Em quase toda parte da cidade de Luanda, bem como em outras cidades de Angola, é comum ver mototáxis circulando. Em busca de melhores condições de vida, Augusto Kalunga viu-se obrigado a se tornar um mototaxista, superando o preconceito de familiares e amigos para garantir o sustento da sua família e cobrir outras necessidades.
O presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), Dom José Manuel Imbamba, reconheceu, sábado, no município de Caungula, província da Lunda-Norte, que ao longo dos 22 anos de paz e reconciliação nacional, o país conseguiu alavancar muita coisa, mediante à criação de boas infra-estruturas, tendo apontado a ausência da construção da mentalidade humana como o “elo mais fraco“ nesta importante caminhada para a construção integral da vida dos angolanos.
Não se lembra da mãe, perdeu o pai quando tinha 16 anos e, com três irmãos menores, foram acolhidos pela tia Maria, irmã da mãe, nas Ingombotas, em Luanda.
Esta grande coincidência fez dela uma verdadeira mulher castrense, disputando posições de igual para igual com os homens. Ao longo desse tempo todo e não obstante as dificuldades, manteve sempre vivo o sonho de ser mulher polícia, até chegar à segunda Comandante da Polícia Nacional na província do Bengo.
O Jornal de Angola no Bengo seguiu Helena de Almeida até ao bairro Cassenda, em Luanda, onde se encontrava de malas feitas, pronta para embarcar para o exterior do país. Gentilmente, fomos recebidos em casa de um parente e foi lá que partilhou as suas histórias e vivências desde a infância.
Helena é a primeira filha de Caetano de Sousa Vaz de Almeida, ex-militar colonial, e de Maria da Conceição António Vaz de Almeida, doméstica. Sua vivência está dividida entre o Rangel, na Terra Nova, e o bairro da Ingombota, em Luanda. Como ela própria diz, teve uma infância dramática ao perder os pais muito cedo e encontrar trabalho num restaurante na Baixa de Luanda, precisamente na Mutamba, como ajudante de cozinha, para poder sustentar os seus irmãos menores, com ajuda da tia.
A tia não se conformava que uma menina de 16 anos trabalhasse, por isso apanhava muita surra, mas Helena continuou até que um dia lhe apareceu a oportunidade de fazer a recruta para a Polícia, conciliando os treinos com os estudos. Nos primeiros momentos, fazia os treinos de forma secreta, mas sempre aparecia suja, o que a denunciava, até que descobriram. Depois de seis meses, foi aprovada e começou a fazer parte dos quadros da corporação, no entanto, sem abandonar os estudos.
Enquanto isso, dedicou-se aos estudos, concluindo o ensino de base, sempre encorajada pela tia Maria Bernardo, que passou a ser uma mãe para ela e para os irmãos menores. "Não me deixavam trabalhar, tinha apenas 16 anos, apanhei muita surra da minha tia, mas sempre fui dedicada ao trabalho. Até onde cheguei não foi fácil para mim”, partilhou.
As vicissitudes da vida fizeram com que Helena amadurecesse muito mais cedo em relação à sua idade. Ela se inspirou nas fotografias do pai, Caetano de Almeida, que foi um ex-militar da guarda colonial. Como diz o ditado popular, filho de peixe, peixinho será.
"Eu via as fotos do meu pai e dizia que um dia seria polícia, mas o meu sonho era mesmo ser detective, trabalhar na Polícia de Investigação Criminal. No entanto, acabei por ingressar na Polícia de Intervenção Rápida (PIR)”, acrescentou.
A vida acadêmica foi ficando de lado, devido às dificuldades, e somente regressou depois de dez anos. Em 2005, concluiu o Ensino Básico e imediatamente ingressou no ensino médio, no Instituto da Polícia Osvaldo Serra Van-Dúnem, e concluiu o Ensino Superior no curso de Relações Internacionais na Universidade Óscar Ribas, em Luanda.
