A ministra das Finanças chefiou uma delegação angolana que participou, desde segunda-feira passada até domingo, em Washington, nas reuniões de Primeira do Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI). Em entrevista à Rádio Nacional e ao Jornal de Angola, Vera Daves de Sousa fez um balanço positivo das reuniões – oitenta, no total –, sendo que, numa delas, desafiou a Cooperação Financeira Internacional (IFC) a ser mais agressiva e ousada na sua actuação no mercado angolano. O vice-presidente da IFC respondeu prontamente ao desafio, dizendo que até está a contar ter um representante somente focado em Angola e não mais a partilhar atenção com outros países vizinhos na condução local do escritório do IFC. Siga a entrevista.
Kaissara é um poço de revelações quase inesgotável, como a seguir verão ao longo desta conversa, em que aponta os caminhos para um futuro mais consequente da modalidade; avalia o presente das políticas adoptadas sobre a massificação e formação. Mostra-se convicto de que o país pode, sim, continuar a ser a maior potência africana do Hóquei em Patins
Nascido aos 9 de Setembro de 1953, no bairro Cotel, na cidade de Benguela, Pedro Garcia, o “eterno” Capitão dos Palancas Negras, iniciou a carreira desportiva nas escolas de futebol do Nacional de Benguela, na altura Portugal de Benguela.Em entrevista ao Jornal de Angola, Pedro Garcia disse que é com muito orgulho que acompanhou a evolução dos Palancas Negras, “uma demonstração de que o futebol angolano está a evoluir”
Acompanhei
com muita atenção a evolução do Campeonato Africano das Nações, precisamente
porque além de ser desportista e gostar do desporto, o nosso país esteve
presente. Sou obrigado a tecer algumas considerações sobre isso. Repito, gosto
do desporto em geral e do futebol em particular, porque foi nestas lides onde
nasci e cresci.Devo dizer que foi uma participação positiva, porque na fase
regular empatamos com a Argélia, uma das selecções que era suposto vencer o
grupo D. Jogamos com a Mauritânia, o Burkina Faso e terminamos em primeiro
lugar no grupo. Foi positivo. Depois do sucesso, chegamos aos oitavos-de-final,
onde eliminamos a Namíbia. Foi uma participação auspiciosa.
Gostou do grupo D, onde figurou a Selecção Nacional?
Antes,
deixa dizer que o jogo mais difícil, depois da Argélia, foi contra o Burkina
Faso. O que eu vi no jogo da Mauritânia e do Burkina Faso foram equipas
poderosas, lutadoras e com elementos pulsantes, principalmente na defesa. São
robustos e com força a defender. Ainda assim, lideramos o grupo, o que nos
levou até aos quartos-de-final. Queríamos estar na final. Ainda assim, perder
com a Nigéria, por apenas 0-1, nos quartos-de-final, podemos concluir que foi
uma participação positiva. Diz-se muito que o treinador da Selecção deve fazer
determinadas alterações na equipa. Eu sou apologista que quem manda na equipa é
o treinador e só ele pode fazer o que quer, porque se ele está diariamente com
a equipa, sabe quem está em melhores condições. Estou feliz com a participação
da Selecção no CAN da Côte d’Ivoire.
Sei que é tratado como o "eterno” Capitão dos Palancas Negras. Em que ano iniciou a carreira desportiva?
Iniciei
a minha carreira desportiva nas escolas de futebol do Nacional de Benguela, na
altura Portugal de Benguela, orientado pelo treinador Salvador do Carmo.
Seguidamente, passei a representar o Sporting de Benguela na categoria de
juniores. Pela primeira vez, fui campeão distrital (actualmente
provincial).Ascendi à equipa dos seniores do Portugal de Benguela em 1971.
Seguidamente, isto é de 1973 a 1974, representei o Sporting Clube de Luanda,
devido ao cumprimento do serviço militar no Exército português, naquele
distrito (agora província). Em 1975 regressei ao Clube Portugal de Benguela,
que após a proclamação da Independência Nacional passou a denominar-se Clube
Nacional de Benguela.Fiz parte, em 1976, de um misto que se deslocou a
Brazzaville, República Popular do Congo, para um jogo de carácter particular.
Tem na memória o ano em que foi chamado para integrar a Selecção Nacional pela primeira vez?
Em
1977 participei na primeira Selecção Provincial de Benguela, como capitão, e
defrontamos a Selecção de Luanda. Durante o período de 1977 a 1980 representei
o Clube Desportivo 1º de Agosto, onde me sagrei, pela primeira vez, campeão
nacional.Representei pela primeira vez o país em competições africanas a nível de clubes em
1978, ao defrontar o Cannon de Yaoundé, da República Unida dos Camarões, para a
Taça dos Clubes Campeões Africanos.
