Política

África conta com a nova parceria dos EUA para financiamento do seu desenvolvimento

César Esteves | Dallas

Jornalista

O Presidente da República, João Lourenço, afirmou, ontem, em Dallas, Texas, que o continente africano conta muito com esta nova parceria com os Estados Unidos da América (EUA) para o financiamento e construção das infra-estruturas necessárias para o seu desenvolvimento.

08/05/2024  Última atualização 10H20
Chefe de Estado realçou que o continente africano pode aumentar a sua capacidade de produção de energia hidroeléctrica © Fotografia por: Angop

Ao discursar na cerimónia de abertura da 16ª Cimeira Empresarial EUA-África, na qualidade de primeiro vice-presidente da Assembleia de Chefes de Estado e de Governo da União Africana, o Presidente João Lourenço referiu que, neste momento em que muito se fala da necessidade da gradual transição energética para salvar o planeta Terra do efeito de estufa e suas já muito visíveis consequências, o investimento  directo privado  americano é bem-vindo na exploração e transformação, de preferência local, dos minerais críticos abundantes em África para a produção das baterias para os carros eléctricos, dos painéis solares, dos semicondutores e chips nesta era do crescimento exponencial da Inteligência Artificial.

"O continente africano conta convosco para aumentar a sua capacidade de produção de energia hidroeléctrica a partir dos seus abundantes recursos hídricos, a construção de parques fotovoltaicos de produção de energia solar num continente com a abundância do sol que se desperdiça”, destacou.

As infra-estruturas de comunicação e informação através de satélite, cabos submarinos, redes de fibra óptica e torres repetidoras para telefonia móvel e expansão do sinal de Internet são de importância vital para o mais rápido desenvolvimento de África, acrescentou.

O estadista angolano ressaltou que os Estados Unidos da América e África, conscientes do potencial de que dispõem, têm estado a intensificar o diálogo ao nível institucional, no intuito de reforçarem relações de cooperação bilateral e multilateral, num contexto em que os Estados Unidos da América, com o seu desenvolvimento industrial e capacidade de inovação tecnológica, e a África, com a vasta riqueza em recursos naturais, população jovem e um mercado em expansão, se posicionam como parceiros incontornáveis para, juntos, enfrentarem os grandes desafios da segurança alimentar, da segurança energética, da defesa do ambiente, do comércio internacional e da economia global.

"O investimento privado é importante para a economia dos nossos países, que precisam de aumentar e diversificar a produção de bens de consumo e serviços, transformar as matérias-primas e diversificar os produtos de exportação”, destacou o Presidente João Lourenço, reconhecendo, por outro lado, a importância do investimento público e das parcerias público-privadas em infra-estruturas para o salto que o continente pretende dar "e que já chega com atraso em comparação com outras regiões do nosso planeta”.

João Lourenço salientou que a integração económica das comunidades económicas regionais e de África, no seu todo, implica haver maior mobilidade, conectividade, maior facilidade de circulação e partilha de algumas infra-estruturas fundamentais entre os países africanos, a fim de se ligar, facilmente, aos países do Norte do continente, do Magreb ao Sul da África Austral ou os países da costa ocidental africana banhada pelo Oceano Atlântico aos países da costa oriental africana, banhados pelo Oceano Índico.

Entretanto, disse que isto só será uma realidade quando se investir, fortemente, na construção de vias rodoviárias, estradas e auto-estradas transnacionais, construção de mais caminhos de ferro, de mais portos e aeroportos, de mais barragens hidroeléctricas e respectivas linhas de transmissão, mais quilómetros de cabos submarinos e de fibra óptica, olhando já para a efectiva implementação do Acordo de Livre Comércio Continental.

Para o sucesso destes desideratos, o Chefe de Estado indicou que as lideranças africanas vêm-se esforçando no sentido de alcançar o objectivo de silenciar as armas no continente, combater o terrorismo e as mudanças inconstitucionais de poder, para promover a democracia e criar um bom ambiente de negócios para atrair, cada vez mais, o investimento privado e, com isso, criar riqueza e emprego para as suas populações

Ambiente de negócios em Angola desperta interesse de investidores

O ambiente de negócios reinante, neste momento, em Angola está a despertar o interesse de vários empresários participantes na 16ª Cimeira Empresarial Estados Unidos-África, aberto, oficialmente, ontem, aqui em Dallas, Texas.

