Desporto

Banho de lágrimas no adeus a Amândio Adão Clemente

Juscelino da Silva

Jornalista

Em dia de manhã cinzenta, familiares, colegas e amigos deram ontem, no cemitério do Benfica, o último adeus ao jornalista reformado Amândio Clemente"Man Clemas", falecido na passada terça-feira numa das unidades hospitalar da capital, vítima de doença.

23/03/2024  Última atualização 12H05
Desolação visível nos semblantes dos que acompanharam o falecido à última morada © Fotografia por: EDUARDO PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO

A dor e consternação eram visíveis nos semblantes dos presentes , que acompanharam até a última morada o escriba veloz. Olhos lacrimejantes, uns, secos, outros, molhados, espelhavam a desolação que ia na alma,  principalmente os familiares e colegas que durante décadas partilharam a redacção do Jornal de Angola com "Man Clemas", como era carinhosamente tratado.

Mais de trezentas pessoas acompanharam de perto a descida ao túmulo, ao passo que as demais preferiram ficar na parte de fora do cemitério. A simplicidade das palavras  revelaram-se insuficientes para descrever o ambiente de desolação.

Amélia Clemente, filha do falecido, chorava de forma desesperada, tamanha foi a perda. Nem as primas conseguiam consolar a jovem. "As pessoas vão rir de mim. Já não tenho pai. Eu me gabava que meu pai é jornalista. Agora faço como. Eu não ficava dois dias sem ver o meu pai. Digo o quê aos seus netos”.

Depois dos elogios fúnebres dos familiares, em representação do Conselho de Administração da Edições Novembro e do Novo Jornal, Honorato Silva, director do Jornal do Desportos, deixou palavras de conforto quer para a família quer aos colegas e amigos presentes no campo santo.

A urna com o corpo desceu à terra sob uma ovação em forma de choro: "Ai Adão, ai meu pai, ai Man Ramos, ai Man Clemas, olha o meu colega”, ouviu-se na imensidão do cemitério.

António Félix, chefe da secretária de redacção, mostrou-se consternado com o desaparecimento físico do colega e amigo de longa data,

"É um momento de profunda dor. O Amândio Clemente foi uma pessoa de referência na arte que ele bem sabia fazer, o jornalismo desportivo. Foi um profissional de alta tarimba, dedicação e camaradagem. A sua perda acaba por ser uma baixa enorme para o jornalismo angolano”.

O antigo editor de futebol do Jornal dos Desportos lembrou o momento em que recebeu o homem de trato fácil na Edições Novembro.

"Fui eu que o recebi no Jornal de Angola. Muito rapidamente, Amândio interiorizou a profissão e por si mesmo caminhou com muita competência. Man Clemas não era só um colega. Era um familiar. Eu conheço a família dele e o falecido conheceu a minha”.

Isabel Silva, repórter do Novo Jornal, título em que Amândio Clemente trabalhou após a reforma, exteriorizou a dor e consternação.

"Amândio Clemente foi o meu professor no Novo Jornal. Aprendi muito. Infelizmente convivemos por pouco tempo, mas acredito que nestes seis meses absorvi o melhor e vou levar para toda vida. Editor simples. Sabia ensinar com muita calma e paciência. Sempre preocupado com o bem-estar dos repórteres. Com certeza deixa um grande vazio na Comunicação Social. A nossa redacção sente a falta dele”.

 António Cristóvão, jornalista da Edições Novembro, falou de Amândio Clemente de forma nostálgica,

"Falar do Amândio dispensa comentários, pois foi o meu instrutor no jornalismo. Recebeu-me no desporto, aprimorou e moldou, de modo a ser o repórter que sou. Corrigiu a minha primeira notícia em 1995. Tínhamos uma relação muito forte e, quando tivesse um comportamento negativo, corrigia-me logo de primeira. Não sei se vamos ter outro chefe íntegro, disciplinador e pedagogo. Aquele que te chama faz a correcção e tudo fica ultrapassado. Era um instrutor de facto. Será muito difícil encontrar outra pessoa com o mesmo carácter”.

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