Desporto

A versatilidade da árbitra internacional que desponta sobre a sombra do Cristo Rei

Gaudêncio Hamelay |Lubango

Jornalista

Conhecida pela sua versatilidade, Tânia Duarte, árbitra de categoria internacional, já praticou as modalidades de basquetebol, Futebol 11 e de Salão, no Sporting Clube do Lubango, Amigas do 1º de Agosto (Huíla), Desportivo da Chela e Gira Jovem do Bengo.

09/03/2024  Última atualização 14H00
© Fotografia por: Gaudêncio Hamelay | EDIÇÕES NOVEMBRO| Lubango

Natural do município do Lubango, província da Huíla, Tânia Duarte jogou, também, futebol 11 e Salão na equipa Veteranas da Huíla e Benfica do Lubango.

A sua polivalência e vocação pelo desporto desponta logo na tenra idade, por influência familiar. Ela reconhece a influência dos irmãos mais velhos, o antigo basquetebolista e ex-Jornalista dos Jornal dos Desportos, José Fucato, e a Maria de Jesus (memória), igualmente, ex-praticante da bola ao cesto.

Tânia Duarte é uma pessoa que desde cedo apresentou características propensa para praticar desporto, mediante a sua combinação de atributos físicos, agilidade, resistência e força, associado a isso, a sua determinação, motivação e desejo de competir.

Nas lides desportivas, o seu percurso começou aos 9 anos, fruto da influência dos irmãos que a levavam aos campos ou quadras desportivas. Em casa, devido aos irmãos que já eram praticantes do basquetebol, tinham muitas bolas e, Tânia imitava os movimentos que os irmãos faziam, quando os assistia treinando.

Tânia Duarte conta que já chegou a simular um cesto, com um de balde de cinco litros, para ir fazendo lançamentos. Com este hábito, despertou a atenção dos irmãos, que foram cada vez mais motivando-a.

O desejo foi aumentando, sempre que fosse assistir, na companhia dos irmãos, os treinos e os jogos no Pavilhão Gimno Desportivo do Sport Clube do Lubango, que estava localizado bem próximo da sua residência familiar, assim como no Pavilhão do Benfica do Lubango.

Nos intervalos dos jogos, Tânia era chamada pelos irmãos para dar alguns toques, provocando o delírio dos presentes.

É com essa capacidade e descoberta que Tânia Duarte, foi convidada a integrar a formação de futebol 11 do Sporting Clube do Lubango.

Pelo basquetebol passou pelos escalões de minibasquete, infantis, juvenis, juniores e seniores, sempre pelo Benfica do Lubango, clube conhecido como sendo um celeiro na formação de atletas de basquetebol feminino.

Nos escalões de juvenis e juniores, Tânia Duarte participou, por diversas vezes, em provas nacionais. Sem lembrar dos anos, ao longo da sua carreira como basquetebolista foi por três ocasiões campeã nacional nos escalões de cadetes e, por duas vezes, terceiro lugar em sénior feminino.

Apesar dessa vocação pelo basquetebol, desde criança, Tânia Duarte sempre sonhou jogar futebol 11. Conciliava o basquetebol com o futebol 11, por influência das amigas que jogavam futebol, no campo pelado da Universidade Mandume Ya Ndemufayo.

"Desde criança tive uma paixão pelo futebol 11. Mas, como a maioria das minhas amigas jogavam basquetebol, inclinei-me também para o basquetebol. Com o passar do tempo decidi jogar futebol 11, isto em 2002 ou 2003”, recordou, revelando que os primeiros passos foram dados na equipa do Sporting Clube do Lubango, mas esteve mais tempo a jogar na equipa das Amigas do 1º de Agosto.

A habilidade de Tânia Duarte no futebol chamava a atenção de qualquer pessoa que a visse jogar. Muitas vezes, eram obrigadas a parar e assistir uma rapariga tão jovem a driblar. Revela que na época, independentemente da idade, podia fazer dupla categoria. Tinha idade de júnior, mas jogava também nos séniores. "É o que aconteceu quando jogava”, lembrou.

Pelo futebol 11, Tânia Duarte conquistou muitos títulos ao representar as cores da equipa das Amigas do 1º de Agosto da Huíla. No desporto rei, ela jogou durante 16 anos, conquistando vários títulos nos campeonatos provinciais.

Ela também jogou Futsal na equipa das Veterana da Huíla e do Gira Jovem do Bengo. Na terra do Jacaré Bangão, foi campeã nacional por duas épocas.

"Depois do Bengo, regressei para a equipa das veteranas da Huíla, onde fomos campeãs em 2016”, disse. Recordou que terminou a sua carreira como atleta de Futsal, na formação do Grupo Desportivo da Chela, época 2018/ 2019.

