Opinião

Anúncio surpresa entre Havana e Seul

Geraldo Quiala

Jornalista Multimédia

Esta semana, o mundo acordou com uma notícia surpreendente no campo da diplomacia internacional, por conta do estabelecimento de relações entre a Coreia e Cuba. Mais adiante perceber-se-á a razão da surpresa na semana colorida pelo 14 de Fevereiro, o famoso Dia dos Namorados, mas que não se deixou de observar o inédito “casamento” entre Seul e Havana.

17/02/2024  Última atualização 07H05
Na última quarta-feira, o The Korea Herald trouxe à ribalta a "revelação” amorosa entre os dois Estados. A título de exemplo, até então, a Coreia tinha duas nações com as quais não observava relações diplomáticas: Cuba e Síria. Com a "conexão” da Ilha das Caraíbas, só falta a Síria.

Assim, Cuba tornou-se no 193º país com o qual a Coreia uniu laços diplomáticos, 65 anos depois que a terra de Fidel Castro cortou as relações bilaterais com Seul, assinalado com a chegada ao poder do então estadista na Revolução de 1959.

Os dois países anunciaram, oficialmente, na noite de quarta-feira, que haviam forjado relações diplomáticas, cumprindo a aspiração de décadas de Seul de se envolver com Cuba, numa altura em que Seul acredita que o movimento desferiu um golpe à vizinha do Norte.

A imprensa revelou, após a "surpresa”, que as negociações entre Coreia e Cuba foram conduzidas clandestinamente, particularmente, por respeitar as relações de longa data dos cubanos com a Coreia do Norte, cuja reacção, ainda, não se fez sentir, embora os especialistas afirmem que o "anúncio é um golpe para Pyongyang”.

Para os analistas da Península coreana, isto significa o culminar dos compromissos diplomáticos com países socialistas, incluindo os do ex-Bloco Oriental que foram amigáveis com o Norte. Por isso, o passo de quarta-feira pode servir como uma ilustração da "tendência” predominante na História e indica as vantagens diplomáticas, pois não se trata de uma questão simples, mas sim um objectivo de longa data e desafio para a Coreia, até porque, como reconheceu o The Korea Herald, o "relacionamento extensivo e duradouro de Cuba com a Coreia do Norte representou o maior obstáculo”.

Segundo dados divulgados pela imprensa internacional, a Coreia do Norte e Cuba assinaram um tratado de amizade e cooperação por ocasião da visita do então líder cubano Fidel Castro a Pyongyang em 1986. No preâmbulo do tratado, houve uma passagem que reflectia uma "relação de solidariedade fraterna". Ambos estabeleceram laços diplomáticos em 1960, apenas um ano após a revolução de Fidel Castro.

Desde então, os dois países mantiveram intercâmbios estreitos por décadas, particularmente durante a Guerra Fria, com base em ideologias anti-ocidentais e socialistas. Em contrapartida, Seul e Havana abstinham-se de entrar em contacto um com o outro no cenário internacional depois que Fidel Castro derrubou o regime de Fulgêncio Baptista e liderou a Revolução Socialista em 1959.

Sob o Governo de Castro, Cuba alinhou-se com a ex-União Soviética (hoje Rússia), tornando-se um Estado comunista e um ponto focal das tensões da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a URSS, incluindo a Crise dos Mísseis de Cuba em 1962. Mas, numa surpreendente reviravolta, representantes sul-coreanos e cubanos trocaram notas diplomáticas, na quarta-feira, em Nova Iorque, estabelecendo, oficialmente, relações diplomáticas e consulares.

O Ministério das Relações Exteriores da Coreia escreveu, a propósito, um comunicado, onde se pode ler: "O estabelecimento de relações diplomáticas com Cuba, o único país não diplomático na América Latina e Caraíbas, marca um ponto de virada significativo no aumento da diplomacia da Coreia do Sul na região".

Aliás, as autoridades esperam, com esta conexão, contribuir para expandir o horizonte diplomático como um Estado central global. Cuba abriga Embaixadas de mais de 100 nações. Esta iniciativa de aproximação começou na Administração Kim Dae-Jung, em 2000, e os esforços foram renovados sob o Governo Yoon Suk Yeol.

Várias fontes diplomáticas, citadas pelo The Korea Herald, explicaram o imperativo de ambos os países estabelecerem laços, sobretudo, à luz do aumento das trocas culturais, económicas e interpessoais entre os dois Estados. Antes da Covid-19, cerca de 14 mil sul-coreanos visitaram Cuba. Além disso, cerca de 1.100 descendentes de imigrantes coreanos que migraram para o México em 1921 residem hoje em Cuba.

Por outro lado, desde que a Agência de Promoção de Investimentos Comerciais da Coreia abriu filial em Havana, em 2005, tem havido um progresso no comércio bilateral. Em 2022, as exportações para Cuba totalizaram USD 14 milhões e as importações de Cuba chegaram a USD sete milhões.

No comunicado, o Ministério das Relações Exteriores disse, na quarta-feira, que o estabelecimento de relações diplomáticas deve "contribuir para a expansão da cooperação substantiva entre os dois países, criando estruturas institucionais para melhorar a cooperação económica e apoiar a entrada das empresas coreanas no mercado cubano".

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