Em Angola, como em muitos países do mundo, o 1º de Maio é feriado nacional e costuma ser celebrado com marchas e comícios, em que se fazem discursos reivindicativos de direitos dos trabalhadores. Não é uma data qualquer.
Hoje, a nossa Nação e, particularmente, a comunidade jurídica assinala um ano da entrada em funções dos juízes de garantias, magistrado com dignidade constitucional que, entre nós, passou desde 2 de Maio de 2023 a ter a responsabilidade de salvaguardar os direitos individuais de qualquer pessoa alvo de investigação por um suposto acto criminal derivado da sua conduta.
A expressão que escolhi para o título da coluna de hoje é do Papa Francisco e refere-se aos efeitos do formato tecno-financeiro que cada vez mais o modo de produção capitalista vem assumindo. Trata-se do método ou estratégia correspondente ao projecto neoliberal em curso desde os anos 80 do século passado, quando Ronald Reagan era Presidente dos EUA e MargarethTatcher, Primeira-Ministra do Reino Unido, depois de uma experiência no Chile, que funcionou declaradamente como uma espécie de cobaia das teorias dos Chicago Boys.
Reagan e Tatcher, por seu turno, foram os capatazes dos verdadeiros do mundo, cada vez mais minoritários e movidos pelo delírio do lucro infinito.
Para quem estiver distraído, recordo os dados do relatório da Oxfam do ano transacto: um por cento mais rico do mundo ficou com dois terços de toda a riqueza gerada no mundo desde o início da década actual, isto é, esse um por cento concentrou seis vezes mais dinheiro do que 7 biliões de pessoas, correspondentes a 90% da população mundial. Só na última década, o mesmo grupo apropriou-se de metade de toda a riqueza criada no mundo. Em apenas três anos (2020-2023), os cinco maiores bilionários do mundo duplicaram a sua riqueza, ao passo que 5 biliões de pessoas, equivalentes a 60% da população global, tiveram de reduzir substancialmente os seus gastos nesse período.
O sociólogo brasileiro, Gerson Almeida, não tem dúvidas: - "O neoliberalismo deve ser compreendido como uma arma de guerra dos muitos ricos (1%) contra a sociedade”.
Não se entenda o presente texto como um suposto libelo contra o capitalismo e uma defesa da completa estatização da economia. Creio não errar se afirmar que ainda não foi descoberto e/ou comprovado um modelo de produção mais avançado do que o capitalismo, entendido como um modo de produção assente na iniciativa privada e no mercado. Depois do falhanço do "socialismo real”, até a China, que continua governada por um partido dito comunista, rendeu-se à economia de mercado e à propriedade privada (ao lado da estatal).
Porém, e como reza o dito popular, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. O que o neoliberalismo defende e, quando as sociedades o permitem, aplica é um modelo ultracapitalista e tendencialmente concentracionista, assente na falácia de que a iniciativa privada é a única fonte de criatividade e de riqueza e que o Estado é inevitavelmente incompetente e corrupto, constituindo, por isso, um obstáculo ao desenvolvimento.
A realidade confirma que isso não passa de uma falácia. Com efeito, a mesma está cheia de exemplos de proprietários privados incompetentes e corruptos. Porém, outra mudança em curso nas últimas quatro décadas é a crescente transformação dos meios de comunicação (os tradicionais e também as principais plataformas de redes sociais) em meros instrumentos do um por cento que concentra a renda mundial, o que impede a percepção dessa realidade pela maioria da sociedade. A agravá-lo, faz igualmente parte da estratégia neoliberal o esvaziamento de todas as matérias humanísticas e que estimulem o pensamento crítico nas escolas e universidades, em detrimento de uma patética defesa das novas tecnologias, como sinónimo bacoco de "modernidade”.
Assim, o que predomina, cada vez mais, é um discurso sectário e sem qualquer compromisso com os valores que fundaram a autêntica modernidade. O desmantelamento do Estado social é o sinal definitivo do desprezo da minoria que controla a riqueza mundial por esses valores. Outros são a precarização do trabalho, a supressão dos direitos sociais dos trabalhadores e a fragmentação contínua das classes e outros grupos sociais. As massas uberizadas acreditam que, por uma espécie de milagre divino, se podem transformar em "empreendedores individuais”, mesmo que seja apenas, em alguns casos, abanando o rabo no TikTok, esperando ser devidamente "monetarizados”.
O Papa Francisco recorda-nos: - "Os direitos humanos não são violados somente pelo terrorismo, a repressão ou os assassinatos são-no também por estruturas económicas injustas, que criam desigualdades enormes”. Mas poucos o escutam.
* Jornalista e escritor
Seja o primeiro a comentar esta notícia!
Faça login para introduzir o seu comentário.
LoginTrinta e dois anos depois do estabelecimento das relações diplomáticas, Angola e Coreia do Sul voltam, como que a ser desafiadas não apenas a dar prova da excelência dos laços, por via do reforço das ligações já existentes, mas também a descobrir novas áreas de interesse comum.
Assinalou-se esta semana os cinquenta anos do 25 de Abril e também do início do processo de descolonização das chamadas colónias portuguesas em África. Passados cinquenta anos, dificilmente poderíamos imaginar que chegássemos ao nível de glorificação do Colonialismo e elogio da civilização colonial português a que se assiste no espaço público angolano.
Os desafios do mundo hodierno têm exigido das Organizações a adopção de uma filosofia de trabalho de excelência e comprometimento, baseada no cumprimento escrupuloso da lei e na inclusão de princípios éticos, bem como de responsabilidade social nos seus planos estratégicos para a satisfação dos interesses do público no contexto social.
A vandalização de bens públicos tomou contornos alarmantes. Quase todas as semanas, são reportados casos do género.Bens ou infra-estruturas que consumiram avultadas somas em dinheiro para serem construídos, são destruídos, quer para a busca fácil de dinheiro, quer por pura maldade. Os sectores da Energia e Águas, Transportes, Telecomunicações, Saúde e Educação têm sido os principais alvos.
Angola e a Organização das Nações Unidas (ONU) lançaram, esta terça-feira, em Luanda, o projecto Diálogo Nacional sobre o Financiamento para o Clima, sob o lema “Promovendo Investimentos Sustentáveis em Angola”.
O Serviço de Protecção Civil e Bombeiros (SPCB) do município de Dala, província da Lunda Sul, realizaram segunda-feira (29), uma campanha de sensibilização aos banhistas que frequentam o rio Tchiwumbue.
A multinacional Huawei e Academia do Empreendedor de Luanda, assinaram, esta terça-feira, um memorando de entendimento no âmbito da formalização da parceria estratégica entre as duas instituições.