Este facto ficou evidenciado pelo elevado número de empresários que foram ter com o Presidente João Lourenço, segunda-feira, no hotel em que se encontra hospedado, para manifestar o interesse em investir no país.

Entre os vários empresários, está o multimilionário sul-africano Elon Musk, proprietário de várias empresas bem-sucedidas mundialmente, entre as quais a SpaceX, de serviços de voos espaciais, e a Tesla, fabricante de veículos eléctricos. Musk, cujo património líquido foi estimado pela Forbes, em Abril deste ano, em 178 biliões de dólares, enviou a sua directora para África da Space X, Lauren Drayer, para manifestar junto do estadista angolano o desejo de investir em Angola.

No rol das entidades recebidas, em audiência, pelo Presidente da República, esteve, igualmente, o presidente da Câmara de Comércio do Texas, Posso Ganame, que se fez acompanhar de executivos representando empresas como a Meta, do também multimilionário Mark Zuckerberg, o fundador da rede social Facebook, a Shell, Subtle Capital, Wyre, Aperio Insights e Infodat.

O Chefe de Estado, que reservou praticamente este dia para manter contactos com estes empresários, recebeu, ainda, o presidente da Chevron International Exploration and Production, Clay Neff, cuja empresa está presente no país há mais de meio século, através da sua subsidiária Cabinda Gulf Oil Company (CABGOC), e o presidente da Amer-Com Corporation, Carlos Rapaport.

África pode desempenhar papel crucial para a superação da crise energética

O Presidente João Lourenço disse que o mundo deve contar e olhar, em primeiro lugar, para o continente africano, dada a abundância de terras aráveis, recursos hídricos, solos e mão-de-obra jovem, que fácil e rapidamente pode dominar o manejo da maquinaria agrícola moderna e absorver os conhecimentos das mais modernas técnicas de cultivo.

Por essa razão, referiu que África precisa do investimento privado e do conhecimento americano para fazer do continente um grande produtor e exportador de bens alimentares de qualidade para o mundo.

"O continente africano pode jogar um papel crucial na superação quer da crise energética, quer da crise alimentar que o mundo enfrenta, por isso, entendemos que um olhar diferente dos Estados Unidos da América para a África pode ser a chave destes dois problemas que afligem a economia mundial”, aclarou.

O estadista angolano apelou aos investidores americanos a serem pragmáticos e não desperdiçarem a oportunidade de investir em África para benefício recíproco.

Sublinhou que os investidores americanos têm toda a liberdade para investir em todos os domínios da economia africana, ali onde os estudos de viabilidade lhes garantirem retorno e lucros do investimento na indústria, no agronegócio, nas pescas, nos recursos minerais, petróleo e gás, nas rochas ornamentais, na área imobiliária, na hotelaria e turismo, nas telecomunicações e em outros sectores.

Sobre este particular, o Chefe de Estado salientou que o investimento privado ou em parcerias público-privadas na construção e gestão de unidades hospitalares de referência, na produção local de medicamentos e de vacinas será muito bem-vindo e acarinhado pelos governos africanos no geral. Informou que as universidades e centros de investigação científica do continente também têm todo o interesse em estreitar contactos e trabalhar com as mais conceituadas universidades e centros de investigação americanos.

 Um importante vector da relação de África com os Estados Unidos da América, prosseguiu, é o comércio, no âmbito do qual se têm processado operações com vantagens recíprocas para os Estados Unidos da América e para a África, que consegue, por esta via, assegurar receitas consideráveis para a concretização do projecto de desenvolvimento sócio-económico.

"Temos seguido, com atenção e interesse, o processo de renovação do AGOA, por se tratar de um mecanismo importante para o enquadramento das trocas comerciais que pretendemos que sejam cada vez mais inclusivas e flexíveis, para que se possa tirar destes benefícios recíprocos tangíveis”, indicou.

Dívida pública

O Presidente da República aproveitou a ocasião para destacar a grande preocupação comum aos países africanos, que se prende com o desafio da dívida pública que têm enfrentado e que condiciona, seriamente, a execução dos programas de desenvolvimento.

Para este caso, o Chefe de Estado disse que esta matéria deve merecer a atenção das instituições de crédito, de modo que seja estabelecido algum equilíbrio entre as obrigações perante o credor e os imperativos de execução dos programas de desenvolvimento dos países africanos.

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