Cultura

"Letras sobre as Línguas de Angola": Livro analisa o papel da língua como factor de desenvolvimento

Gil Vieira

Jornalista

A Academia Angolana de Letras (AAL) procedeu, sábado, no Memorial Dr. António Agostinho Neto, em Luanda, ao lançamento do livro "Letras sobre as Línguas de Angola", que reflecte sobre a questão da língua como factor de desenvolvimento do país.

22/04/2024  Última atualização 08H24
© Fotografia por: DR

A obra, dividida em 12 capítulos, reúne ensaios de eminentes académicos, com destaque para o antigo Vice-Presidente da República, Bornito de Sousa, e o ministro da Cultura, Filipe Zau.

O livro, que foi o primeiro editado pela AAL, reúne, igualmente, escritos da  heroína Deolinda Rodrigues e da linguista Amélia Mingas, ambas falecidas, bem como dos linguistas Mbiavanga Fernando e Márcio Undolo, do docente Virgílio Coelho, dos escritores Aníbal Simões, António Quino e Manuel Muanza e do presidente da AAL, Paulo de Carvalho.

Segundo o linguista Mbiavanga Fernando, ao fazer a apresentação do livro, os autores fizeram uma profunda reflexão acerca da língua, sobretudo como factor de desenvolvimento da nação.

Mbiavanga Fernando disse tratar-se, do ponto de vista estrutural, de uma obra inédita no país, por falar da língua portuguesa e das diversas línguas nacionais de forma unificada.

"Toda a discussão feita visa olhar tanto para a língua portuguesa quanto para as nacionais, quanto meios de unir a nação. A valorização das línguas traz o sentimento de inclusão da população e ajuda no desenvolvimento do país nos variados sectores", destacou.

De acordo com o linguista, a obra conta com 12 capítulos, dentre os quais "Línguas de Angola: questionamentos, desafios e perspectivas", elaborado por Bornito de Sousa.

"Bornito de Sousa fala da questão da Constituição da República de Angola (CRA) consagrar apenas a Língua Portuguesa como a oficial do país, quando existem várias outras”, detalhou. 

Segundo ainda Mbiavanga Fernando, Bornito de Sousa apresenta algumas propostas, de forma a avançar para um multilinguismo formal, ou seja, para que se adopte, pelo menos, duas ou três línguas como oficiais no país.

O linguista explicou que Bornito de Sousa afirma que se precisa desenvolver as línguas nacionais em simultâneo com a portuguesa, bem como se investir no ensino da língua inglesa.

 O autor disse, também, que um outro texto apresentado no livro, é o do professor Paulo de Carvalho, intitulado "Língua enquanto Fonte de Poder, Preconceito e Segregação", onde afirma que a planificação linguística precisa de levar em conta a diversidade de línguas existentes no país. "Caso contrário pode provocar o sentimento de exclusão entre a população, o que já é uma realidade em Angola".

O escritor António Quino, na sua abordagem, explicou que Mbiavanga Fernando traz um texto semelhante ao de Paulo de Carvalho. António Quino, no capítulo "Pertinência de uma Política Linguística à Dimensão de Angola", apela à elaboração de políticas linguísticas que se ajustem à realidade do país.

"Se somos um país multicultural, precisamos incluir mais línguas como oficiais", defende António Quino no livro.


13 anos à espera  de patrocínio

A obra traz, também, um poema inédito de Deolinda Rodrigues, bem como os textos "Línguas Faladas em Angola ", de Paulo de Carvalho, "Cooperação entre a Língua Portuguesa e as Línguas Nacionais", de Filipe Zau, "Angola: Línguas Nacionais e Identidade Cultural", de Amélia Mingas, "A Problemática das Línguas Nacionais em Angola", de Virgílio Coelho. Inclui, ainda, "A Língua Nacional Umbundu na Contemporaneidade: Evolução Histórica e Características lexicais e Morfossintácticas”, de Aníbal Simões, "As Construções Ditransitivas no Kikongo”, de Mbiavanga Fernando, "Transdução Linguística em Chico Nhó de Jacinto de Lemos”, de Manuel Muanza, e "Norma Culta do Português de Angola”, de Márcio Undolo.     

O presidente da Academia Angolana de Letras (AAL), Paulo de Carvalho, mostrou-se satisfeito com a concretização do lançamento da obra "Letras sobre as Línguas de Angola", por ser um momento que a AAL almejava desde a fundação.

"A publicação deste livro, que está pronto há quase 13 anos, teve de aguardar por recursos financeiros para vir a público. Demorou, mas chegou, e finalmente conseguimos apresentar a primeira obra editada pela Academia", disse.

Segundo Paulo de Carvalho, a publicação do livro foi possível com o apoio da Fundação Bornito de Sousa. O responsável agradeceu a Bornito de Sousa, bem como aos autores que se disponibilizaram em participar na sua elaboração. 

Por outro lado, o ministro da Cultura, Filipe Zau, disse ter sido um prazer participar, nas vestes de ministro da Cultura, do lançamento de uma obra que pode ajudar na valorização das línguas em Angola.

Em declarações à imprensa, Filipe Zau felicitou a relevante iniciativa da academia, ao considerar o acto como um contributo significativo para um melhor entendimento do contexto sociolinguístico, bem como para o posterior estabelecimento de uma política linguística a ser impulsionada no país.

Já Jofre Rocha, pseudónimo literário de Roberto de Almeida, a agradeceu à AAL por ter aceite publicar o poema da heroína nacional Deolinda Rodrigues, que estava consigo desde 1974. O irmão da heroína explicou que o texto está em kimbundu e que, apesar de ser antigo, não alterou em nenhum aspecto a linguagem utilizada pela autora.

Em mais de 200 páginas, a obra traz, também, a Declaração da Academia Angolana de Letras sobre o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990.

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