Parou por aí?
Não.
Em 1980 regressei a Benguela, para representar o Clube Nacional na Taça dos
Clubes Campeões Africanos, onde defrontamos o Union de Douala dos Camarões. A
partir de 1984 passei a representar o Clube 1º de Maio de Benguela, até 1986.
Como capitão da mesma equipa, sagrei-me campeão nacional de Angola em 1985. E
defrontamos várias equipas africanas, como o Ashanti Kotoko, do Ghana, o
Semassi Seko, do Togo, o Atlético de Malabo, da Guiné Equatorial, entre outras.
No mesmo ano (1985), fui campeão da 1ª Supertaça de Angola, pelo 1º de Maio de
Benguela.
Em que ano terminou a carreira desportiva oficial ao serviço do 1º de Maio de Benguela?
Finalizei
a minha carreira desportiva oficial no 1º de Maio de Benguela em 1986, a partir
daí prossegui apenas a actividade desportiva de recreação, fazendo parte de
várias equipas, mistos e selecções, em jogos locais, nacionais e
internacionais.
Tem memória dos jogos internacionais que realizou pela Selecção Nacional de Angola como capitão?
De
1977 a 1980 representei a Selecção Nacional de Futebol como capitão, tendo
defrontado várias selecções, quer em jogos oficiais como particulares, tais
como Zâmbia, Tunísia, Congo-Brazzaville, Congo Democrático, na altura Zaire,
Camarões, São Tomé e Príncipe, Botswana, Moçambique, Cuba, Nigéria, Gabão,
Ghana, Senegal, Marrocos, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Madagáscar, Zimbabwe, entre
outras, totalizando 55 jogos internacionais, entre oficiais e particulares.
Algo a destacar como jogador ao serviço da Selecção Nacional?
Lembro-me
do estágio que realizamos em 1977, para a Taça das Nações na Bulgária. Ainda
nesse ano, defrontamos a República Popular do Congo para a Taça das Nações. Nos
anos subsequentes (1979 a 1985) participei, dentre vários, no Torneio Cuba/Angola,
em Havana, defrontamos a congénere do Congo Brazzaville em Luanda e
posteriormente em Brazzaville, para a Taça das Nações. Participei num estágio
da Selecção para os Jogos da África Central. Representei, ainda, a nossa
Selecção nos Jogos da África Central, realizados em Luanda. Representei,
também, a Selecção na Taça das Nações, onde defrontamos a Selecção dos
Camarões. Participei no apuramento para os Jogos Olímpicos de Los Angeles, em
Luanda, onde voltamos a defrontar os Camarões, além de representar a Selecção
Nacional nos jogos de apuramento ao Mundial, diante da Selecção do Senegal.
Como antigo capitão da Selecção Nacional, tem algumas recordações de participações em fases finais de Campeonatos Africanos de Futebol (CAN)?
Olha,
no nosso tempo, nunca participamos numa fase final do CAN, porém tivemos muitas
participações em jogos de apuramento para a mesma competição, Jogos Olímpicos e
outros.
Qual é a razão?
É
muito fácil compreender os motivos. Nós fomos os elementos que transitaram, no
futebol em Angola, da era colonial para a Independência Nacional. Portanto, nós
quando começamos a fazer as competições internacionais a nível de selecções, já
encontramos muitas selecções poderosas em África. Muito poderosas mesmo. Então,
nós fomos ganhar a experiência que tentamos transmitir à nova geração. Acredito
que essa nova geração deu prosseguimento com algumas coisas boas e outras nem
tanto, e chegamos a um Mundial.
É de opinião que Angola chegou ao Mundial por conta da experiência transmitida?
Não estou
a dizer que os jogadores que chegaram ao Mundial foram por nossa causa. Porém,
houve um certo trabalho que permitiu lá chegar. Como disse, repito, a nossa
transição no futebol em Angola foi uma questão de colher experiência. Ao
chegarmos à Selecção Nacional, foi mesmo para recolher as experiências dos
outros.Agora não admito que falem em ganhar conhecimentos ou experiência,
porque a experiência já foi dada por nós. Dizia eu que encontramos potências
muito fortes em África, no caso os Camarões, a Nigéria, o Gabão, a própria
Costa do Marfim (actual Côte d’Ivoire), inclusive a Zâmbia. Encontramos muitos
poderosos no futebol. E naquela altura estávamos sempre inseridos numa zona
muito difícil. Apanhávamos sempre os Camarões, que sempre foram o calcanhar de Aquiles das nossas selecções, por isso
dificilmente ganhávamos.Sempre apanhávamos os dois Congos, o actual Congo
Democrático e o Congo-Brazzaville.
Apesar do poderio dessas selecções, nunca tiveram as vossas "vítimas”?
