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Europa deve consolidar as relações com a China

O Presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu, segunda-feira, no Palácio do Eliseu, na recepção ao homólogo chinês, Xi Jinping, a consolidação dos laços com a China, “porque o futuro da Europa depende do desenvolvimento de relações equilibradas com Pequim”, face aos últimos acontecimentos que esfriaram a cooperação entre ambas as partes.

07/05/2024  Última atualização 09H45
Líder chinês pediu ao Presidente Macron melhor coordenação entre os países europeus © Fotografia por: DR
"O futuro do nosso continente dependerá muito claramente da nossa capacidade de continuar a desenvolver relações com a China de uma forma equilibrada”, disse Macron no Palácio do Eliseu, no início de uma reunião com a presença da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, segundo o site Diplomacia Business, citado na imprensa ocidental.

 As declarações de Macron tiveram em conta o posicionamento da União Europeia sobre as "grandes crises”, nomeadamente na Ucrânia e no Oriente Médio. Em relação a isso, o Presidente chinês, que cumpre uma visita de Estado à França, por ocasião dos 60 anos das relações diplomáticas entre Pequim e Paris, propôs que seu país e a União Europeia reforcem a coordenação estratégica, visando o desenvolvimento de parceiras vantajosas.

No seu primeiro encontro com Macron desde que chegou à França, na tarde de domingo, Xi Jinping manifestou disponibilidade em discutir assunto de interesse comum, tendo em conta que a China é uma grande potência mundial, um ator-chave na política internacional e um parceiro que interessa a França e a Europa. 

A imprensa francesa refere que Emmanuel Macron pretende promover os interesses da França, assim como da Europa. Neste sentido, aborda com homólogo chinês questões económicas e comerciais: a ambição é melhorar o acesso das empresas francesas ao mercado chinês e construir relações económicas baseadas na "reciprocidade”, indicou o Presidente Macron, na semana passada.

Xi Jinping desembarcou em Paris no domingo e foi recebido pelo primeiro-ministro francês, Gabriel Attal. Durante o encontro no Palácio do Eliseu, onde teve lugar uma cerimónia de passagem das tropas em revista nos Inválidos, foram realizadas reuniões económicas no teatro Marigny e um grande jantar de Estado, no Palácio Presidencial, onde os dois líderes brindaram à relação bilateral.

"Macron e Xi Jinping se conhecem bem. O Chefe de Estado francês já visitou a China diversas vezes e o Presidente chinês realiza a sua segunda visita de Estado à França, desde 2017”, realça a imprensa ocidental.

O líder francês organizou uma deslocação ao Col du Tourmalet, nos Altos Pireneus, região de origem da sua avó e onde passa as férias. Em 2023, durante a última viagem de Macron à China, Xi Jinping deu-lhe "a honra” de recebê-lo num "lugar muito pessoal”, em Cantão. Agora, a retribuição do líder francês dá um tom mais intimista a esta visita formal e de elevado interesse diplomático.

 
Conflitos mundiais

Um dos desafios da visita, que termina hoje, é tratar com Xi Jinping de grandes crises internacionais, especialmente sobre a Ucrânia. A China é uma das principais parceiras da Rússia. Emmanuel Macron espera, segundo o Palácio do Eliseu, encorajar Xi Jinping a "usar a sua influência sobre Moscovo para mudar os planos de Vladimir Putin e contribuir para a resolução do conflito”.

 Em Abril de 2023, Xi Jinping concordou em telefonar para o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, para ouvir a sua visão sobre o conflito com a Rússia, após uma visita de Macron à China. Uma das questões delicadas é a actuação directa de empresas chinesas no poderio militar russo.

A posição de Emmanuel Macron em relação a Moscovo endureceu consideravelmente nos últimos meses. O Chefe de Estado afirmou, numa entrevista à The Economist, que a Rússia não deveria vencer a guerra e representava um perigo para a segurança europeia.  Segundo o Presidente francês, "não é do interesse da China ter uma Rússia que desestabilize a ordem internacional. Devemos, portanto, trabalhar juntos para construir a paz”.


 Avanço tecnológico chinês altera geopolítica mundial

Um estudo divulgado, ontem, concluiu que os avanços tecnológicos da China estão a remodelar a geopolítica mundial, apesar dos esforços dos Estados Unidos para contrariar a influência crescente de Pequim.

"O poder crescente da China e a expansão das tecnologias emergentes, incluindo na inteligência artificial, redes 5G e computação quântica, são fundamentais para impulsionar mudanças na geopolítica mundial”, disse Maria Papageorgiou, uma das autoras do estudo e professora na Universidade de Exeter, no Reino Unido, num comunicado emitido pela instituição.

A análise, publicada na revista Chinese Political Science Review, baseia-se na teoria do "equilíbrio das ameaças”, segundo a qual os Estados consideram os níveis de ameaça externa juntamente com o seu poder interno quando tomam decisões, cita a imprensa ocidental. "Confrontados com uma ameaça, os Estados, num sistema internacional anárquico, podem equilibrar a ameaça ou alinhar com a fonte da ameaça”, explicou. Os analistas afirmaram que uma "coligação de equilíbrio” global foi formada pelos Estados Unidos e países aliados, que utilizam sanções, proibições de exportação e a formação de alianças estratégicas para reduzir o alcance da China nas tecnologias emergentes.

O desenvolvimento de tecnologias emergentes, que têm "implicações imprevisíveis” na segurança nacional, "exige uma reavaliação do papel da tecnologia nos assuntos internacionais e do seu impacto no sistema internacional”, escreveu a equipa.

Embora as percepções do poder de um país sejam, frequentemente, limitadas pela proximidade geográfica, a natureza transfronteiriça dessas tecnologias emergentes torna-as "desimpedidas pelas defesas tradicionais do ar, da terra ou do mar”, lê-se.

De acordo com os autores, entre 2017 e 2023, a posição da China como um "concorrente quase par dos EUA a nível tecnológico levou Washington a investir mais do que a China e a restringir o seu acesso a certas tecnologias críticas, novos mercados e recursos necessários para o progresso tecnológico”.

Em 2021, os EUA proibiram investimentos em 59 empresas chinesas no sector dos 'chips' semi-condutores, incluindo a Huawei. No ano seguinte, entrou em vigor a Lei de Chips e Ciência, que visa impulsionar o investimento na indústria norte-americana de semi-condutores.

Outros países seguiram as pisadas, refere o estudo, apontando para o acordo entre EUA, Países Baixos e Japão, em Janeiro de 2023, para "travar a venda de algumas máquinas avançadas de fabrico de 'chips' e restringir as vendas de semicondutores avançados à China”.

"A aceitação das recomendações políticas dos EUA, que por vezes ocorre após meses de árduas negociações, representa um esforço conjunto dos aliados para impedir a aquisição pela China de tecnologia de ponta em semicondutores, com o objectivo de preservar a própria superioridade tecnológica”, escreve a equipa do estudo.

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