Opinião

A Animada Destruição da Baía Azul

Adriano Botelho de Vasconcelos*

Colaborador

Que ninguém tenha dúvidas, a Baía Azul, em Benguela, saiu do “Saco de Riquezas” que Deus usou para distribuir destinos e as riquezas que diferenciam todos os países. Nuns países, mesmo com os protestos dos anjos que os ajudavam, Deus não deixou nadinha de riquezas. Diante dos protestos, riu-se dentro de si próprio e balbuciou: “Esperem para ver!”

12/04/2024  Última atualização 06H15
A Baía Azul, joia caída desse saco, com o seu satélite "Praia dos Namorados”, isolada pelas montanhas de argila, é uma referência obrigatória e deve entrar em qualquer plano de revitalização do turismo. A vila é hoje castigada pelo sussurro de Deus, o único adivinho do universo: "Esperem para ver”. É a sina que devemos mudar com urgência.

Como chegarmos à Baía Azul? O maior fluxo de turistas parte de Luanda e dispersa-se em várias direcções por terra e ar. Por terra temos de repavimentar muitos kms de estradas esburacadas, as lombas criadas pelo desabamento da base do pavimento, a existência de curvas perigosas que contribuem para actual nível de acidentes assustadores. Dessa forma, evidenciamos que a melhor solução será a criação da primeira auto estrada com três vias em cada lado, obra que deve fazer parte dos grandes desideratos nacionais.

Por ar, o imbróglio é termos uma TAAG sem cultura de cumprimento das escalas de voo. Pode-se ter a reserva, mas até ao dia do embarque é muito comum a mudança inesperada do horário de partida de e para, um irritante que resulta do desleixo, de improdutividades e de desprezo pelos utentes. Será importante que a TAAG mude de cultura e não me parece que para isso teriam de fazer algo de exepcecional e caro, já que os pilotos deixam o senhor Deus orgulhoso por passearmos seguros pelas suas nuvens e em cima do seu mar, onde fez o milagre dos peixes para cuidar da fome do seu povo.

Os banhistas são maioritariamente jovens, cerca de noventa porcento. Infelizmente, têm uma relação de "amor” e "ódio”, pior por ter como base a "ignorância” das regras de cidadania. Essa acção nefasta, destrutiva dos espaços das praias, inclui o acto consciente e altivo de deixar milhares de latas, garrafas partidas escondidas na areia, fraldas de bebés, chinelos de plástico, pratos descartáveis e muitos outros dejetos que prendem o estômago de enjoo. A lista é longa. Por último, cito a ocupação indiscriminada de espaços para a prática de futebol, numa atitude egoísta de domínio da praia. A raiva desses jovens é ainda impulsionada pela maldade em destruírem as palmeiras à entrada da Vila.

A ausência gritante de serviços públicos de limpeza diária torna a praia uma lixeira a céu aberto, pois faltam recursos para que a governação local emprege jovens e mães que andam pela praia sem actividade, em busca de nada, crianças pedintes, uma imagem que poderá ser alterada se a estratégia incluir uma maior disponibilidade de recursos financeiros e de meios para que se concretize a alteração da paisagem desoladora. Esse investimento não deverá cingir-se apenas no reforço numérico da folha de salários, mas também na compra de tratores com esteiras de remoção de materiais indesejáveis e detritos, equipamentos específicos para as cidades que têm orlas marítimas.

O saneamento básico é de todo inadiável, deve ter o seu plano robusto e que impeça que os restaurantes lancem os dejetos de águas putrefactas para o mar. Um mapa de tubos e esgotos debaixo do solo seja atrelado a um plano de urbanização que deve ter como aspecto importante uma acção que impeça a destruição da praia, da natureza e que inclua a solução de urbanização da nova "mancha de musseques” que rodeia e apertam o coração da vila.

Face a esse fenómeno social, o olhar público não pode ficar indiferente já que essas famílias foram atraídas pelo novo impulso de construções de residências da classe média. Os mais carenciados vêm aí uma hipótese mais que certa de conseguir trabalho ou de abrir precários negócios que sirvam aos turistas internos: colocam bancas com caixas de cerveja, água gelada e cozinhados de frangos em caixas improvisadas expostas nas vias que dão acesso às praias. Como está hoje o musseque da Baía Azul, a visão das entidades públicas não poderá ser pela simples destruição de barracas e sem uma visão inclusiva potenciando futuros habitats sócio culturais e com arquitetura bonita de "barro” e de baixo custo.

A capacidade da administração da Baía Farta, em termos humanos, tem sido demonstrada através de uma administração de proximidade. Igual atitude têm os responsáveis da polícia, mas o que lhes falta e mais anseiam são os recursos e meios. Para a polícia, são necessários novos meios adequados, como urge terem três motorizadas de quatro rodas para que possam estar de vigia intensa na extensa praia, e, sempre que necessário, intervir de forma musculada para que impeçam os banhistas raivosos que apreciam o caos (A operação Stop da polícia, colocada à entrada da Vila, já confiscou aparelhagens de mil Watts de potência, facões, fogareiros...). Essa riqueza é tudo que Deus nos deixara e que quando olha do alto das estrelas, e em sua infinitude, certamente deve deixar cair lágrimas que nos têm cegado por dentro, lá onde vive o âmago.

Eu decidi: É na Baía Azul que vou envelhecer e filosofar alto contra as nossas próprias dúvidas, mas que os jovens raivosos de hoje se transformem em protectores, amigos e poetas dessa praia paradisíaca e os recursos locais possam contribuir na superação das necessidades essenciais sem as quais vamos destruir mais um habitat matando o seu encanto. O Anjo que refilou por tanta riqueza deixada na Baía Azul, sei que espera dizer a Deus: "Enganou-se, Senhor Deus. Viraram cuidadosos do que lhes deixara em muita fartura”.

           

            *Escritor

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