Também
tínhamos. Mesmo com as experiências que procurávamos adquirir, também tínhamos
as nossas "vítimas”, tais como a Selecção do Gabão, que nunca nos conseguiu
vencer. Lembro-me das goleadas que infligíamos ao Gabão. Goleámos o Gabão no
Estádio da Cidadela, em Luanda. Tal como
éramos "vítimas” de algumas selecções, como os Camarões, a Nigéria e outras.
Mas o nosso calcanhar de Aquiles, ou maior preocupação, era mesmo jogar contra
os Camarões. Também fizemos um grande jogo com a Argélia, onde infelizmente não
joguei porque vinha de uma lesão, fui substituído pelo Makuéria, que fez um
grande jogo. Marcámos o terceiro jogo que nos daria a vitória na Argélia, mas o
árbitro esteve contra nós.
Será que a falta de experiência também contou nesse jogo?
Também. Uma coisa fundamental: na altura não tínhamos experiência competitiva internacional, não tínhamos grande experiência a nível da Confederação Africana de Futebol (CAF), então, também, fomos ganhando experiência com as equipas de arbitragem, as organizações da CAF, através dos organizadores do futebol africano. Isso tudo nos foi penalizando.Quer os jogadores, quer os dirigentes, não tinham domínio dos meandros das competições africanas. Assim foi.
"Estamos
numa nova era”
Qual
é a opinião que tem da nova era?
De
facto, estamos numa nova era. Os nossos dirigentes já estão mais enquadrados
com isso. Podem não estar completamente, mas hoje as coisas já estão
modernizadas. Os nossos jogadores, equipas técnicas e dirigentes já têm os
órgãos de comunicação social todos presentes, já têm o sistema informático que
nós não tínhamos antigamente.Já têm os equipamentos desportivos que nós não
tínhamos.
É possível exemplificar?
Quando
nós jogávamos fazíamo-lo por amor à camisola, porque tínhamos vontade de jogar,
tínhamos o coração ligado à nossa pátria, ao nosso país e aos nossos
dirigentes. Eu era capitão da Selecção Nacional e naquela altura usei, muitas
vezes,pano para fazer o braçal de capitão. Usávamos ligaduras cravadas com
fitas adesivas, para simbolizar que era capitão. Ou melhor, para diferenciar
dos outros jogadores. Veja o que nós passámos e a realidade que hoje é
diferente! Hoje você está sentado no sofá em casa, no gabinete ou na Federação
com meios informáticos, recolhendo todos os dados.
No passado também fazia-se scouting ou é uma nova moda?
Antigamente
não se fazia scouting como acontece actualmente. Antigamente não se tinha
dirigentes que passavam à frente para criar as condições. Íamos todos juntos.
Dormíamos e comíamos todos mal, quer cá, quer fora. Passávamos por vicissitudes
que um atleta de alta competição não deve passar.Digo atleta, defendendo o
futebol, mas a mesma realidade deve ser extensiva ao basquetebol, andebol,
ténis, xadrez e outras modalidades, na fase inicial, que transitaram da fase
colonial para o pós-Independência. Também tiveram muitas dificuldades para
desenvolverem a actividade desportiva nos clubes ou selecções. Hoje não se
admite, e eu não posso entender que algumas vezes isso aconteça, que os
jogadores vão a uma missão e passem mal, não consigam viajar em condições, não
comam bem algumas vezes, não durmam bem e viajem com algumas vicissitudes,
porque actualmente já se podem criar equipas de avanço, para criarem as
melhores condições para os clubes ou selecções.
É o que nota actualmente?
Enquanto
delegado dos Desportos chefiei uma delegação para Paris, França. Eu próprio é
que fui criar as condições, embora houvesse já contactos, por intermédio de
telefonemas. Fui lá criar as condições e representei bem, o que culminou com um
bom estágio da Selecção Nacional e tivemos uma representação condigna. Hoje, as
vicissitudes não deviam acontecer. Hoje há equipas de avanço e quando a equipa
chega encontra tudo preparado, tudo bonito. De qualquer das formas, é para
dizer que o tempo é diferente. Hoje já há melhores elementos para proporcionar
um trabalho mais aturado, constante e significativo para que os jogadores
possam representar, condignamente, o nosso país.
Existe outro reparo a fazer?
Penso
que os jogadores de hoje valem-se muito dos valores monetários que recebem.
Isso é muito mau, embora seja reconhecido que devem ter o direito a serem
remunerados por aquilo que fazem, mas tem de haver, também, o lado do coração a
puxar pelo país.
No passado era possível negar representar a Selecção Nacional, em detrimento do clube?
