Desporto

Felizarda Jorge: “Tive o privilégio de ser cobiçada pelo Interclube”

Rosa Napoleão

Jornalista

Formada em gestão de recursos humanos pela Universidade Lusíada de Angola, Felizarda Jorge, quando criança, sonhava ser advogada para defender as causas dos mais necessitados, mas o destino arrastou-lhe para outro caminho.

09/03/2024  Última atualização 11H50
Ex- capitâ da selecção nacional de basquetebol, Felizarda Jorge © Fotografia por: Edições Novembro

Mas não se arrepende da mudança. O sucesso na carreira desportiva é fruto dos incentivos recebidos na família. A basquetebolista do Clube Desportivo Interclube e da selecção de Angola dedica parte da sua vida ao desporto desde muito cedo. Por quatro anos, ostentou o título de capitã da equipa sénior feminina da Polícia Nacional e dois anos na selecção sénior.

Basquetebol

"Tínhamos o hábito de jogar basquetebol nas aulas e acostumei-me a ser uma aluna dedicada e muito focada naquilo que fazia; era boa a jogar, por isso, recebia sempre elogios e incentivos do meu professor de educação física para me enquadrar num clube”, Assim começou a descrever uma carreira iniciada na escola primária 21 de Janeiro.

Zazada, como é carinhosamente tratada no seio familiar, decidiu enveredar pelo basquetebol com o incentivo de um professor (de que já não se lembra do nome). A bravura evidenciada nas aulas de educação física estava na base do estímulo.

Em busca da realização do sonho, "pousou” no aeroporto de Luanda. "O ASA (Atlético Sport Aviação) foi o primeiro clube que me recebeu. Lembro-me de ser levada pelo pai (já falecido) que também era um amador do desporto, em particular o futebol. Lá, nas bandas de Calulo, sua terra natal, pertencia a um clube”, recorda.

Integrada no escalão de iniciado, desde os 10 anos, Zazada permaneceu na agremiação até aos 14 anos. Depois, foi transferida  para o Desportivo Maculusso, sob os cuidados do treinador Jesus e Bigodinho, no escalão de cadetes.

"Nas juniores, tive acompanhamento do treinador Januário. Face ao meu foco no trabalho, mais tarde, colocaram-me a fazer dupla categoria: júnior/sénior. A decisão foi a mais acertada. O trabalho dedicado daquele treinador acrescido com o do timoneiro Alex contribuíram muito para aquilo que me tornei no basquetebol. Hoje, tenho profundo respeito e consideração por eles”, enfatizou.

Estreia nos jogos internacionais

O bom desempenho levou-a a integrar o plantel do 1º de Agosto. A persistência de Felizarda nos trabalhos de treinamento era encarada com bastante rigor. O empenho fez alistá-la na convocatória da Selecção Nacional para os Jogos Olímpicos de Verão de 2012, em Londres. Era a estreia numa competição internacional.

"Foi uma experiência fantástica. Estava ao lado das minhas colegas que já carregavam alguma experiência naquele tipo de competição, como são os casos da Nacissela Maurício, Astroda Vicente, Nadir Manuel, Luísa Tomás, Fineza Eusébio, Ngundula Filipe, Ângela Cardoso, Catarina Camufal e outras”, lembrou.

Do baú de recordações, soltou uma confissão "Confesso que havia muita ansiedade em mim. Disputámos os jogos com muita bravura, porque recebíamos as orientações do nosso treinador Aníbal Moreira. Era como um pai, sempre pronto para ajudar e ensinar. A nossa equipa terminou na 12ª posição”.

Felizarda destaca as competências do treinador e a organização do 1º de Agosto " Toda aquela geração de jogadoras, que passou nas mãos do treinador Aníbal Moreira, ficou com um legado. É uma excelente pessoa que fez um trabalho excepcional connosco naquela altura. Graças a esse homem, a Selecção Nacional conquistou dois troféus consecutivos de campeã continental. Por isso, o 1º de Agosto é um grande clube, pelo qual tenho muito respeito”.

Interesse do Interclube

"Tive o privilégio de ser cobiçada pelo Interclube”. Assim, descreve a ex-jogadora antes de sustentar que, naquela altura, já estava mais rodada no aspecto competitivo com tudo o que havia aprendido nos clubes ASA, Maculusso e 1º de Agosto.

