Desporto

“Sou muito ambiciosa”

Honorato Silva

Jornalista

Para quem já teve a oportunidade de com ela privar, a descrição é de uma pessoa de trato fácil e muito pragmática, qualidades que pudemos conferir, quando ligámos a solicitar que concedesse uma entrevista à rubrica “Março Mulher”. Assim, ficámos a saber do seu sonho de ver os três filhos formados, bem como da sua ambição de subir na hierarquia, enquanto dirigente desportiva. Das memórias de infância, lembra-se das “estigas”, hoje “bulling”, ao passar pela rua, por ser uma menina alta e magra. Era tratada por “jompila”. Falamos de Nacissela Maurício, vice-presidente da Federação Angolana de Basquetebol (FAB), única basquetebolista do país, com três títulos africanos de selecções, conforme faz questão de destacar.

30/03/2024  Última atualização 12H05

Está ligada à geração dourada feminima nacional,  da bola ao cesto,  consagrada em 2011 e 2013, em Bamako (Mali) e Maputo (Moçambique), respectivamente, sob a batuta de Aníbal Moreira, com o título do Campeonato Africano das Nações. "De facto, os destaques foram as duas conquistas continentais. Mas, para mim, ter jogado o Pré-Olímpico, os Jogos Olímpicos (Londres’2012) e o Mundial, tiveram  grande impacto na minha vida desportiva. Culminou com a importância  para aquilo que foi a carreira”.

Começou a jogar basquetebol convidada por um professor da escola em que estudava,  1.º de Maio, de nome Alex Neto, na altura também treinador do Clube Têxtil de Luanda. Convidou muitas raparigas, e uma delas foi a menina troçada por onde passava, cuja entrega e dedicação tornaram-na referência do 1.º de Agosto e da Selecção Nacional.

"Os primeiros passos não foram fáceis, porque saí das aulas de Educação Física, para um clube que na altura era um "papa títulos” nos escalões de formação. Gostei tão logo comecei. Fazia dois treinos diários. Comecei a jogar com os rapazes na rua, muito cedo. Isso fez com que num horizonte muito curto, aprendesse a jogar. Nunca pensei em desistir. Sempre tive foco e certeza de que o caminho era evoluir o máximo que podia”, lembra, orgulhosa do percurso.

JOMPILA NA RUA PICO DE ÁGUA EM CASA

Dos primeiros treinadores, Alex Neto e Januário Francisco, guarda muito boas recordações, sobretudo a exigência que sempre tiveram, em relação à entrega aos treinos. A base consolidada permitiu brilhar nos seniores e, inclusive, ser contratada para jogar no exterior do país.

Sem ressentimentos, aliás, encara o episódio como uma faceta engraçada da sua história, Nacissela Maurício fala dos rótulos recebidos na infância: "De facto a sociedade não perdoa. Eu era muito magra e alta. Em quase todas as ruas por onde passava, ouvia as pessoas a comentar e a tratar-me por comprida, jompila. Em casa, chamavam-me pico de agua”.

BONS ENSINAMENTOS AO LADO DE MANU

Maria Barbosa é um nome incontornável do basquetebol angolano. Apesar da tendência de colocar-se o foco nas conquistas continentais, merece, da família da modalidade, as honras dadas a Jean Jacques da Conceição e José Carlos Guimarães. "Pude jogar com a Manu muitas vezes. Não só na Selecção Nacional, mas, também, em Portugal, no Esgueira, e no fim da carreira dela, em Angola, no 1.º de Agosto. Sinto-me afortunada, por ter bebido dos bons ensinamentos e da experiência que ela trazia”.

A receita para que os clubes e a Selecção voltem a brilhar em África é a aposta num investimento significativo nas infra-estruturas desportivas, defende a antiga atleta, sem descurar o desenvolvimento de talentos, desde a base, a formação de treinadores e a modernização das estratégias de gestão e planeamento desportivos. Considera fundamental a promoção de uma cultura de excelência, profissionalismo e ética desportiva, em todos os níveis das instituições, porque o apoio contínuo das autoridades desportivas, do próprio Governo e o "estabelecimento de parcerias com outras organizações” podem ajudar a impulsionar o sucesso a longo prazo.

FORÇA DA VOCAÇÃO

O dirigismo é consequência da vocação. Mas, não coloca limites nos horizontes. A liderança da Federação, ou mesmo do Comité Olímpico Angolano (COA), está longe de ser, para a vice-presidente, uma pretensão impossível de materializar. "Sou muito ambiciosa. Comecei a carreira no associativismo desportivo. Quem sabe, num futuro próximo?!”

A inserção da mulher no desporto tem evoluído positivamente, ao longo dos anos, de acordo com Nacissela, que destaca o aumento significativo de oportunidades e maior acolhimento. "No entanto, ainda existem desafios, como disparidades salariais e de visibilidade, que precisam de ser abordados, para garantir a igualdade de oportunidades”.

Por último, indica estratégias para que se possa conciliar o alto rendimento desportivo com a formação académica e profissional.

"1- Planeamento antecipado: desde cedo, os atletas devem considerar as suas opções académicas e profissionais futuras e desenvolverem um plano para alcançá-las. 2 - Flexibilidade nos estudos: optar por cursos flexíveis, como ensino à distância ou aulas nocturnas. 3- Apoio institucional: as instituições desportivas e educacionais podem oferecer o apoio financeiro, bolsas de estudo ou programas de tutoria. 4- "Networking”: construir uma rede de contactos, tanto no mundo do desporto quanto em outras áreas profissionais, pode ser valioso para facilitar a transição para uma carreira pós-desportiva”.

 perfil

Nome

Nacissela Maurício

Esposo

Mission Oliveira

 Pai

Inocêncio Maurício

 Mãe

Maria Oliveira

 

 Filhos

3

 

 Nível Académico

Ensino Superior

Ocupação Profissional

Vice-presidente Federação Angolana de Basquetebol

 Irmãos

6 de pai e mãe, muitos de pai

Títulos conquistados

1 Campeonato Africano das Nações de juniores

2 Campeonatos Africanos das Nações

de seniores

8 Campeonatos Nacionais

1 Taça dos Clubes

6 Taça de Angola

5 Supertaça

Única atleta angolana com 3 títulos continentais

 Roupa

Confortável e que fique bem

Comida

Bagre fumado, cachupa, rancho, grelhada mista, peixe garoupa e chopa. Adora uma boa comida

 Filme

 Acção

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