No
tempo em que jogávamos pela Selecção Nacional e pelos nossos clubes, não
aparecia um jogador que rejeitasse a sua convocatória para representar a
Selecção Nacional. Aliás, era difícil aparecer um jogador que rejeitasse a sua
presença na Selecção Nacional. Não aparecia. Hoje já aparecem muitos. Há quem
rejeite com naturalidade a presença nos Palancas Negras. Ou os clubes de fora também já proíbem que os
jogadores venham. Às vezes, os seleccionadores não convocam aqueles que deviam.
Reconhecemos que isso é um problema técnico e não nosso. Mas, antigamente,
todos queriam jogar pela Selecção Nacional. Por isso, aí está o nosso
reconhecimento. Estamos mal financeiramente, mas somos ricos por termos
representado, condignamente, o nosso país.
Os novos jogadores convocados eram sempre bem tratados?
Sem dúvidas. Mas havia aqueles gozos, brincadeiras nossas, como, por exemplo, "vieste fazer o quê aqui?”. Na defesa não tinhas hipóteses, porque estava o Lourenço, o Garcia, o Santo António, o Salviano, o Chico Afonso, tal como no ataque, com a presença do Ndungidi, e outros, a par do meio campo. Tinha que se lutar muito para entrar, porque a equipa já estava escolhida. Tínhamos aquelas brincadeiras, mas alguns ficavam e outros iam. Devo dizer que saíam das convocatórias muitos bons jogadores, importantes. Era querer jogar na Selecção Nacional, como forma de representar condignamente o país, por amor à camisola. É o que nós fizemos. Eu disse antes que estamos ricos em termos desportivos, ganhamos muito. Eu, por exemplo, modéstia à parte, estou feliz, porque vocês hoje fazem entrevistas e dizem que eu fui um bom jogador, exemplar. Como eu houve muitos jogadores bons. Não posso estar isolado dos outros, mas, para dizer que, resumidamente, todos nós queríamos ser da Selecção porque jogávamos por amor à camisola.
Há
antigos jogadores a passarem mal
O
futebol sempre deu
dinheiro?
Não
jogávamos por causa do dinheiro. O patriotismo falava mais alto. Você já viu ir
para os Camarões e ir jogar com 50 dólares, às vezes nem era por dia? Às vezes
davam os 50 ou 100 dólares para os dias que ficássemos lá. Hoje não querem
viajar, alegando que a Selecção paga mal. Mas, nós não. Pagando bem ou mal, era
ir.A maior virtude de representar o nosso país é estar na Selecção Nacional.
Não quero só falar do futebol. Quero, também, falar de outras modalidades,
porque eu vi e acompanhei as outras modalidades.
Quem foram os seus treinadores, ao longo da carreira desportiva?
A
nível de clubes lembro-me do Salvador do Carmo, Rogério Peyroteu, Amílcar
Silva, Edelfride Palhares da Costa "Miau”, Alexandre Baptista, Du Filho, Dr.
Eduardo dos Santos, Ferreira Pinto, Kasanini (jugoslavo), Ventcho Zaharei
(búlgaro), Augusto Martins (português), Nicola, João Machado, Rui Rodrigues
(português). Já a nível da Selecção Nacional trabalhei com Chico Ventura, Cata,
Domingos Inguila, Pattar Knezevick (jugoslavo), Amílcar Silva, Joca Santinho,
Rúben Garcia, Storick e Videk (jugoslavo).
Mas notamos que é proprietário de um Lexus!
Felizmente,
um dos ministros com quem eu trabalhei, reconhecendo a minha participação na
organização de vários eventos em Angola, particularmente em Benguela, como
foram os casos do Afrobasket, CAN de Andebol e de Futebol, recompensou-me com o
meio que vocês viram. Este carro já está comigo desde 2011. Estamos em 2024.
Tive muitas promessas de alguns governadores que passaram por Benguela e
ninguém me deu nada. Não estou a chorar por isso e nem quero ser pedinte. Lido
bem com aquilo que tenho.
Mas há quem possa pensar que foram maus gestores financeiros!
Ninguém nos pode chamar de maus gestores financeiros, porque não ganhamos para isso. Agora é que não admito que haja quem esteja a jogar neste momento, que ganha bem, dá um pontapé na bola, ganha muito dinheiro e não saiba fazer a gestão desse dinheiro. Aí podemos responsabilizar, porque ganharam alguma coisa.
Carrega boas recordações das figuras com quem trabalhou?
Todas
essas personalidades transmitiram-me ensinamentos e experiências diversas, bem
como lições de vida que marcaram a minha existência e contribuíram para nortear
a minha conduta, não só como desportista, mas como chefe de família e membro
activo da sociedade angolana e, principalmente, dirigente desportivo.
Qual é a avaliação que faz relativamente à atenção que se dá ao desportista?
