Desporto

Boas-vindas à paz com ouro em Marrocos

Silva Cacuti

Jornalista

A poeira alaranjada, com cheiro forte à pólvora dos longos anos de guerra, ainda não tinha assentado, quando, menos de 30 dias, depois das tréguas, a 28 de Abril, o andebol sénior feminino erguia o troféu do 15º Campeonato Africano das Nações, em Marrocos. Na final, vitória, por 30-21, sobre a Côte d´Ivoire.

04/04/2024  Última atualização 11H10
Pérolas dominam troféus em África há dez anos consecutivos © Fotografia por: DR

Era o sexto título da equipa nacional e a primeira conquista na nova era do país, a da Paz, ainda acabada de conquistar.

Pela primeira vez, a celebração estendeu-se por todo o país, pois podia ser feita em todas as vilas e aldeias. Os amantes do desporto manifestaram a alegria de modo livre, sem mais necessidade de o fazer às escondidas, em surdina. Eram as boas vindas à paz. Foi só a primeira conquista. De lá para cá, as pérolas acumularam outros nove títulos africanos. Ou seja, das 15 taças ostentadas, 10 foram conseguidas em ambiente de paz.

O andebol estava insaciável no ano da paz. Perto do final, em Dezembro, na cidade gabonesa de Libreville, o Petro de Luanda e a Enana, com Palmira Barbosa em campo, a cumprir a última época desportiva da carreira, jogaram a final da Taça dos Clubes Campeões. O Petro venceu, por 32-30 e as equipas trouxeram para o país o ouro e a prata da competição de clubes.

No sector masculino, o ano de 2002, também foi um marco importante. O Sporting Clube de Luanda, também em Libreville, disputou a final da Taça dos Campeões, perdeu diante do Zamalek, mas trouxe a primeira medalha de prata de um clube masculino para o país.

Neste mesmo ano, os Guerreiros experimentavam o regresso à prova africana, depois de ausências e intermitência.

Foi precisamente em 2002 que retornaram com regularidade aos campeonatos africanos. Angola conseguiu o sexto lugar. Em 2004, alcançou o terceiro lugar, primeiro pódio e a primeira qualificação para um Mundial, o de 2005, disputado na Tunísia. Angola voltou a ganhar bronze continental nas edições de 2016 e de 2018. Essas medalhas apuraram o país para os Mundiais de 2017 e 2019.

No "Africano” de 2020, os Guerreiros acabaram em quarto lugar, suficiente para se apurarem para o Mundial do Cairo, Egipto.

Registo histórico

Desde que Angola alcançou a Paz, em 2002, já assinalou 11 presenças em Campeonatos do Mundo de andebol sénior feminino. Foi dentro deste período, na terceira vez, em 2007, em França, que conseguiu a melhor prestação alguma vez testemunhada por uma equipa africana: o sétimo lugar.

Angola mostrou uma dança diferente, uma nova forma de celebração. Odeth Tavares, Teresa Joaquim, Ilda Bengue, Filomena Trindade, Bombo Calandula, Carolina Morais, Nair de Almeida, Rosa Amaral, Isabel Fernandes "Belezura”, Marcelina Kiala, Maria Pedro, Luísa Kiala, Natália Bernardo, Elizabeth Cailo, Cristina Branco e Cilizia Tavares, os técnicos Jerónimo Neto (em memória) e Albertino Oliveira têm impressões digitais no feito.

As pérolas andaram no primeiro grupo do ranking mundial, nas duas edições seguintes, quando obtiveram o 11º lugar, em 2009, orientadas pelo português Paulo Pereira e o 8.º, em 2011, no Brasil, sob a batuta de Vivaldo Eduardo.

Depois disso, a equipa experimentou uma fase de queda livre. As pérolas tiveram dois 16.º lugares, um 19.º e 15.º lugar, quando a prova teve o formato de 24 equipas.

Em 2021, a Federação Internacional de Andebol (IHF) alterou o formato da competição e começou a ser disputada por 32 equipas. Angola, orientada por Filipe Cruz, saltou para a 25.ª posição.

No ano passado, já sob comando técnico de Vivaldo Eduardo, o "sete nacional" galgou 10 lugares e terminou na 15.ª posição.

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