Opinião

Apostas desportivas “tomam de assalto” Caxito

Guimarães Silva | Bengo

Nos últimos meses, Caxito está sob assalto de gurus das apostas múltiplas desportivas. A cidade do jacaré bangão ainda assim continua pacata e pincelada com o verde que a natureza legou, como símbolo de esperança, a indicar que para a frente é o caminho.

03/03/2024  Última atualização 09H54

Num ápice, um pouco pela capital do Bengo, máquinas manuseadas por jovens talentosos, tornaram-se nos novos compagnons de route dos apostadores. Como em tudo na vida, têm sempre um isco, o histórico, contado de boca em boca, de uns poucos kotas aqui do burgo, que bafejados pela sorte, conseguiram recentemente milhões da caixa mágica.

O destino e sorte de uns poucos, de tão contagiante quando contados os pormenores de tentativas e ganhos arrastam muitos para a fila das apostas. Assim, as pequenas máquinas, que afinal estão sob alçada do Instituto de Supervisão de Jogos, são fiéis depositárias de valores e de esperanças por dias melhores.

As máquinas que imprimem emparceiramentos de clubes e campeonatos relacionados com o futebol e outras variantes desportivas, provocam ansiedade e entrega dos apostadores, que cedo, lá pelas  oito horas da manhã, "põem pés a caminho” para tentar o  lelo kizua (hoje é dia); esperança moribunda, já que a cor do dinheiro teima em ser conhecida. Apenas poucos têm a sorte para tanto. Contudo, o garante de que Deus, qualquer dia vai abrir os cordões à bolsa mora no âmago de cada um que se dirige às apostas.

As apostas têm igualmente o condão de emprestar alguma intelectualidade desportiva. Hoje, os assíduos têm conhecimento de nomes de campeonatos de futebol espalhados pelo mundo. Clubes idem. Nomes como Nothingham Forest, Brighton da Inglaterra, Schalke 04 e Borussia de Mönchengladbach da Alemanha e outros, muitos, cuja pronúncia eescrita fazem morder a língua, estão já no léxico dos apostadores, ultrapassando o catequismo interno que inscreve Petro, Inter, D’Agosto, Kabuscorp como eleitos de claques; mais os Benfica, Porto, Sporting’s de Lisboa e de Braga na mukueba, que ocupavam espaço prioritário de adeptos ferrenhos antes.

Um kota que ainda sonha com milhões e milhões via prognóstico de futebol jogado com pés alheios, afirmou alto e bom som em Caxito, que o negócio das apostas é já um sub-emprego. "Estou no salo e penso naquilo. Se não consigo uma escapadela para registar as minhas fichas, peço ao colega que o façam por mim. Afinal, são milhões em jogo. Ninguém fica satisfeito com trocos”, admitiu, esclarecendo que"quando falho de  preencher uma ficha, estou distante do ordenado da máquina. Não sou um viciado. Sou apenas alguém que acredita no dia da sorte”.

Nisto de apostas há alguma solidariedade e meias verdades. Emprestar palpite só mesmo ao irmão, primo ou amigo do peito. Aoutros nem pensar. Quem vai ao jogo em Caxito parte confiante que só resultados imprevistos (nem sempre os bons são sinónimos de alegria), fora dos prognósticos impedem que a ficha entre e os milhões cantem. Neste tempo das TIC’s e Internet por tudo quanto é canto, os apostadores acompanham as diferentes jornadas dos campeonatos via electrónica. Quem vai ganhar tem a informação na hora, confirma a fichae mantém o bico calado, não vá o diabo tecê-las.

O vencedor deve manter a calma mesmo. A instituição que recebe os milhões das fichas e distribui outros tantos a quem ganha, tem o beneplácito da confidencialidade em relação aos nomes dos vencedores para evitar assaltos e outros imprevistos.

Ir as apostas cabe a homens, mulheres, adultos. Só uns poucos de confissão religiosa de linha dura, que sustentam que o dinheiro do jogo é obra do diabo afastam-se daquela direcção. Há quem já juntou família para a grande batalha da sorte, com a justificativa de que alguém entre os seus tenha sido moldado para a conquista do ouro. "Se não for a Joana será a Catarina. Elas rezam muito. O Joaquim já cometeu erros, engravidou cedo. O Palacito não faz a barba há muito. Para além disto é meio desmazelado. Segundo dizem, a sorte que protege os audazes privilegia a boa aparência, por isso não contamos muito com ele, mas nisto de jogos às vezes o lado fraco reage ao contrário. Quem sabe?” 

Tonton Tonas, meu grande avilo das carnes fumadas de paka regadas com maruvo na praça do Sassa,não acredita na denominação jogos de azar. Adianta que "o jogo das apostas múltiplas é limpo. O kumbu fica mesmo connosco. Só na batota ou no casino há coisas do arco-da-velha, com o jabá a desaparecer para os bolsos de um guru na Índia. Por cá é mesmo nosso, para gastar”.

O futebol é um jogo ilógico. Tácticas, esquemas de jogo, estratégias, valem pouco, porque o oponente tem-nas igualmente. O exercício de pontapés na bola encerra sorte para uns, alguma ousadia, oportunidade, frieza na hora H e azar para os do outro lado da linha da bola. Tudo reunido faz as delícias dos apostadores. Quando o resultado vem à tona e não somos contemplados, dá vontade de recuar todos os relógios do mundo e acertar o tempo a nosso favor, para o melhor prognóstico. Esta hipótese é por demais inválida num planeta, que gira 24 sob 24 horas ao dia. Contudo, prognósticos são prognósticos. A sorte pode deixar de ser madrasta e bater a porta.

Os apostadores de Caxito, que cumprem com o ritual diário, já deram conta que isto de probabilidades tem um certo senão, a maioria dos apostadores, melhor, todos têm pouquíssimas hipóteses de vencer os milhões. Daí que gastam dinheiro para oinexacto, numa clara desfeita às matemáticas e físicas, que assentam em bons teoremas, que as classificam como ciências exactas.

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