Vejo
que o país está, agora, a tentar lutar com as organizações desportivas no
sentido dos jogadores terem uma reforma desportiva. Temos muitos antigos jogadores que hoje andam
de mão estendida, a pedir. Não tenho coragem de fazer isso. Mas vejo muitos
colegas que, lamentavelmente, estão a passar muito mal. E aí, agradeço à
Comunicação Social, quer a imprensa escrita, quer a rádio, toda a gente que faz
desporto na Comunicação Social, que tem estado a alertar as pessoas para a
situação de antigos jogadores que estão
a passar mal. Quero exemplificar o caso da Voz dos Kotas, que tem estado a
falar, inclusive, daqueles que praticaram outras modalidades. São vocês que
estão a alertar a sociedade no sentido de abrir os olhos para dar boas
condições de trabalho aos actuais jogadores e pensar naquela velha guarda,
alguns com mais de 70 anos.
Qual é a sua realidade?
No
meu caso tenho 70 anos. Mas, há elementos que são mais velhos que eu, andam por
aí, e outros que já partiram para outra dimensão por causa das dificuldades. Os
vivos não conseguem sustentar os seus filhos, as suas mulheres e suas famílias.
Quando alguém que antes jogou futebol não consegue sustentar a sua família,
isso mata essa pessoa.
Acha que há muitas lamentações?
Uma
pessoa que está reformada, alguns deles nunca trabalharam, dependiam
directamente do futebol ou do desporto, e hoje para dar um pão a uma criança
tem que pedir a um amigo, é difícil. São dessas coisas que às vezes falamos e
algumas pessoas não compreendem. A Comunicação Social tem feito esse trabalho
para chamar atenção. Muitos andam a pedir ajuda aos vizinhos e as pessoas
interrogam-se: "Então andaram a fazer o quê no futebol?”. Não compreendem que
nós andamos a jogar por amor à camisola e à Pátria. São dessas coisas que às
vezes ficamos a lamentar e alguns não compreendem.
Existem exemplos?
Em
1976, quando fomos ao 1º de Agosto, que era uma selecção militar, fomos
considerados também como militares e eu nem sabia quanto é que ganhava. E
éramos obrigados a jogar. Naquela altura havia conflito armado no nosso país e
os nossos responsáveis diziam que no sítio tal há guerra e vocês também estão
na guerra e na luta. O vosso material de luta é a bola e têm que combater
conforme combatem os nossos soldados naquele lado. Essa era a linguagem antiga.
Éramos tropas e tínhamos que aceitar.
Teve algumas dificuldades nisso?
Sim.
Vivia em Benguela e fui obrigado a ir a Luanda. Não consegui encontrar
residência para mim. Casei-me em 1976 e em 1977 já tinha uma filha. Não me
deram casa. Tive que lutar para em 1980 sair. Felizmente fiz bem. Perdi porque
não joguei muito tempo no 1º de Agosto. Só joguei durante três anos. Mas fiz
bem em regressar, porque me juntei à minha família. Estava a correr o risco de
perder a mulher. Comecei a trabalhar. Com o pouco que ganhei consegui manter a
minha família num estado equilibrado. Hoje vivo equilibrado e não tenho
problema nenhum de vida. Tenho a minha reforma garantida, embora agora não seja
grande coisa, mas dá para lidar com a minha família em casa.
Nunca enveredou pelo mundo de treinador e do dirigismo desportivo?
Frequentei
um seminário para treinadores de futebol, em 1983, em Benguela. Neste mesmo
ano, assumi a responsabilidade de treinar a equipa do Nacional de Benguela,
ainda como jogador. Em 1987 frequentei, igualmente, o curso de treinador de
futebol na Escola Superior de Educação Física e Desportos (DHFK), em Leipzig,
na República Democrática Alemã.
Em que ano iniciou a carreira efectiva de treinador?
Iniciei
a carreira efectiva de treinador em 1988 e treinei a equipa do Sporting de
Benguela e, posteriormente, os Gaiatos de Benguela, na I Divisão Nacional.
Interrompi
a actividade de treinador em 1990 e passei a desempenhar as funções de delegado
provincial do Ministério da Juventude e Desportos em Benguela, cargo que
desempenhei com zelo e dedicação durante dois anos (24 meses). Durante a minha
vigência participei em vários fóruns e acções de formação.Repito, fomos nós que
levamos o país à mais alta-roda do desporto.
Quero
agradecer a oportunidade que o Jornal de Angola me concede para falar da minha
trajectória, porque temos poucos escritos sobre a nossa história. Hoje, as
coisas são diferentes. Por exemplo, já é possível abrir o Google e ver a
trajectória, por exemplo, do Gelson Dala. No nosso tempo não havia isso. Então,
há muita gente que não sabe de nós. Quem sabe da geração passada são os mais
velhos, que andaram connosco, foram nossos amigos. Eles sabem como é que nós
jogamos e o que fizemos. Infelizmente, muitos já morreram e a história
desaparece. Precisamos que falem de nós agora e sejamos homenageados também
agora, porque o morto não vê e não sabe.
