Cultura

Feitos do escritor Jorge Macedo devem merecer maior atenção dos académicos

Manuel Albano |

Jornalista

O reconhecimento de todo o contributo dado por Jorge Macedo, ao engrandecimento da literatura nacional, sobretudo poesia, devem continuar a merecer a atenção dos académicos, por ter ajudado a moldar positivamente várias gerações.

23/02/2024  Última atualização 11H40
Durante o debate na UEA foi recomendada aos estudantes mais pesquisa sobre a vida e obra do académico e poeta © Fotografia por: EDIÇÕES NOVEMBRO

Essas conclusões foram observadas durante a realização do tradicional debate "Maka à Quarta-feira”, realizado na União dos Escritores Angolanos (UEA), numa produção do Círculo de Estudos Literários e Linguísticos Litteragris.

O debate teve como tema "Da poesia ao pensamento teórico de Jorge Macedo”, e foi apresentado pelos críticos literários e escritores Hélder Simbad, Agostinho Gonçalves e Mabanza Kambaka, sob moderação da ensaísta Edmira Cariango.

Hélder Simbad, na sua intervenção, destacou Jorge Macedo  como sendo detentor de uma vasta obra, que parte do conhecimento científico ao artístico.

A missão no encontro, disse, foi falar sobre a produção teórico-literária do homenageado,  que dos vários livros que publicou destacam-se "Itetembu”, "As Mulheres”, "Pai Ramos”, "Irmã Humanidade”, "Clima do Povo”, "Gente de Meu Bairro”, "Voz de Tambarino”, "Geografia da Coragem”, "A dimensão africana da cultura angolana”, "Literatura Angolana e Texto Literário” e "Poéticas na Literatura Angolana, Poesia Angolana”, bem como deixou apontamentos históricos de como escrever literatura.

Na abordagem, Hélder Simbad privilegiou falar da poética de Jorge Macedo na literatura angolana, o qual fez parte do processo de doutrinação do movimento Litteragris.

No livro "Poéticas na Literatura Angolana”, explicou, Jorge Macedo faz uma abordagem teórico- crítica e apresenta um estudo sobre as diferentes poéticas, ou seja, concepções estilísticas, que compõem canonicamente a antologia geral da poesia angolana, desde os primórdios até aos primeiros anos da Independência Nacional.

O crítico literário e académico esclareceu que é impossível esgotar as várias ideias incorporadas neste livro, pelo que se cingiu naquelas que são susceptíveis de provocar uma reflexão em torno da sua produção literária. Nesta ordem, a sua abordagem limitou-se em algumas linhas extraídas de três capítulos que considerou cruciais para identificar a ideia geral da obra.

De acordo com Hélder Simbad, nos trabalhos de Jorge Macedo, o mesmo usa "poéticas”, significando "as práticas literárias, os estilos individuais ou colectivos, quer os géneros de ‘texto’, no campo de sua manifestação".

No segundo capítulo, "Definições e Indefinições Sobre Poesia”, disse, incide sobre as subjecções que se levantam em torno de uma definição referencial de poesia, quando dicionários, manuais de literatura e línguas, e até mesmo poetas, apresentam vários conceitos, facilmente encontrados por via de pesquisas.

Neste âmbito, continuou, Jorge Macedo entende que, ao nível da forma, de como se produz o dizer poético, suas regras, seus recursos de elaboração, a poesia é definível. "As indefinições situam-se certamente no quadro do gozo, das sensações que transcendem o objectivo e voam no subjectivo.”

Em relação à oposição que surgiu na década de 1940, quando poetas e estudiosos reagiram contra tendências de se considerar a poesia mais a forma (ritmo e métrica) do que o conteúdo poético sobre a forma, explicou que Jorge Macedo defendia o seguinte: "não que se decretasse a negação da forma pois ela dá rosto à arte, mas afirmar-se-ia que ela serve a valorização máxima do estético e não o contrário”.

No terceiro capítulo, "Tentativa de Avaliação do Menos e Mais Poético”, argumentou que Jorge Macedo parte da primícia segundo a qual "nem todos os textos oferecem o mesmo conteúdo, a mesma qualidade, a mesma linguagem poética”.  Segundo Hélder Simbad, Jorge Macedo considera que o mais e o menos poético afirmam-se como uma realidade sentida por pessoas autorizadas, teóricos, leitores de sensibilidade apurada, desde séculos. Para o autor, disse, o reconhecimento de que o mais e o menos poético é um facto. "Prova a possibilidade de classificação poético- textual, a partir de trechos contendo valores diversos de poesia e por conseguinte que se podem arrumar pela ordem de valores, do menos ao mais”.

O orador refere que o escritor Jorge Macedo faz uma crítica incisiva à ideia de que a poesia seja fácil e defende a necessidade dos produtores ou teóricos de texto a jogarem a favor da afirmação de verdadeiros factos literários e não do favorecimento de desprazeres de trechos desclimatizados do estético.

Na visão de Jorge Macedo, disse, a poesia produzida em Angola conhece práticas , formas e modos de dizer até aos anos 40 idênticos aos utilizados na literatura produzida em Portugal, como noutros países de língua portuguesa por autores cujo "ethos cultural” espelhava quer a consequência da assimilação durante séculos forjada por portugueses de cultura dentre colonizados, quer a prática literária de portugueses que viviam a defender certa angolanidade.

A poética e o pensamento do escritor Jorge Macedo

Para o prelector Mabanza Kambaka, que também é membro do Movimento Litteragris, homenagear Jorge Macedo é,  de certa maneira, entender os seus feitos em prol da literatura angolana. Durante a dissertação, reflectiu sobre os aspectos gerais da poética de Jorge Macedo até ao pensamento sobre os vários conceitos da produção literária angolana. "Enquanto poeta, influenciou para que hoje os estudos literários tivessem uma direcção, particularmente, no círculo literário e académico angolano”, disse.

 

Notoriedade a nível  da cultura e ensaística

O prelector e académico Agostinho Gonçalves, actualmente  vice- coordenador do Círculo dos Estudos Literários e Linguísticos do Movimento Litteragris, a obra de Jorge Macedo mergulhou em várias áreas e tendo passado também pela poesia. Jorge Macedo, disse, deixou uma vasta obra poética. Infelizmente, lamentou, Jorge Macedo é muito mais conhecido pelos seus estudos literários, principalmente a nível da cultura e da ensaística.

Segundo Agostinho Gonçalves, Jorge Macedo também foi um bom poeta e é justamente nesse campo do saber que precisa ser melhor estudado o seu contributo para a literatura angolana. O prelector falou da escrita e do pensamento de Jorge Macedo, porque a sua poesia marca dois momentos específicos da História da Angola.

De acordo com o orador, há uma parte das suas obras que foi publicada antes da independência, que tinha um outro teor, um outro pensamento, e outra que foi publicada depois da independência com um outro pensamento filosófico.  "Os livros de Jorge Macedo merecem ser conhecidos pelo grande público, fundamentalmente pelos angolanos, defendeu.

O livro  de Jorge Macedo "A Dimensão Africana da Cultura Angolana”, disse, por exemplo, quem lê, está em contacto com um "riquíssimo livro, que entra até em questões da africanidade, o próprio panafricanismo, angolanidade, são questões que atravessam o próprio campo da literatura e merecem ser estudadas nas academias”.

Durante a sua dissertação, falou  igualmente  dos livros "Poéticas na Literatura Angolana e Literatura Angolana” e "Textos Literários”, como sendo também livros  de elevado teor científico, metodológico e teórico. Portanto, disse, Jorge Macedo "é cânone e precisamos fazer sentir isso dentro das academias”.

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