Opinião

A (in)segurança das grades nos centros urbanos

Geraldo Quiala

Jornalista Multimédia

Longe da estética e arte de adornar janelas, portas, varandas e onde mais se desejar, ao gosto de cada habitante, sobretudo, nos grandes centros populacionais, a colocação de grades (gradeamento, popularmente) tornou-se obrigatória, mais por questões de segurança que outras.

27/02/2024  Última atualização 08H04

A (in)segurança das grades baixa a perigosidade, mas não impede, infelizmente, as "visitas” indesejadas, a qualquer momento, dos delinquentes e especialistas em desgraçar a vida alheia, tirando o sossego e a tranquilidade necessários aos que honestamente buscam o sustento para o bem-estar da família.

O índice de criminalidade, embora não seja especialista na matéria, e os entendidos possam explicar melhor este fenómeno, tem registado aumento, pois, só assim se percebe que, pelo menos, até aos meados dos anos 80 do século passado, os muros e as janelas nos principais centros urbanos ainda eram intactos, baixos e sem grades.

Hoje, é praticamente impensável um cidadão dar-se ao prazer de viver sem este "protector”, que, aos poucos, também perde espaço ante o aperfeiçoar de técnicas de assalto às residências, através do uso de pé-de-cabra e, inclusive, alicates para cortar os ferros.

Há relatos diários de violação de espaços interiores, cujos furtos caminham para a normalidade, numa acção que ganha contornos preocupantes, sobretudo, nas chamadas "centralidades”, onde cada jornada é um desafio a resistir aos assaltos diurnos e nocturnos.

Estas cidades perderam, diga-se, algum encanto inicial e ilusório de serem seguras. Mesmo com grades, quase ninguém escapa das "visitas” indesejadas. E o que seria dos habitantes sem os gradeamentos?

O medo e a insegurança não podem tomar conta dos cidadãos. A colocação das grades dá a sensação de segurança. Na infância e adolescência de muitos, o gradeamento era montado para proteger, sobretudo, menores, sob o risco de quedas nos edifícios.

Uma das vantagens é poder ficar com a porta ou janela abertas, sem medo, devido à dificuldade que outrem teria para invadir a casa. Hoje, este privilégio é de poucos. Vítimas de furtos e roubos, cujas estórias circulam livremente nos diversos grupos em redes sociais, contam que é necessário se reinventar até na estrutura e modelos de grades.

A saída agora é o aço ou o ferro grosso, em formato axadrezado ou rectangular. Como outra sugestão, os "visitados” indicam o reforço de grades: uma externa e outra interna. A desvantagem é que, além de custos maiores, tira a estética das janelas e das portas. Em situação emergencial, como incêndio, pode ser fatal, já que inviabiliza a fuga. No meio desta "briga”, a solução tem sido abdicar da beleza e adoptar a segurança.

Um breve recuo no tempo mostra que as grades para janelas, normalmente, eram feitas de aço trabalhado ou outro tipo de metal pesado, como alumínio ou ferro, e, apesar de a função principal ser a de proteger era, também, um importante elemento decorativo em casa. Na Baixa da cidade de Luanda, ainda, são visíveis alguns modelos diferentes, trabalhados, rebuscados e até com cores ajustadas para dar um efeito estético convidativo, demonstrando que é possível apreciar o belo sob os gradeamentos.

Um exemplo disto é a preservação das grades no edifício da Edições Novembro, proprietária do Jornal de Angola e outros títulos. Ainda rústicas, mas com ar sofisticado, permitem um toque diferenciado aos rudes gradeamentos instalados nas zonas residenciais, impossibilitadas de proporcionar uma intimidade entre o belo e o seguro.

Duvida-se que tenha sono e sonho tranquilos quem, distraidamente, pensar em levar este descuido aos "Kilambas” da vida, sob pena de acordar despido de qualquer bem material, a julgar pela capacidade dos "homens-aranhas” que, diariamente, desafiam as leis da gravidade nas novas e velhas cidades.

As "tendências & conexões” da modernidade, o avanço da tecnologia, o crescimento populacional, trouxeram consigo, ainda assim, grandes vantagens para as pessoas, sem descurar as desvantagens.

Devido à crescente violência torna-se normal procurar, sempre, por uma forma de protecção, seja onde for. Dentro de casa, uma das maneiras é a colocação do gradeamento nas portas e janelas. Este acto pode dificultar as acções dos mal-intencionados.

As grades de protecção surgiram, ao longo do tempo, como uma medida de segurança que pode ser utilizada de várias maneiras em residências ou edifícios institucionais, daí que sejam considerados investimentos, porque, uma vez colocados na porta, janela, varanda, muro ou nas sacadas, especialmente, quando há crianças, idosos e animais de estimação, sempre ajudam a melhorar o sentimento de bem-estar e a tranquilidade.

De uma forma geral, todo o espaço aberto de um imóvel pode ser protegido, valorizado ou bem aproveitado com o uso de gradeamento, até porque estes elementos metálicos participam da composição da arquitectura das edificações e valorizam a paisagem urbana, embora no caso concreto seja pelas piores razões.

As observações feitas aqui não retiram o objectivo principal das grades de protecção, pois o próprio nome indica que servem para deixar o imóvel mais seguro e protegido, além de dificultar o acesso de pessoas estranhas ao ambiente, evitam, também, que as crianças, animais e idosos fiquem expostos e susceptíveis às inseguranças externas, sem se esquecer do valor estético no reforço da beleza da fachada. São utilizadas em imóveis residenciais e comerciais para conferirem mais segurança, bem como deixarem a fachada com um design mais bonito e moderno.

Estes artefactos surgiram associados a uma burguesia rica que convertia as fachadas das casas num símbolo de riqueza e poder. Hoje, mudaram as tendências e tornaram-se em peças fundamentais para a tranquilidade, por mínima que seja, de qualquer cidadão que se quer proteger de invasões domiciliares.

Aliás, fenómeno similar está a ocorrer no país com os veículos automóveis, que tendem a ser adaptados, com grampos nos STOP, placas, retrovisores, elevadores e outros objectos desejados pela máfia criminosa destas peças. Mas, sobre isto, espaço haverá para outras "tendências & conexões”.


 
*Jornalista multimédia

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