O que deve ser feito para reconhecer as antigas glórias?
A
nível de todas as províncias ainda há pessoas que praticaram diversas
modalidades. Acho que os governos provinciais deviam homenagear, ainda que
pouco a pouco, as antigas glórias, por ocasião de dias ligados à actividade
desportiva angolana. E com maior avalanche fazer homenagens a nível nacional,
conforme foi feito, por exemplo, no ano passado, com os 100 mais destacados no
futebol em Angola. Acho que é a Associação Sagrada Esperança que fez esse
trabalho. Todo o mundo acompanhou e os convidados foram ver. Isso é que é uma
homenagem coerente e honesta.Fui contemplado e muitos ficaram a saber que fui
um dos melhores defesas do país. Em cada ano eleger os melhores desportistas.
Não custa nada.
Qual é o sentimento depois de ter sido homenageado?
Eu,
por exemplo, quando fui homenageado entre esses 100 melhores desportistas,
fiquei satisfeito. Não deram dinheiro a ninguém, mas fiquei satisfeito. Saí
radiante e cheio de alegria porque não sabia que estava incluído no meio dos
melhores desportistas daquele tempo. Eu não sabia. Foi uma surpresa, assim como
para outros. Os que estavam presentes e os que acompanharam pela Comunicação
Social também não sabiam. Agora é preciso preparar os outros. Não podem ser
sempre os mesmos.Eu não gosto muito de falar de mim, mas estão a fazer uma
entrevista a mim.
A entrevista é personalizada…
Comecei
a ser delegado dos Desportos em 1990. Mas em 1970 já trabalhava para o
desporto. Comecei a trabalhar com Paulo Jorge. Falando de mim, acho que fiz
alguma coisa merecedora para o Governo Provincial homenagear esta pessoa, tal
como outras. Ainda ninguém pensou nisso. A Federação Angolana de Futebol,
também, numa das passagens fez-me uma homenagem. A Associação Provincial de
Futebol de Benguela fez-me um reconhecimento ao atribuir o meu nome ao
Campeonato Provincial. Fiquei satisfeito. Mas, a nível do Governo estou à
espera. Até custa fazer essas contas. É melhor fazermos bem as contas de 1990
até 2015. Todos os governadores que
passaram por mim ninguém me conseguiu dar uma prenda ou oferta, devido ao
trabalho feito. Estou à espera. Não estou a defender a minha dama. Hoje somos
independentes e é preciso que se diga isso alto e em bom som: vocês têm que
registar bem o que estou a dizer, para não dizerem que só estou a defender o
futebol. Estou a defender o desporto nacional. Nós fomos os co-fundadores do
Desporto Nacional e devemos ser reconhecidos por isso.
Foi sempre bem reconhecido nas vestes de capitão da Selecção Nacional?
Felizmente fui. Todos os meus colegas foram sempre unânimes em dizer que eu fosse capitão da equipa. E eu agradeço a todos. Quando fui capitão da Selecção Nacional, depois no 1º de Maio, só fiz um jogo sem ser capitão, os próprios jogadores reuniram-se e indicaram que tinha que ser eu o capitão, devido à braçadeira que sempre ostentei na Selecção de Angola. É uma gratidão muito grande que tenho.
Sente-se reconhecido pela Federação Angolana de Futebol, por tudo o que fez?
Eu fui convidado a ver o último jogo de apuramento ao CAN no Lubango (Huíla) e foram indicados muitos jogadores para assistir esse jogo. Como eu era o antigo capitão da Selecção Nacional, fui capitanear os antigos jogadores, também, no Lubango. Foi uma coisa muito bem reconhecida e todos aceitaram que eu fizesse isso.
O que aconteceu no Lubango?
Todos os jogadores que foram chamados para assistir ao jogo no Lubango, dependeram da minha organização e autorização. Deram-nos um autocarro que apoiou os antigos jogadores. Toda responsabilidade foi dada a mim, inclusive o alojamento e alimentação. Eu coordenei e todos aceitaram. Não fui só o capitão dos antigos jogadores da minha linhagem, mas, sim, de todos que jogaram na Selecção e são mais velhos que eu. Também estiveram no nosso grupo e não me senti vaidoso, por exemplo, o José Luís Prata, meu grande amigo e um grande senhor do desporto e do futebol, em particular. Ele esteve na nossa caravana dirigida por mim e ele aceitou e fiquei muito satisfeito por estar a capitanear uma pessoa mais velha que eu e que foi do tempo em que eu ainda não jogava.
