da sede municipal e outras infra-estruturas, no quadro do PDCP. Assim como, a conclusão do estancamento de quatro ravinas de grandes proporções que perigam a vida de centenas de habitantes e ameaça cortar a circulação rodoviária.

 
Quantas obras estão paralisadas no município e qual é o principal motivo?

Temos muitas obras paralisadas, sendo três com maior relevância: o Hospital Municipal do Cuito Cuanavale, cujas obras estão paradas, há mais de oito anos, o edifício Residencial Autárquico, paralisado, há mais de dois anos, e a asfaltagem dos sete quilómetros da Estrada Nacional 280, todos por motivos de financiamento.

 
Como estão a decorrer as obras do PIIM?

O município foi contemplado com oito projectos inscritos no PIIM. Cinco já foram inaugurados e em uso pela população. As três obras que faltam estão em bom andamento.

 
Quais são os projectos já concluídos e os que estão em curso?

Temos a reabilitação e ampliação de um pavilhão de artes e ofício, a construção de uma morgue com capacidade de seis gavetas, um posto de saúde, uma escola de seis salas de aula e a aquisição de um kit de limpeza e saneamento básico. Falta concluir as obras do Palácio do administrador comunal do Lupiri, um centro de saúde na comuna do Longa e uma escola de 12 salas de aula do I e II segundo Ciclo do Ensino Secundário, na sede municipal.  

 
Como está o projecto para a criação de um núcleo do ensino superior da Universidade Cuito Cuanavale no município?

O projecto está em curso, após várias negociações para a sua efectivação, faltando apenas a criação de condições de infra-estruturas. Esta parte estará concluída, em pouco tempo, para que no próximo ano académico arranquem as aulas do ensino superior no município.

 
Qual é o principal destino dos estudantes que concluem o segundo ciclo?

Por falta de um núcleo do ensino superior, os estudantes que concluem o segundo ciclo vão para a capital da província, onde procuram os serviços da Universidade Cuito Cuanavale ou do Instituto Superior Politécnico Privado de Menongue (ISPPM).

 
Sabemos que muitos quadros da Administração Municipal estão a abandonar os seus postos. A que se deve isso?

Temos, realmente, registado casos de fuga ou desistência de quadros. O que origina isso é a falta de condições de acomodação e de progressão profissional. A falta de uma instituição do ensino superior, e não só, bem como a ausência de investimentos empresariais que garantam a sustentabilidade económica do município também contribui para tal situação.

 
O que falta para o município alcançar o desenvolvimento socio-económico que os habitantes tanto almejam?

Faltam mais investimentos de grande envergadura, para atrair o empresariado nacional e estrangeiro, no sentido de potencializar a economia local, sobretudo o sector do Turismo, que é pouco explorado.

 
Quantas ravinas foram estancadas até ao momento e que perigo as mesmas apresentavam?

No município, já se conseguiu estancar na ordem de oito ravinas, das quais quatro estão em curso e que representavam grande perigo para a vida de mais de 80 famílias.

Quais as principais infra-estruturas que as ravinas destruíram no município?

As principais infra-estruturas que as ravinas destruíram são a Igreja Católica da era colonial, o edifício administrativo da Educação, o corte da circulação rodoviária Cuito Cuanavale/Nancova/Mavinga, já reposto com o estancamento da mesma ravina e o troço que liga o bairro Novo à sede municipal, cuja circulação também já foi reposta.

 
Quantas ravinas ainda existem por se estancar?

Quatro ravinas. A prioridade recai sobre a ravina do Tchissanda-1, que põe em risco a vida de mais de 15 famílias.

 
Como está a decorrer o processo de desminagem?

O processo de desminagem decorre a bom ritmo e está a cargo da operadora Halo Trust, encarregue de desminar os campos de produção agrícola. Está presente a Brigada Militar, que trabalha na limpeza do troço Cuito Cuanavale/ Mavinga, com cerca de 220 quilómetros.

 
Ainda existem muitos campos minados?

Ainda existem, sim, muitos campos minados, com realce para a zona Sul, que inspira cuidados devido ao alto nível de contaminação de engenhos explosivos.

 
O que os munícipes do Cuito Cuanavale esperam com a nova Divisão Político-Administrativa (DPA)?

Os munícipes esperam maior dinamização no crescimento económico e urbano do município, com investimentos públicos e privados, para se acabar com as assimetrias regionais, bem como colocar os serviços mais próximos das populações.

Como está o projecto da criação de pólos agrícolas?

O projecto continua a bom ritmo. Até agora, já foram criados três, distribuídos nas cooperativas de camponeses e, muito recentemente, aos Serviços Prisionais. que estão a produzir muito cereal, tubérculos e hortícolas que estão a ser escoados para muitas regiões do país.

 
Quantas cooperativas de camponeses a Administração controla e quais os produtos mais cultivados?

O município controla 50 cooperativas de camponeses e os produtos mais cultivados são o arroz, milho, massango, massambala, feijão-frade, batata-doce e rena, mandioca, inhame, cebola, tomate, beringela, repolho, couve, cenoura e abóbora. 

 
O que falta para que os camponeses possam produzir em grande escala?

Falta mais apoio aos camponeses com micro-crédito ou meios de trabalho, assim como transporte e estradas em condições que ligam os grandes campos de cultivo para o escoamento dos produtos.

 
Como está o sector da Hotelaria e Turismo, tendo em atenção o grande potencial que o município tem nesta vertente?

O sector da Hotelaria e Turismo ainda carece de muito investimento, pois tem sido um dos grandes constrangimentos para o desenvolvimento do município, que recebe, diariamente, muitos turistas nacionais e estrangeiros, que pretendem conhecer onde aconteceu uma das maiores batalhas militares no continente africano.

 
Que apelo deixa aos potenciais investidores?

O apelo que deixo é que os operadores turísticos nos visitem para que possam fazer um estudo do potencial que temos. E dizer também que o município está aberto para receber qualquer investidor nacional ou estrangeiro.

 
Qual é a situação dos heróis da batalha do Cuito Cuanavale no município?

A situação é estável, uma vez que o Ministério de tutela tem estado a envidar esforços para a melhoria das condições de vida destes homens, que sacrificaram as suas vidas em prol da defesa e integridade do território nacional.

 
Não há reclamações?

Os heróis têm estado a clamar a continuação da sua inclusão em diversos projectos e sectores, o que já temos feito, com maior destaque para o Programa de Desenvolvimento Local e Combate à Pobreza (PDCP).

 
Que projectos o município ganhou no quadro da valorização da memória da Batalha do Cuito Cuanavale?

O município ganhou várias infra-estruturas, com realce para um aeroporto de âmbito internacional, o Memorial sobre a Vitória da Batalha do Cuito Cuanavale, 25 residências protocolares para visitas turísticas, uma Estação de Tratamento de Água (ETA) e uma central de produção de energia eléctrica, com capacidade de 7,5 megawatts.

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