Mudança para arbitragem

Depois da sua trajectória como atleta, com o surgimento de uma formação e forma de contribuir para o desenvolvimento do Desporto, Tânia Duarte, abraçou outro desafio, a arbitragem.

A convite do antigo presidente do Conselho Provincial de Árbitros da Associação de Futebol da Huíla, Zinga Carlos, frequentou, em 2008, uma formação na área de Arbitragem, ainda como jogadora de Futebol Salão.

Inicialmente, Tânia Duarte encarou o convite como brincadeira. Mas, depois apercebeu-se que o convite foi extensivo a outras mulheres. Na altura, a Huíla já tinha três árbitros femininas, a Céu Luhaco, Marília e outra que não se lembra do nome, que era irmã do antigo árbitro internacional, José de Sousa.

O curso durou 15 dias, foi ministrado por Jorge Mário Fernandes, Manuel Maria e Zinga Carlos.

Tânia Duarte lembra que no final do curso recebeu  o diplomas, e foi destacada como uma das melhores formandas do grupo com 19 valores.

Aparição oficial

A sua aparição na arbitragem aconteceu em 2009, quando foi seleccionada para fazer parte, como assistente, do trio de árbitros que ajuizou um jogo da segunda divisão.

Os árbitros assistentes, esclareceu, eram tratados como quadros de acesso. A ascensão à categoria de assistente nacional ocorreu em 2010, dado ao empenho e dedicação que evidenciou ao longo da segundona nacional de futebol.

Tânia Duarte explicou, trabalhou durante dois anos como árbitra assistente. Em 2012, no fim da primeira volta do Girabola, ascendeu à categoria de assistência nacional e automaticamente passou a ser árbitra da 2ª Divisão Nacional de Futebol.

Foi, também, neste ano (2012) que recebeu o "famoso” crachá da categoria internacional. "Desde aquele ano fui trabalhando no campeonato Nacional da segunda divisão até 2015, e neste ano, com muita alegria, ascendi à categoria de árbitro principal do Girabola”, lembrou com um sorriso.

Com a elevação, explicou, aumentou a responsabilidade no mundo da arbitragem. Reconheceu que ajuizar jogos no Girabola, no princípio, foi difícil. Tudo é preciso tempo.

A sua primeira aparição no Girabola, lembrou, aconteceu em 2015, quando ajuizou a partida entre as equipas do Recreativo da Caála e Académica do Lobito, com o resultado de 1-0 para os donos de casa.

O primeiro cartão vermelho, recorda, deu a um jogador da Caála. "O jogador foi admoestado por duas vezes a cartolina amarela, uma por discordar de uma decisão, e outra por jogo violento”.

Explicou que exibiu outros cartões, mas foi o cartão vermelho dado fez-lhe sentir um pouco culpada. "Depois de admoestar o segundo cartão amarelo, a faltar 20 minutos, ao ver o jogador expulso, senti-me mal, porém, não tinha como, porque é a regra do jogo”, disse com alguma nostalgia.

O jogo mais difícil por si abitado, Tânia Duarte disse ter sido a partida entre o Petro de Luanda – Santa Rita do Uíge. Justificou que, o Petro de Luanda é conhecido como "equipa grande”, a defrontar um conjunto pequeno, o que tornou difícil o desafio.

Durante a sua carreira, disse, nunca apitou o clássico dos classifico, mas, espera fazê-lo, caso seja indicada.

Na arena internacional

Como árbitra internacional, Tânia Duarte, a sua estreia aconteceu em Portugal no Torneio da CPLP, onde dirigiu o jogo que colocou frente-a-frente o Brasil e Moçambique, referente a classificação para o terceiro.

Tânia Duarte já participou em cinco edições da Confederação das Associações de Futebol da África Austral (COSAFA). A primeira prova aconteceu no Zimbabwe, em 2017. A ambição de Tânia Duarte é ajuizar num Campeonato Africano das Nações (CAN) e no Mundial, quer feminino, quer masculino. Apitou, por diversas ocasiões, na Taça COSAFA, que decorreu na África do Sul. Em 2023 foi convidada a participar na primeira Liga Feminina de África em Futebol Feminino, além de outras internacionalizações cuja conta já foge da sua memória.

Natural do Lubango, província da Huíla e mãe de um filho, é adepta do Real Madrid e do Futebol Clube do Porto de Portugal. Em Angola, disse que apoia apenas a Selecção Nacional. Possui o 3ºAno do curso de Direito e, actualmente frequenta o 1ºAno do Curso Superior de Gestão Desportiva.

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