O presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), Dom José Manuel Imbamba, reconheceu, sábado, no município de Caungula, província da Lunda-Norte, que ao longo dos 22 anos de paz e reconciliação nacional, o país conseguiu alavancar muita coisa, mediante à criação de boas infra-estruturas, tendo apontado a ausência da construção da mentalidade humana como o “elo mais fraco“ nesta importante caminhada para a construção integral da vida dos angolanos.
O arcebispo católico sublinhou que o desenvolvimento deve ser fruto de uma justiça social equitativa, que promova, essencialmente, o bem-estar e o progresso, visando o cresimento com incentivo ao mérito
Historiador Manuel da Costa “Canjungo” salientou figuras como Adriano dos Santos Júnior, António Jacinto do Amaral Martins, Augusto Lopes Teixeira, Gentil Ferreira da Silva Viana, Joaquim Pinto de Andrade, José Mendes de Carvalho “Hoji-ya-Henda” e Manuel Pedro Pacavira
O Cuanza-Norte é considerado um dos berços do nacionalismo angolano, por ser terra natal de muitas figuras que participaram na luta de resistência contra a ocupação colonial.
Em entrevista ao Jornal de Angola, o historiador Manuel da Costa "Canjungo” destacou várias figuras do nacionalismo angolano e filhos do Cuanza-Norte como Adriano dos Santos Júnior, António Jacinto do Amaral Martins, António de Assis Júnior, Augusto Lopes Teixeira e Gentil Ferreira da Silva Viana.
O historiador apontou, também, o padre Joaquim Pinto de Andrade, José Mendes de Carvalho "Hoji-ya-Henda”, Manuel Pedro Pacavira, Lopo Fortunato Ferreira do Nascimento, Cónego Manuel das Neves e Mário Pinto de Andrade.
O Cuanza-Norte veio de uma pequena parcela do Reino do Ndongo, que abarcava uma parte de Ambaca e dos Dembos. Em 1760, esteve integrado no distrito do Icologulungo e, em 1857, integrado no distrito administrativo do Golungo-Alto.
Adriano dos Santos Júnior
Segundo o historiador, Adriano dos Santos Júnior, ainda vivo, nasceu em Malanje, a 2 de Outubro de 1939, filho de Adriano dos Santos, preso em Ndalatando, em 1917, juntamente com António de Assis Júnior. É descendente de uma família nobre, onde se destacou também Domingos Cassiano Pereira dos Santos, o homem que punha o tribunal de Ndalatando em alvoroço, devido à defesa a favor dos negros. Adriano dos Santos Júnior ingressou na clandestinidade, tendo sido reconhecido, depois da Independência, com a medalha de Herói Nacional. Foi vice-ministro e posteriormente ministro do Comércio.
Cónego Manuel das Neves
O cónego Manuel das Neves nasceu em Kamuanze, no Golungo-Alto, a 25 de Janeiro de 1946. Foi sacerdote da Igreja Católica e como cónego da Igreja da Sé organizou e orientou a insurreição do 4 de Fevereiro de 1961.
Segundo
o historiador Manuel da Costa "Canjungo”, Manuel das Neves armazenava as
catanas dentro de uma caixa com uma flor em cima. Todos pensavam que eram
flores para o ofício da missa, enquanto lá estavam as catanas, que depois de
afiadas e sob orientação dos combatentes foram distribuídas na noite de 3 para
4 de Fevereiro de 1961. Foi preso pela PIDE a 22 de Março do mesmo ano, acusado
de ser o principal instigador da revolta do 4 de Fevereiro. De Luanda, o cónego
foi transferido para a prisão de Aljube (Portugal) e a partir de 18 de Agosto
de 1961 foi desterrado para o Seminário do Soutelo, em Braga. Aí morreu,
isolado, em 11 de Dezembro de 1966, aos 70 anos de idade. Os seus restos
mortais foram transladados para Angola em 1994, estando sepultado no Cemitério
do Alto das Cruzes, em Luanda.
Manuel Pedro Pacavira
O nacionalista Manuel Pedro Pacavira nasceu no Golungo-Alto, em 14 de Outubro de 1936 e morreu no dia 12 de Setembro de 2016. Licenciou-se em Ciências Sociais, em Havana. Durante o tempo que andou na cadeia como autodidacta teve orientação de Jaime Madalena Costa Carneiro e do escritor José Luandino Vieira. De Junho de 1960 a 5 de Maio de 1974, esteve preso, várias vezes, no campo do Missombo e na ilha do Tarrafal. Foi ministro da Agricultura, embaixador de Angola em Cuba, embaixador itinerante na Nicarágua, México e Guianas, representante de Angola nas Nações Unidas, governador da província do Cuanza-Norte, embaixador de Angola na Itália e foi deputado à Assembleia Nacional.
