Cultura

Cuanza-Sul: “Café Teatro” debate o estado das artes cénicas na província

O teatro na província do Cuanza-Sul clama por investimentos, desde a criação de espaços para exibição daspeças e a formação permanente dos actores, de acordo com o presidente da Associação Provincial de Teatro do Cuanza-Sul (APROTCS).

26/03/2024  Última atualização 10H14
Participantes pretendem mais apoios para dinamizar o teatro e outras manifestações artísticas © Fotografia por: Adilson de Carvalho | Edições Novembro | Sumbe

Em declarações, ontem, ao Jornal de Angola, no âmbito da celebração ao 27 de Março, Dia Mundial do Teatro, que se assinala na quarta-feira, Noé Arão explicou, que a associação tem em carteira a criação de um Complexo Artístico, que inclui salas com vista à realização das oficinas, bem como a formação dos fazedores de teatro a nível local.

Como associação, referiu, existe um plano que contempla um conjunto de acções para a dinamização das artes cénicas. Porém, segundo Noé Arão estão em contactos com vários empresários em parceria com o Governo local, no sentido de se encontrar as melhores estratégicas para o fomento do teatro na província.

Contudo, o responsável da APROTCS reconheceu que o teatro exibido na província tem qualidade, pelos resultados positivos apresentados pelos grupos locais que participam nos festivais nacionais e internacionais. "Temos de reconhecer que o teatro feito no Cuanza-Sul nos orgulha, embora encontremos ainda alguns aspectos por se melhorar ”, frisou.

Noé Arão sublinhou que a falta de espaços para a exibição das artes cénicas, sobretudo o teatro, obriga a que os grupos de teatro improvisem os palcos. Em alguns casos, continuou, utilizam salas de aula adaptadas em palcos para a exibição de espectáculos. Esses factores, disse, condicionam a qualidade do produto final. "Existem vários tipos de palcos para o teatro, mas, infelizmente, utilizamos constantemente os mesmos palcos adaptados.”

O também encenador considera que outras dificuldades estão relacionadas com as condições que se deveria criar no sentido de proporcionar um melhor ambiente de trabalho para a realização de boas performances dos grupos de teatro. "Os grupo são verdadeiros heróis porque trabalham em condições difíceis. Temos salas que não reúnem os requisitos necessários com as dimensões reduzidas, pouca luz e cor, além da falta de acessórios que complementam o exercício da actividade teatral.”

O teatro, frisou, deve ser exibido em palcos com dimensões específicas e com as luzes que facilitem o trabalho dos técnicos e dos próprios actores. Fez um apelo ao Governo local de maneira a criar condições para ajudar a promover a dinamizar o teatro na província, com a criação de salas convencionais modernas. "Precisamos de salas devidamente equipadas com cortinas ou bambolinas, respeitando uma certa distância entre o palco e o público”.

Noé Arão sublinhou que as debilidades apresentadas no teatro desenvolvido localmente, são muitas, o que pode vir a ser pior no futuro, caso não se faça nada para se alterar o quadro. Ao inverter o cenário, Noé Arão defende a necessidade de haver investimentos para potenciar os fazedores de teatro, sobretudo na formação dos actores.

 
Falta de quotização

Sobre o pagamento das quotas, Noé Arão sublinhou que a sobrevivência de qualquer associação depende das contribuições dos associados. Porém, defende que os grupos teatrais devam ter estruturas com a capacidade de produzir rendimentos. "A falta de quotização pelos grupos é um problema que deriva também da falta de trabalho dos mesmos e de outras actividades geradoras de rendimentos”.

As poucas exibições de peças de teatro durante todo o ano artístico, adiantou, tem um impacto negativo e contribui para o desaparecimento de muitos grupos. "Para se inverter o quadro tem de existir actividades regulares que habilitem aos grupos obterem rendimentos que os permitam cumprir com suas obrigações, enquanto associados”, sublinhou o responsável.

Segundo Noé Arão, a província dos Cuanza-Sul conta com 37 grupos teatrais, sendo os municípios do Sumbe e Amboim os com mais grupos de teatro.


Companhia Inéditos interage com actores e encenadores

No quadro da jornada alusiva ao Dia Mundial do Teatro, a Companhia Inéditos Teatro realizou no auditório do Liceu do Sumbe, o programa cultural "Café Teatro”, evento destinado aos encenadores e actores dos grupos teatrais.

Durante o encontro, foram discutidos vários pontos sobre o estado actual das artes cénicas na província. O tema escolhido para o "Café Teatro” incidiu sobre a vida do actor, os limites dos palcos e o papel do actor fora dos palcos.

O prelector Jorge Maurício, na dissertação explicou que o actor deve ter uma postura exemplar dentro e fora dos palcos, por ser um figura que tem como objectivo transmitir valores positivos à sociedade.  "Espera-se sempre muito do fazedor de teatro, porque o actor deve ser alguém com instrução para ter uma visão ampla sobre diversos assuntos da sociedade”.

Jorge Maurício acrescentou que o actor representa todas as camadas da sociedade nas suas diversas personagens enquanto actor que procura transmitir alguma mensagem à sociedade.

Por seu turno, Florinda Correia, que também dissertou sobre o mesmo tema, sublinhou a importância das actrizes na preservação da dignidade, por observar a mulher como uma educadora social, de quem se espera uma postura de respeito. "Além dos limites do palco, a mulher actriz vive os mesmos problemas sociais como qualquer outra. Além de sermos actrizes, somos também mães, esposas, estudantes e filhas, por isso, é preciso termos comportamentos dignos diante da sociedade”, alertou. 

O responsável da Companhia Inéditos Teatro, Araújo Quipeca realçou que o objectivo do evento foi o de reunir todos os fazedores das artes cénicas para uma reflexão sobre o estado actual do teatro na província. "O teatro é uma arte que se faz em qualquer sala, desde que seja adaptada à exibição da peça teatral, por isso, a falta de salas não pode servir como factor a não exibição das peças”, incentivou.

O responsável avançou que a companhia prevê realizar, no presente ano artístico, actividade sobre o teatro nos municípios do Seles, Quibala, Amboim e Mussende. Antevê, igualmente, a participação da  Companhia Inéditos Teatro em festivais nas províncias de Luanda, Benguela, Huíla e Cuando-Cubango.

Araújo Quipeca apelou aos pais e encarregados de educação, no sentido de permitirem os filhos e educandos a fazerem parte de grupos teatrais, por locais de transmissão de conhecimentos e ajuda na elevação do intelecto do indivíduo.

O responsável do Grupo Teatral "Chite Arte Teatro” do município do Sumbe, Jackosn Chiteculo referiu que o estado actual do teatro está marcado pela letargia, devido à falta de exibição de peças. "Existe grupos com qualidade artística e técnica, mas a maioria precisa de formação.” Jackosn Chiteculo defende mais investimentos e iniciativas dos grupos com apoio de empresários para suportar os grupos.

Casimiro José e Adilson de Carvalho | Sumbe

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