"Enquanto estive no Desportivo Maculusso, acostumei-me a jogar pela Selecção Nacional. Quando cheguei ao Interclube, já estava mais madura. Lembro-me de fazer parte da conquista da Taça dos Clubes Campeões e o Campeonato Africano. Depois disso, continuámos na senda das conquistas até ao momento”.

Dona de uma carreira invejável, Felizarda viveu um período de intermitência. "Durante o período de glórias, retirei-me por dois anos para reforçar o 1º de Agosto, clube que muito respeito, findo o prazo, regressei outra vez ao Interclube”.

A mudança tem justificação "Sempre tive o hábito de levar muito a sério as coisas que faço. Era assim com o basquetebol. Sempre soube honrar o nome da minha família enquanto jogadora”.

Se respeita o clube militar, o da Polícia Nacional está acima de todas as virtudes. A antiga capitã fundamenta "O Interclube tem sido mais que uma escola para mim. Até atingir a categoria de sénior, sempre defendi com orgulho as cores da nação. Guardo boas lembranças do falecido António Camuloji (que Deus o tenha), um brilhante dirigente com elevado valor moral. Era amigo das atletas, um verdadeiro pai que soube dar sempre as mãos e superar as dificuldades. Soube desempenhar bem o seu papel enquanto dirigente e conseguiu levar-nos, várias vezes, à final da Taça de Clubes Campeões e conquistámo-las”.

Dificuldades no desporto

A jogadora sénior do Interclube e da Selecção de Angola descreve que as dificuldades sempre se fizeram sentir ao longo da carreira desportiva. Defende que os clubes devem apostar mais em patrocínios, se quiserem atingir um desenvolvimento sadio.

"Penso que os clubes recebem muito pouco dos órgãos soberanos do desporto ou o que produzem para a sobrevivência. A melhor aposta deve ser com ajuda dos patrocinadores. Infelizmente, nesta altura, tem sido uma grande dor de cabeça conseguir e manter os patrocinadores, porquanto existe carência e dificuldades para todos nós”, fundamentou.

A conjuntura social arrasta-se desde os velhos tempos e prolonga-se até à nova geração, segundo a basquetebolista.

"É preciso encontrar soluções, se quisermos ter uma selecção forte que continue a manter as conquistas no continente”, avalia.

A atleta realçou os problemas que observa em alguns clubes de Angola. "Tudo isso está a acontecer, porque faltam os patrocínios. As empresas bem sucedidas devem aliar-se ao desporto e alavancar os clubes para o bem comum”, disse.

"A minha família foi o meu pilar”

A vida nunca é fácil para uma desportista, segundo Felizarda Jorge, pois, "tem muitas nuances e inúmeras dificuldades, principalmente, para conciliar os treinos com outras tarefas”.

"Quando estamos nesta condição é importante contar com o apoio da família. Se não acontecer, fica difícil tocar o barco para frente”, disse.

Felizarda conta que a  mãe, Dona Mimi, como é carinhosamente tratada, sempre ficou com um pé atrás no que concerne à prática de basquetebol.

"Depois de alguns anos, acabou por aceitar a minha vida de desportista. Ela passou a ser o meu braço forte e esteve sempre presente. Quando passava pelos pequenos acidentes de lesões, sempre cuidou dos meus ferimentos como a cirurgia ao joelho. Agradeço a Deus pela vida dela, porque sempre me incentivou a terminar os meus estudos. Já não temos pai, perdemo-lo, mas a minha mãe continua a apoiar-me. Quanto aos meus irmãos, sempre tivemos boa relação e apoiam-me, dão-me força e torcem sempre para as vitórias nas competições importantes”, concluiu.

 

PERFIL

Nome - Felizarda da Conceição Jorge

Estado Civil - Divorciada

Nascimento - 23 de Fevereiro de 1985

Naturalidade - Angolana

Defeito - Teimosia

Religião - Católica

Prato preferido - Arroz com feijão, peixe frito e salada

Bebida - Fanta

Cantor Nacional - Bonga

Músicos internacionais - Byoncé e Ryanna

Cidade angolana - Lobito

Cidade estrangeira - Joanesburgo

Melhor companhia - A minha família

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