Existem outras figuras?
Outra
figura foi o senhor Dionísio de Almeida, que foi, também, enquadrado no nosso
grupo de jogadores, assim como o Mário Fernandes, da arbitragem. São pessoas
mais velhas que eu, respeitadas e educadas, que andaram sempre connosco. Gostei
muito desse grupo todo e não tive problema nenhum. Pena é que foi por pouco
tempo.
Mas
devo dizer que desde que fui capitão da Selecção e delegado dos Desportos, até
este momento, sinto-me satisfeito porque não consegui arranjar nenhum inimigo.
Não tenho inimigos no desporto, tão pouco no futebol. Sempre que passo na rua
há três nomes que me chamam.
Quais são?
Director, Capitão e outros chamam-me Mais-Velho. Ainda hoje jogo bola e treino todos os dias. Então, é um exemplo. Ainda sou capitão da nossa velha guarda de Benguela. Esse é o carinho que me dão. Eu vou a Luanda e os meus antigos colegas, todos que jogaram comigo e outros que jogaram depois de mim, chamam-me Capitão. Fico radiante, porque sou reconhecido como tal. Essa é a vida que tive durante os meus longos anos desportivos, quer como jogador, quer como dirigente desportivo. Sinto-me satisfeito. Acho que vou morrer satisfeito. Tenho dito no meio da brincadeira e é possível que seja assim, eu preferia morrer no campo de futebol ou a treinar, do que de outra forma. Digo isso sempre. Gostaria de morrer ligado ao desporto.
"Não
admito competirmos hoje para ganhar experiência”
Nas
vestes de "eterno” Capitão, qual é a avaliação que faz do desporto angolano
actualmente? A
Selecção Nacional foi apenas uma vez no Mundial 2006 e nunca ganhamos um
CAN…
Claro
que sim. Na passagem em que eu falei da nossa geração, que fomos ganhar
experiência, disse, também, que não admitia que hoje estivéssemos ainda à
procura de experiência competitiva internacional. Não admito isso.
Uma
das coisas que lhe garanto é o facto de que hoje o desporto é dinheiro, não só
em Angola. Em qualquer parte do mundo, hoje vai-se onde dão mais. Não é por
amor à camisola. Então, as pessoas estão a jogar à procura só do dinheiro. Mas,
também, devo dizer que cada um tem a sua geração.
Qual é a caracterização que faz da sua geração?
A
nossa geração era outra e a actual é, igualmente, outra. Porém, a geração
actual tem melhores condições que a nossa. Quando jogamos futebol tínhamos
poucos campos relvados, havia os Coqueiros, um pouco o Ferrovia e o Sporting do
Huambo e depois na Huíla. O resto ninguém tinha campo relvado. Relvaram os
campos agora, por causa do CAN que houve. Nós jogávamos no pelado, com muitos
riscos. As bolas saltitavam. Raspávamos sempre as pernas quando caíssemos.
Éramos mal equipados e vestidos.
Qual é o reparo que faz actualmente?
Hoje
as Selecções vão bem vestidas. Vão de fato. Cada dia têm outro traje e nós não
tínhamos isso. Andávamos cada um com a sua roupa. Não havia coisas unificadas,
diferente do que vivemos no Mundial de 2006. Há outras condições que nós não
tínhamos naquela altura. Actualmente, já se melhorou a condição financeira. Nós
sempre pioramos. Hoje já se come bem. Naquele tempo comíamos mal. A nossa
linguagem era arroz com peixe frito ou peixe frito com arroz, porque era o que
nós utilizávamos. Depois dos treinos nem comida tínhamos. Alguns de nós
bebíamos um a dois finos. Dormíamos mal. Já chegamos a dormir em aeroportos ou
casas impróprias. Hoje não acontece, por isso não posso perceber e nem admitir
o que hoje acontece. É preciso que os nossos dirigentes saibam que o desporto
faz bem à governação. O desporto é componente necessária para um dirigente
governar bem o país. Não se pode colocar o desporto de lado. Ele é saúde, é
cultura, é turismo e muito mais.O desporto dá nome ao país.
Alguma coisa lhe entristece?
Num
dia desses ouvi um dirigente do Huambo, que já foi uma província de elevada
categoria no desenvolvimento desportivo e hoje está sem quase nada na área
desportiva. Ouvi falar nisso e entristeceu-me. Entristece-me ouvir que o
Sporting de Cabinda não conseguiu ficar na I Divisão. Se nas 18 províncias
tivéssemos um representante no Campeonato Nacional, inclusive nas outras
modalidades, o país ficava rico em termos desportivos.
É preciso haver honestidade?