Helena de Sousa Vaz de Almeida ingressou na Polícia Nacional numa fase em que as mulheres eram estigmatizadas pelos homens e conta que já viveu discriminação, mas teve que saber ultrapassar tudo isso.
"As
mulheres só não dominam o mundo porque não querem. Nós vivemos numa sociedade
ainda machista e naquela altura era ainda pior, pois a mulher polícia ou
militar era considerada bandida, eram criticadas. Por incrível que pareça, nós mulheres
conseguimos fazer muitas coisas. Já os homens, não. Precisam primeiro de estar
concentrados para concluírem uma tarefa”, rebateu.
As mulheres são capazes quanto os homens
Ela explica que ser mulher polícia é poder contribuir para a educação de uma nação, devido à componente educativa, mostrando que as mulheres são capazes de fazer o que os homens fazem.
"Sem prepotência nem arrogância, hoje sou uma mulher completa e sinto-me mais polícia do que mulher. Sou cristã e acredito no amor. Agradeço muito ao meu esposo pela força que me tem dado até os dias de hoje”, realçou.
A comandante explicou que teve um intervalo de dez anos no exercício de suas funções como agente da Polícia Nacional, devido às comissões de serviço em vários órgãos do Estado. Foi nomeada para o cargo de administradora adjunta do município de Viana para a área Política e Social. Após sete anos, foi nomeada secretária do então Vice-Presidente da República, Bornito de Sousa, onde ficou em funções apenas dez meses.
"Não era a minha praia”, disse com um sorriso.
Helena de Sousa Vaz de Almeida sente-se orgulhosa por ter começado a vida policial a partir da base, experiência que pretende partilhar com os jovens que estão na corporação e não só. Frisou que é importante não queimar etapas, pois existem inúmeras desvantagens quando um polícia não sabe os princípios básicos da corporação, acabando por cometer muitos erros.
"São várias experiências que quero partilhar com a juventude. Eu comecei da base, não queimei etapas. Aquele que pula as etapas não consegue valorizar a profissão, nem respeitar os que estão acima. O importante é começar na base, saber respeitar o subordinado e valorizar os superiores. É importante saber fazer o trabalho braçal, a guarda de armas, fazer ronda, para quando se tornar chefe, saber exigir. Devemos alcançar os objectivos cumprindo todas as etapas”, reforçou.
Ela leva o profissionalismo muito a sério, frequentou a Escola Superior de Guerra, onde foi a primeira mulher a tirar uma nota de 20 pontos naquela instituição. Conta que sempre soube lidar com os preconceitos masculinos. "Éramos insultadas de todas as formas e feitios”, diz.
Durante o percurso, fez também formações em Portugal e na Espanha, lembrando com alegria a formação feita com especialistas israelitas, que tratavam homens e mulheres da mesma forma durante a formação. "No meio de trinta e quatro homens, fui a única mulher e terminei a formação com apenas 15 pessoas, sendo a única mulher”, disse.
Helena tem uma boa relação e intimidade com a cozinha, tratando com familiaridade todos os tipos de gastronomia. Gosta de comer e cozinhar uma boa feijoada, diz que gosta de comer bem e que é necessário fazer as coisas com amor. "Para mim, cozinhar é uma terapia. Quando não estou a trabalhar, estou no quarto ou na cozinha. Gosto de todo o tipo de comida, mas a minha preferida é a feijoada. Eu amo a feijoada e não dispenso por nada”, concluiu.
Desta
conversa com Helena de Sousa Vaz de Almeida podemos concluir que ela é uma
mulher determinada, resiliente e inspiradora. Mesmo enfrentando dificuldades
desde a infância, ela nunca desistiu dos seus sonhos e persistiu em alcançar os
seus objectivos. Sua trajectória na Polícia Nacional de Angola, superando o
estigma e discriminação do género, demonstra sua força e dedicação à profissão.
Acompanhe, amanhã, a história de vida da poetisa Júlia Dolores Fernandes Lima, da província de Benguela.
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