Em diferentes ocasiões, vimos como o mercado angolano reage em sentido contrário às hipóteses académicas, avançadas como argumentos para justificar a tomada de certas medidas no âmbito da reestruturação da economia ou do agravamento da carga fiscal.
O conceito de Responsabilidade Social teve grande visibilidade desde os anos 2000, e tornou-se mais frequente depois dos avanços dos conceitos de desenvolvimento sustentável. Portanto, empresas socialmente responsáveis nascem do conceito de sustentabilidade económica e responsabilidade social, e obrigam-se ao cumprimento de normas locais onde estão inseridas, obrigações que impactam nas suas operações, sejam de carácter legal e fiscal, sem descurar as preocupações ambientais, implementação de boas práticas de Compliance e Governação Corporativa.
Até prova em contrário, continuarei a tratar a Selecção Nacional de “Os” Palancas Negras e não “As”..Que me desculpem os linguistas.
Se dúvidas ainda existissem sobre a incomensurabilidade do valor social do futebol, foram totalmente dissipadas pela expontânea e patriótica mobilização da sociedade angolana em torno do jogo que os Palancas Negras realizaram com a Nigéria, para os quartos-de final do CAN que decorre na Cotê D’Ivoir.
Foi sublime. De arrepiar. Parecia o único momento em que, nos últimos anos, os angolanos uniam-se em torno do mesmo propósito e recitando, em uníssono, a velha mas sempre actual e com eterna serventia, palavra de ordem "De Cabinda ao Cunene um Só Povo e uma Só Nação”.
Abro parêntesis para partilhar o episódio que presenciei poucas horas antes do início do jogo. Foi demais para o meu visual, como dizia um exímio relator desportivo nacional, famoso pela singularidade da sua performance, que tornou-se modelo para alguns relatores da nova geração e, diga-se de passagem, imitado mas não igualado.
Foi em pleno coração de cidade, numa hora que ainda registava um frenético movimento de viaturas que "entupiam” as vias, num claro anúncio da preocupação dos seus ocupantes chegarem, o mais cedo quanto possível, às casas e outros destinos escolhidos para assitirem ao jogo, que uma zungueira apressou-se a arrumar as "imbambas”, com o mesmo objectivo.
Claro que, com as devidas excepções, é lugar comum dizer que, no universo feminino, poucas são as mulheres perdidas pelo futebol. Contudo, imaginar uma zungueira, cuja preocupação maior prende-se com a necessidade de vender e conseguir os mínimos/máximos possíveis para alimentar a prole, abdicar do período final do dia considerado bom para as vendas da última esperança, não é normal e, por isso, afigura-se um exercício digno de registo e narração.
-Não podem mi contar. Tó ir mesmo ver com os mós próprios olhos que o salalé vai lhes comé-, disse a zungueira cujo português sofrível contrasta com os contornos da estrutura corporal capaz de espantar qualquer executivo e, quiça, provocar convites de soslaios para a disputa de alguns amistosos libidinosos.
Com assustadora pressa, a zungueira ajeitou as frutas na banheira, colocando-a à cabeça e, com voz de mando, tal comandante da extinta FAPLA, em parada, ordenou:
-"Paizinho, dá a mão e vamos andar rápido. Olha o "otocarro" que vai na "retunda".
Passos largos e apressados levaram a vendedeira de rua a desaparecer do horizonte, em fracções mínimas de tempo.
Atordoado, pensei e falei com os meus botões:”Afinal o futebol tem mesmo força de rei”. Infelizmente, e não necessáriamente para a insatisfação da zungueira, os Palancas Negras não conseguiram o apuramento inédito às meias finais. Mas, fica o registo, digno deste relato que, no outro lado, visa fazer uma colação nos seguintes moldes:
Na ressaca da campanha dos Palancas Negras, impõe, o meu consciente, uma abordagem em torno da possibilidade dos angolanos aproveitarem o embalo da motivação promovida pela equipa nacional, no sentido de empreender outras tantas acções em prol do melhor para a Nação, com o mesmo espírito de resiliência, tenacidade, determinação, empenho e, acima de tudo, patriotismo, como os demostrados pelos bravos rapazes.
Compreendí que o futebol deu-nos uma boa lição com a conclusão de ser possível, afinal, resgatar o verdadeiro sentido de cidadania e patriotismo que anda adormecido no íntimo de cada angolano que por sinal, unidos pelo futebol, podem fazê-lo em outras boas causas nacionais, sem destacaram as paixões partidárias, religiosas, culturais ou outras consideradas promotoras de desentiligências.
Numa altura em que paira no ar um quase generalizado sentido de abstinência para com a pátria, associado ao prazer das críticas por tudo e por nada, devemos aproveitar o exemplo dos Palancas Negras como experiência que sirva para reposicionar Angola no patamar de um sítio bom para se viver, e resgatar o estatuto de especial que o seu povo ostentou no tempo da outra senhora.
Podemos voltar a estar sempre a subir, não só capítulo desportivo mas também no social, político, cultural, enfim, em todas as facetas da vida, possibilidade que remete-nos para o exercício de exploração das valências de todos, embuídos do espírito de que, todos juntos somos poucos para a grande empreitada de construção do país, como uma Nação moderna.
À Federação Angolana de Futebol fica o recado: Urge explorar, ao máximo, o capital oferecido pelo bom desepenho dos Palancas Negras e fazer dele um activo permanente, baseado na implementação de um programa de continuidade que visa manter a base e prosseguir no trilho da evolução competitiva.
Imperioso é, igualmente, aprimorar o diálogo, deixar fluir o espírito de união que em tudo vence as tentativas de divisão, que apenas servem para a promoção de fracassos, contrariamente ao sucesso que se augura em toda a plenitude da vida do heróico povo angolano.
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