No passado havia muitos dirigentes e trabalhadores honestos, como exemplo cito o Licas, senhor Nicolau. Eram pessoas engajadas. Têm que pôr esses nomes na minha entrevista. O Licas andava com os jogadores e os treinadores. Estou a falar dos primeiros dirigentes da Federação Angolana de Futebol, que ficava na baixa de Luanda, mesmo sem condições de trabalho, mas deram muito pelo futebol, mesmo andando a pé. Como disse, as pessoas morreram pobres e outras acabaram mal, porque não há apoio. Não compreendo e não aceito. Os nossos dirigentes têm que trabalhar para que o Orçamento Geral do Estado contemple bem a actividade desportiva no país e pedir contas, porque às vezes o Governo tem razão. As pessoas gostam de receber e não gostam de prestar contas.É preciso apresentar contas. As pessoas têm medo de apresentar contas porque fazem alguns desvios. É bom receber, mas, também, é preciso prestar contas. Não se pode escamotear as contas.
PERFIL
Nome - Pedro
Garcia
Filiação - Armando
Duarte Garcia e de Maria Varela
Data
de nascimento - 09/09/1953
Naturalidade - Bairro
do Cotel, cidade de Benguela
Estado
civil - Casado
com a senhora antiga capitã da Selecção Nacional de Andebol Maria José dos
Santos Garcia
Filhos - Quatro
(uma menina e três rapazes)
Melhores
cidades de
Angola - Benguela
e Lubango (Huíla)
Melhor
cidade no
exterior - Lisboa
Clube do coração
Portugal
de Benguela, primeiro, que originou depois o Nacional de Benguela. Esse é que é
o meu verdadeiro clube do coração. Foi aí onde aprendi futebol
Início
da carreira desportiva
Em
1968, com nove anos. Terminei a
carreira de jogadorde
futebol em 1987
Memória de alguns golos que marcou
Não
muitos, mas marquei alguns. E curiosamente tinha uma altura que me facilitava
bastante cabecear para a baliza. Não posso precisar agora, para não mentir, o
número de golos que marquei, mas foi um bom número, quer em clubes, quer na
Selecção Nacional
Clubes que lhe deram muito trabalho ao longo da carreira
Sou
dos dois tempos: colonial e pós-Independência. No tempo colonial, os jogadores
que mais trabalho me deram foram Carlos Alves, Arlindo Leitão, o Neto, o
Dudu... São os jogadores que me deram muito trabalho. Havia outros. Mas tinha
muitas dificuldades com estes jogadores. Como referências, no tempo colonial, essas
pessoas deram que falar.Depois da Independência eram poucos, porque muitos eram
meus colegas, com excepção do Jesus, o Afonso, o Chinguito e o Abel, que me
deram muito
trabalho.
Como ocupa os tempos livres?
Muito
fácil. Eu levanto-me todos os dias às 4h30 da manhã. Às 5h00 estou na rua a
correr e faço os meus exercícios físicos. Faço entre seis e nove quilómetros
por dia, com excepção das terças e quintas-feiras e sábados, dias em que vou
treinar no Nacional com a minha equipa. Quando tenho jogo não vou treinar na
rua.
Tem
casa própria?:
Esta
casa onde estamos a fazer essa entrevista é minha
Carro
próprio
Felizmente
tenho um, mas já está na recta final. Tenho o que me foi dado pelo antigo
ministro da Juventude e Desportos Gonçalves Muandumba
Qual é
o apoio que gostaria de receber do Governo
Tudo
que fosse possível e o reconhecimento do que eu fiz. Eu receberia de bom grado
Algo a acrescentar
O Jornal de Angola fez bem em entrevistar-me, porque consegui abrir a minha alma para dizer algumas coisas sobre a minha trajectória que estão escamoteadas, escuras e muito fechadas. Acho que esta entrevista abrirá os olhos de muita gente, quer do Governo, quer da sociedade civil. Repito que não fiz esta entrevista para fazer passar uma imagem
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Assume-se como uma jornalista comprometida com o rigor que a profissão exige. Hariana Verás, angolana residente nos Estados Unidos da América há mais de 20 anos, afirma, em exclusivo ao Jornal de Angola, que os homens devem apoiar as mulheres e reconhecer que juntos são mais fortes e capazes de construir uma sociedade equitativa e próspera. A jornalista fala da paixão pela profissão e da sua inspiração para promover as boas causas do Estado angolano, em particular, e de África, em geral.
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No discurso directo é fácil de ser compreendida. Sem rodeios, chama as coisas pelos nomes e cheia de lições para partilhar com as diferentes áreas e classes profissionais. Filomena Oliveira fala na entrevista que concedeu ao Jornal de Angola em Malanje sobre a Feira Agro-industrial, mas muito mais da necessidade de os organismos compreenderem que só interdependentes se chegará muito mais rápido aos objectivos.
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