José Mendes de Carvalho "Hoji-ya-Henda”
José
Mendes de Carvalho "Hoji-ya-Henda” é uma figura incontornável na vida dos
jovens angolanos. Nasceu em Ndalatando, em 1941, num pequeno bairro por trás do
hospital provincial. Filho de Agostinho Mendes de Carvalho, enfermeiro natural
de Catete. Devido às dificuldades para continuar a seguir os estudos, foi viver
em Luanda, no bairro Operário, na casa da família de António Agostinho Neto.
Comandante da guerrilha, tombou em combate, a 14 de Abril de 1968, no assalto
ao quartel de Caripande.
António de Assis Júnior
António de Assis Júnior nasceu no Golungo-Alto, em 1887, e faleceu em Lisboa, em 1960. Advogado dos nativos, foi preso em Ndalatando, por defender os terrenos de Catome de Baixo, da família Pimenta. Em 1922 voltou a ser preso na Revolta de Catete, onde teve um grande protagonismo e acabou por ser deportado. Deixou três livros, o "Dicionário de Kimbundu”, o "Segredo da Morta” e os "Relatos dos Acontecimentos de Ndalatando e Lucala”.
António Jacinto do
Amaral Martins
António Jacinto do Amaral Martins, mais conhecido por António Jacinto, nasceu em 1924, no Golungo-Alto, e faleceu em 1991.
Foi poeta e contista da geração Mensagem e membro do Movimento dos Novos Intelectuais de Angola. Trabalhou em várias revistas, esteve preso entre 1960 e 1972, no Tarrafal, em Cabo Verde. Depois da Independência foi ministro da Educação e Cultura. Participou na fundação da União dos Escritores Angolanos, em 1975, e na vida política e cultural angolana.
Ganhou
vários prémios, nomeadamente o Noma, o Lotus, da Associação dos Escritores
Afro-Asiáticos, e o Prémio Nacional de Literatura. Em sua memória, o Estado
angolano, através do Instituto Nacional do Livro e do Disco, instituiu, em
1993, o Prémio Literário António Jacinto. É autor de livros de poesia como "Poemas”, 1961;
"Outra vez Vovô Bartolomeu”, 1979; "Sobreviver em Tarrafal de Santiago”, 1985.
Como contista, utilizou o pseudónimo Orlando Távora.
Gentil Ferreira Viana
Gentil
Ferreira da Silva Viana nasceu no Golungo-Alto, em 1926, faleceu em Portugal,
em 2008. Licenciado em Direito, fugiu de Portugal com Joaquim Chissano e o
escritor Pepetela, tendo iniciado um périplo que o levou a Paris, Acra(Ghana),
China, Argélia e posteriormente Brazzaville(República do Congo). Era um grande
amigo de Joaquim Pinto de Andrade, cujos pais foram co-fundadores da Liga
Nacional Africana.
Lopo Fortunato Ferreira do Nascimento
Embora não tenha nascido no Cuanza-Norte, Lopo Fortunato Ferreira do Nascimento assumiu-se como Golunguense, por ser descendente de uma família do lado materno, cuja mãe é natural do Golungo-Alto. Nasceu em Junho de 1940 e foi quadro superior da empresa Cuca no tempo colonial.
Foi
Primeiro-Ministro de Angola, em 1975, ministro do Planeamento, governador da
Huíla, tendo desenvolvido um árduo trabalho ao ponto de dar lugar a excedentes,
que não se conseguiam comercializar na altura. Foi secretário-geral adjunto da
Comissão Económica da Organização de Unidade Africana, ministro da Economia,
assistente especial do Presidente José
Eduardo dos Santos e deputado à Assembleia Nacional.
Augusto Lopes Teixeira "Tutu”
Outro
nacionalista que se destacou na luta de libertação nacional foi Augusto Lopes
Teixeira, que nasceu na fazenda Kuango, no Golungo-Alto. Depois da
Independência, foi ministro da Educação, entre 1980 e 1990 e ministro da
Indústria e ocupou outros cargos.
Joaquim Pinto de Andrade
Joaquim
Pinto de Andrade nasceu igualmente no Golungo-Alto, em 1926. Foi sacerdote, mas
abandonou a vida sacerdotal para se casar com Vitória de Almeida e Sousa, de
quem deixou dois filhos. Foi preso várias vezes, tendo sido solto, pela última
vez, em 1964.
Mário Pinto de Andrade
Por fim, exaltou a figura de Mário Pinto de Andrade, filho do Golungo-Alto, nascido a 21 de Agosto de 1928 e faleceu em Londres, em 1990. Estudou Filologia Clássica, em Portugal. Foi companheiro de Agostinho Neto, Amílcar Cabral e Francisco José Tenreiro. Manteve contactos com Nelson Mandela e outros. Publicou, pela primeira vez, a antologia de Poesia Negra de expressão portuguesa.
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