Nos tempos que correm, na abordagem sobre a importância da liberdade de imprensa na construção da democracia, é incontornável que se fale e se discuta sobre o papel e o impacto das redes sociais na facilitação do acesso à informação por parte do público. Do mesmo modo que com o surgimento da imprensa, entendida em sentido lato, assistimos a uma maior difusão de ideias, de cultura e de conhecimentos, com o aparecimento das redes sociais a divulgação de factos e acontecimentos ganhou outra dimensão.
Para uma melhor compreensão deste artigo de opinião, afigura-se forçoso um recuo histórico, ainda que telegráfico, à Guerra Civil chinesa, que decorreu entre 1927 e 1949, entre comunistas sob a liderança do Chairman Mao Tsé-Tung, que defendiam uma revolução socialista, o fortalecimento do poder dos trabalhadores e camponeses, contra os nacionalistas sob a liderança de Chiang Kai-Shek, que defendiam a ditadura burguesa do proprietário e capitalismo, onde os primeiros venceram a guerra e os segundos foram forçados a se refugiarem na ilha de Taiwan.
Quinta-feira. Estava à procura de mel, alho, limão e ginguba fresca no Mercado do Kawango, também bairro periférico da cidade do Luena, quando pequenos montes de peixe miúdo congelados despertaram a minha curiosidade, nas contínuas barracas à esquerda e à direita.
"Isso é peixe do rio?”, pergunto ao guia, ao ver mulheres num vai-e-vem, com pequenos cestos de peixe à cabeça.
Apesar do Kawango parecer enorme, estávamos a percorrê-lo num ápice, a passos largos, também porque o guia tinha o foco naquilo que se queria, pese embora as minhas traquinices para distraí-lo com conversa de passar tempo.
"Olha para esta menina tão linda... ainda não vi mulher feia desde que cheguei domingo ao Luena…”, disse-lhe.
Mas o homem parecia um robot de ferro e aço programado na origem, e nada comentou. Foi uma vendedora de outros produtos alimentares que se meteu na conversa e me respondeu:
"Eu sou feia”, disse ela.
"Feia, tu, assim grávida como estás?! És a mais bonita de todas…”, e era verdade! Linda até aos calcanhares. Olhando, calculei que a gravidez teria uns três meses, por aí.
Apesar do clima estar tão animado, o robot continuava sem falar, movendo-se a passos largos.
Era certamente o carácter dele, mas também poderia ter sido instruído nesse sentido pelo patrão, vendo-me como um "Mukwakwiza”, pessoa estranha. Foi então que dei conta que, para ele, eu poderia ser um dos chamados "Mukwakwiza”, estrangeiro, com quem os mais velhos nos aconselham a medir as palavras.
Já estava a desconfiar desde o primeiro dia, quando ele se mostrou extremamente pontual, uma característica que é rara entre angolanos. Estranhamente, mas não devia ser assim, o respeito pela pontualidade começa a ser insólito, entre nós. "Não ligues, é normal”, é o que mais se diz para se justificar tanta atitude errada.
Eu que o diga, se tiver tempo e espaço para relatar o que me trouxe até ao Moxico. Uns juraram estar num sítio às 17:00, mas na hora certa, disseram que só poderiam aparecer às 20:00! E desligaram-me todos os telefones, para lhes evitar o stress…
"Se o Tempo fosse um ser humano, já estaria morto”, disse eu, muito embaraçado, quando perdi perdão a anfitriões tão habituados à disciplina e ao rigor dos horários.
Mas, o meu guia, mostrava ser diferente, responsável e correcto. Negociou o preço de cada produto na sua língua Cokwe e pediu para eu pagar a ginguba, o alho, o mel e o limão, agradecendo:
"Twasakuila”, obrigado, disse ele respeitosamente, várias vezes.
"Edenokanawa”, de nada, vão bem, responderam as lindas quitandeiras.
"Quando falas a língua local, o preço é outro”, disse-me o robot, antes de engrenar a chave e fazer voar a viatura pela picada do mercado, até ao impecável asfalto do Luena. E, ainda teve tempo para criticar o mau comportamento dos peões, na estrada. "Esses, sentem-se importantes e não fogem dos carros na estrada. Você é que tem que se desviar deles”, explicou-me, ignorando que em Luanda é pior. Mas, como para ele eu era um "Mukwakwiza”, nada lhe disse.
Feitas as compras à metade do custo da cidade, regressamos ao Centro do Luena para a execução da seguinte tarefa do meu programa que foi tirar fotografias e fazer vídeos, para animar os meus grupos no WhatsApp e a conta no Tik-tok. "Já sei o que vou comentar no Tik-tok”, disse a mim mesmo, já que o proprietário do robot havia programado o software para ele não conversar comigo.
E, enquanto filmava, fazia "lives” virais: "Luena é uma cidade que merece ser filmada e exibida como modelo nas creches, escolas, faculdades de arquitectura e no mundo inteiro, como prémio para o seu desenho e beleza irresistíveis”.
"Dizem que Benguela é a terra das acácias, mas estou certo de que as pessoas do Luena preferiram não dizer nada. Ouvem e calam-se de espanto, quando o mérito é oferecido a outros. Luena tem estradas largas e espaçosas; estradas duas vezes maiores do que qualquer cidade de Angola. Aqui, os ramos das acácias abraçam-se e beijam-se no ar, de uma margem à outra, para dar sombra e frescura aos viajantes. E, no tempo em que elas florescerem, o espectâculo é maior, e também mais belo, segundo dizem os seus habitantes”.
"Nunca compreendi porque razão classificam Benguela como a Terra das Acácias”, surpreendeu-me o meu guia, rompendo o longo silêncio, para se imiscuir na minha "Live”, em directo...
Mas dei-lhe um troco imediato, que traduzido em palavras significou: "Não te metas nesta conversa porque não és chamado!”
Fiquei então uns segundos calado, puxei a brasa para a minha sardinha, e mudei de assunto:
"Qual é o significado de Moxico?”, perguntei.
"Moxico quer dizer cesto que transporta o peixe do rio…”, explicou ele, de forma obediente.
Curioso. Olhem para esta maravilhosa coincidência. Era precisamente o vai-e-vem das mulheres grávidas que mais despertou a minha curiosidade para os pequenos cestos de peixe que transportavam à cabeça, no Mercado do Kawango, aqui no Moxico.
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